Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

"Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" marca mais uma parceria entre Johnny Depp e Tim Burton e uma nova produção da Broadway que virou filme. A música de Stephen Sondheim e a direção de Burton casam perfeitamente, mas algumas decisões equivocadas tornam o longa-metragem um pouco menos atraente.

A canção “The Ballad of Sweeney Todd”, apenas em versão instrumental no filme “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, introduz um dos personagens mais macabros da história. Descrevendo-o como um homem sombrio e estranho, mas impecavelmente limpo e hábil em sua forma de matar, a música, escrita por Stephen Sondheim, é uma excelente prévia do que está por vir.

Sweeney Todd é, na verdade, Benjamin Barker, um homem preso injustamente e afastado de sua esposa e filha. Após 16 anos de exílio, Barker retorna a Londres, sedento por vingança e determinado a matar os dois responsáveis por sua vida miserável nos últimos anos: Juiz Turpin e Beadle Bamford.

Em sua antiga residência, Barker, que assume o pseudônimo Sweeney Todd, encontra Nellie Lovett, uma quituteira apaixonada e determinada a conquistar o coração do homem que observou à distância durante tanto tempo. Ela reconhece Barker, lhe devolve as navalhas, objetos que guardou como um pequeno pedaço de seu amado, e o convida a construir uma nova vida ali, logo acima de sua loja de tortas.

Com o tempo, Sweeney decide que não é apenas um ou dois homens que merecem sua revolta, mas toda a cidade de Londres, que nada fez para impedir as injustiças cometidas por Turpin e seu comparsa. As navalhas se tornam armas ainda mais ágeis e sua cadeira de barbeiro um instrumento para assassinatos mais elaborados e constantes. Ainda desesperada por atenção e determinada a levantar o negócio praticamente falido de tortas, Sra. Lovett o incentiva a usar os corpos de seus clientes mortos como recheio para suas receitas. A dupla assassina está formada.

Para amenizar a história macabra de Sweeney e Sra. Lovett, dois personagens realizam os momentos mais românticos da produção. Johanna, filha de Todd, agora uma mulher presa nas mãos de Turpin, é a visão mais bela que o marinheiro Anthony já viu. Apaixonado por Johanna, o jovem decide que irá resgatá-la. Juntos, Jayne Wisener e Jamie Campbell Bower cantam as mais belas canções de amor e suavizam o sangue jorrado pelas mãos de Depp no longa.

A Sra. Lovett e Sweeney Todd formam o núcleo sombrio do filme dirigido por Tim Burton. É Johnny Depp quem assume o papel de Todd, um homem que deve carregar no olhar toda a maldade de quem tem o desejo incontrolável de matar, mas também a sensibilidade de quem amou uma mulher com toda a sua alma e foi traído pela própria inocência e ingenuidade. A parceria entre Depp e Burton é longa. “Sweeney Todd” marca o sexto trabalho dos dois juntos e é também o mais desafiador.

Depp foi convidado a participar da produção antes mesmo de ter a certeza que podia cantar. Por se tratar de um musical, o talento escondido do ator era extremamente importante para a qualidade do filme, sua voz é suave e seu trabalho consistente, mas ainda falta para atingir a força e a dramaticidade necessária para representar o personagem. Johnny Depp realiza um trabalho ótimo, como a grande maioria de suas criações ao longo da carreira, mas fica evidente que sua participação surgiu como mais um atrativo para a produção, uma isca para conquistar o público adolescente ou aqueles que passariam longe de um musical.

Helena Bonham Carter como Sra. Lovett pontua outra parceria de longa data. Carter, que mantém uma relação com Tim Burton desde 2001, já participou de quatro filmes do diretor e é praticamente figura garantida em seus futuros projetos. A Sra. Lovett era uma personagem que a atriz sempre quis interpretar, mas, infelizmente, não tem nem talento vocal nem veia cômica para realizar o papel com o respeito que merece.

Tim Burton realmente fez um trabalho ótimo quanto à cenografia, fotografia e direção musical, mas falhou na escola de seu elenco e no foco do enredo. As escolhas, tanto para o personagem de Todd, quanto para o da Sra. Lovett, foram equivocadas. Johnny Depp, apesar de ser extremamente talentoso e de realizar seu papel com competência, parece ter sido convocado apenas para conquistar o público e nada mais. Helena Bonham Carter desafina e perde o tom do humor em cenas cruciais. Ela é, definitivamente, o que faz de “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” um filme menos interessante do que poderia ser.

Anthony e Johanna, interpretados por atores principiantes, mas possuidores de uma sensibilidade ímpar, têm suas cenas reduzidas a explicações banais e momentos rápidos. Cerca de 60% das canções que mapeavam o comportamento do casal foram cortadas, o que dá maior destaque a Johnny Depp e seu Sweeney Todd.

Se “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” é um bom filme, isso se deve ao trabalho de Stephen Sondheim, ao adaptar a história de um personagem clássico aos palcos da Broadway, e ao talento de Tim Burton ao explorar cores e cenários na construção de uma história. O fato é que a história do barbeiro assassino e seu canibalismo é interessante sem qualquer recurso. As músicas de Sondheim unidas às cores (ou ausência de) de Tim Burton provocam uma harmonia maravilhosa que só é quebrada pela voz de Helena Bonham Carter e algumas valorizações que prejudicam cenas mais interessantes.

Lais Cattassini
@

Compartilhe

Saiba mais sobre