Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 08 de novembro de 2007

Planeta Terror

Robert Rodriguez realiza um filme revoltante e nojento, impossível de ser levado a sério e que, justamente por isso, se torna extremamente divertido.

Robert Rodriguez e Quentin Tarantino já provaram que a amizade que têm um pelo outro é capaz de grandes obras. Foi Tarantino quem dirigiu uma das cenas mais memoráveis de “Sin City”, o diálogo entre Dwight McCarthy e o cadáver de Jackie Boy, interpretados por Clive Owen e Benício Del Toro, respectivamente. Não era de se surpreender que logo os dois se uniriam mais uma vez para algum projeto e essa reunião é “Grindhouse”, dois filmes combinados em um.

“Planeta Terror” e “À Prova de Morte” foram feitos para serem exibidos seguidamente, divididos apenas por uma série de falsos trailers dirigidos por outros diretores, entre eles Eli Roth, diretor de “O Albergue”, e Rob Zombie, criador de “Rejeitados Pelo Diabo”. Ao todo o longa-metragem deveria ter em torno de três horas.

A longa duração, combinada ao estilo peculiar de Rodriguez e Tarantino, que optaram por tornar o filme o mais próximo de uma sessão de cinema trash, com pedaços faltando e péssima qualidade de película, fez com que no Brasil, assim como em muitos outros países, “Planeta Terror” e “À Prova de Morte” fossem distribuídos separadamente.

A separação é uma pena. Somente assistindo aos dois filmes seguidos para entender as melhores piadas ou capturar as participações de personagens e atores mais familiares. A vantagem está em poder respirar entre uma cena violenta e outra mais ainda. Tanto “Planeta Terror” quanto “À Prova de Morte” deverão agradar aos fãs mais fiéis de séries como “O Albergue” e “Jogos Mortais”.

"Planeta Terror" possui diversos elementos que tornaram Robert Rodriguez um diretor de sucesso. Possui também elementos que fazem de um filme de terror memorável e de um filme moderno interessante. Na trama, uma operação militar acaba espalhando pela cidade de Austin, no Texas, uma terrível epidemia. Os infectados se tornam zumbis comedores de gente e caminham pelos espaços públicos cobertos com feridas e bolhas de pus.

Como se a imagem sozinha não fosse perturbadora o suficiente, Rodriguez ainda faz questão de enfatizar os aspectos mais asquerosos da enfermidade, todos os sintomas e conseqüências deles são explorados com uma frieza característica de um diretor que, já em "Sin City", soube lidar com a questão da violência.

Freddy Rodriguez lidera um grupo de sobreviventes. Rose McGowan é Cherry, uma ex-stripper resistente à epidemia. A heroína tem um passado com El Wray e é ao lado dele, com uma perna transformada em arma de fogo, que irá defender os poucos seres humanos normais que restam no Texas. O grupo de sobreviventes é inusitado. O vingativo e teimoso xerife da região, uma médica adúltera e lésbica, um cozinheiro de lanchonete de beira de estrada, todos se unem em uma guerra sangrenta contra os ataques dos zumbis.

As asquerosas reações manifestadas nos corpos dos afetados dão possibilidade para diversas piadas e momentos que um espectador mais sensível preferirá esquecer. Aliás, "Planeta Terror" não é um filme para espectadores sensíveis.

Robert Rodriguez soube exagerar com inteligência ao satirizar os filmes exibidos nas chamadas Grindhouses, onde apenas filmes de baixo orçamento, com muito sexo e violência eram mostrados. O personagem de Freddy Rodriguez esconde sua verdadeira motivação, Cherry descobre uma força moral que não condiz com a sua ingenuidade aparente, tudo isso frente a um cenário de guerra fantástica e com elementos absurdamente deliciosos.

"Planeta Terror" tem o mérito de levar aos cinemas normais o que sempre foi underground, um pouco rejeitado e visto com maus olhos. É evidente que Rodriguez e Tarantino aproveitaram a fama que rodeia seus nomes para se divertirem assumindo o que, no fundo, sempre foi uma característica de seus trabalhos, a tosqueira.

Impossível não se divertir com tantas ações sem sentido ou diálogos canastrões. Robert Rodriguez prova seu talento simplesmente por conseguir envolver e agradar tanto com um filme que seria extremamente revoltante nas mãos de qualquer outro diretor.

Lais Cattassini
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