Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 22 de setembro de 2007

Rogue – O Assassino

Apesar de seu roteiro ser um apanhado de clichês, "Rogue - O Assassino" consegue ser um divertimento razoável aos fãs de filmes de ação graças ao carisma de seus astros e ao bom trabalho realizado pela equipe técnica nas seqüências mais perigosas.

"Rogue – O Assassino" é o típico filme-testosterona, com todos os pré-requisitos básicos desse subgênero dos filmes de ação, contando com cenas de ação explosivas, edição videoclíptica – que deveria contar com um aviso de ser prejudicial aos que sofrem de epilepsia -, mulheres lindas com seios a mostra, heróis machões quase indestrutíveis, capangas descartáveis e um roteiro ralíssimo. O pacote todo calha de ser extremamente divertido para os apreciadores desse tipo de fita, os quais eu me incluo, mas irá entediar qualquer um que esteja a procura de uma película mais complexa. O longa ainda conta com dois dos maiores expoentes dessa atual geração de astros da pancadaria hollywoodiana, o britânico Jason Statham e o chinês Jet Li, repetindo a dobradinha feita em "O Confronto", filme estrelado por Li em 2001, onde Statham era apenas um coadjuvante. Agora, em pé de igualdade, eles se envolvem em uma verdadeira batalha campal no meio de uma metrópole americana.

O filme começa com um diálogo aparentemente banal entre dois agentes do FBI, John Crawford (Statham) e Tom Lone (Terry Chen), quando nos é mostrado que eles estão no meio de uma perigosa operação que envolve uma guerra entre facções da Yakuza japonesa e a Tríade chinesa. Um assassino do grupo nipônico, conhecido como Rogue, aparece e é baleado por Tom, e os agentes crêem ter visto o fim do matador, cuja fama indica que já trabalhou para o governo americano e mudou várias vezes sua aparência. Dias depois, Crawford e sua família estão indo encontrar Tom em sua casa para assistir a um jogo, quando se deparam com a casa deste incendiada e três corpos, o de Lone, sua mulher e filha, mortos em uma execução. A partir daí, o agente vivido por Statham começa uma caçada contra o assassino de seu amigo. Três anos depois, Rogue (Jet Li), após mais uma cirurgia para alterar sua aparência, parece ter virado a casaca, trabalhando agora para os chineses, liderados por Chang (John Lone), que encontra no assassino uma oportunidade de vingar-se de uma traição cometida pelo clã de seu rival japonês, Shiro (Ryo Ishibashi). A partir daí, a cidade de São Francisco vira palco de uma guerra aberta entre as duas máfias asiáticas, que parecem estar sendo manipuladas por Rogue, enquanto Crawford tenta acabar a farra de todos os criminosos envolvidos. Porém, no meio dessa batalha, nem tudo é o que parece ser.

A maior questão do longa é a falta de originalidade. A maioria das situações que ocorrem no roteiro – escrito pelos novatos Lee Anthony Smith e Gregory J. Bradley – são extremamente recorrentes em filmes de ação, incluindo a grande reviravolta que ocorre no início do último ato da película. Apesar disso, a curta duração do filme e a inserção com precisão cirúrgica de suas cenas de ação nos momentos certos impedem que o público reflita muito sobre o que está vendo na tela. Outra grande arma da produção é o carisma de seus astros. Jason Statham e Jet Li são donos absolutos do filme, com cada um tendo momentos de destaque durante a projeção, além de que, em suas cenas juntos, os dois realmente demonstram uma boa química, graças à "presença" que ambos possuem. Já os demais atores apenas fazem uma figuração de luxo. Statham, que já tinha mostrado que sabe como protagonizar fitas desta estirpe com o insano "Adrenalina", novamente mostra uma boa interpretação, embora suas habilidades físicas sejam bem menos exploradas aqui. Enquanto isso, Jet Li convence como o enigmático e soturno assassino Rogue. Suas cenas de ação, embora comecem de maneira um pouco tardia no filme, realmente empolgam.

Falar sobre o restante do elenco é um tanto quanto complicado, já que eles realmente não tiveram muito que fazer em cena. John Lone e Ryo Ishibashi vivem os típicos mafiosos orientais, sem jamais fugir dos diálogos-clichê sobre honra, lealdade e afins. O primeiro, no entanto, leva alguma vantagem, já que seu personagem, Chang, é um homem de família que, apesar de seus violentos atos, se mostra preocupado com sua mulher e filha, enquanto sua contraparte japonesa se mostra um homem frio e distante, que coloca sua filha na linha de frente, como sua provável sucessora. A garota, interpretada por Devon Aoki, jamais desperta qualquer interesse por parte de audiência, até mesmo porque Aoki simplesmente repete seus maneirismos de "D.O.A. – Vivo ou Morto", sem mostrar nem metade do carisma visto quando viveu a letal Miho em "Sin City – A Cidade do Pecado". Luis Guzmán é conhecido por suas participações, mesmo que curtas nos filmes de Paul Thomas Anderson, como "Magnólia" e "Embriagado de Amor", e faz uma curtíssima ponta como Benny, um agente do FBI infiltrado no submundo.

Dirigindo seu primeiro longa-metragem, Phillip G. Atwell se sai bem, embora suas raízes de clipes de rap americano se sobressaiam demais às vezes, com freqüentes, curtas e inexplicáveis seqüências em câmera lenta que realmente não ficaram nada bem na tela. Apesar desse pecadilho, Atwell consegue conduzir bem o fiapo de história provido pelo roteiro, mantendo o público sempre interessado no desenrolar do filme, principalmente para ver as boas seqüências de ação que ele conseguiu comandar que, apesarem de não serem exatamente memoráveis, divertem. Para que estas conseguissem entreter o público, o cineasta teve a ajuda do editor, Scott Richter, que jamais deixa o ritmo do filme cair, sem falar na fotografia de Pierre Morel, que consegue dar um clima adequado às cenas noturnas, embora exagere um pouco na seqüencia que se passa em uma boate, no começo da fita. Já a trilha sonora do longa, feita por Brian Tyler, apesar de nada marcante, não compromete a diversão.

Se dependesse de seu roteiro, "Rogue – O Assassino" seria apenas mais um filme genérico de ação, que poderia muito bem ser lançado direto para vídeo. Entretanto, graças à participação e ao carisma de Statham e Li, a película acaba sendo um bom entretenimento para os fãs da boa pancadaria.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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