Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de outubro de 2007

Stardust – O Mistério da Estrela

"Stardust - O Mistério da Estrela" constrói, com elementos dignos de um conto de fadas clássico, uma história fantástica, com o charme medieval e os fatos da vida moderna. Se o nome de Neil Gaiman não basta para atrair os espectadores, o elenco próximo à perfeição com certeza irá.

Para convencer Wendy e seus irmãos a fugirem para a Terra do Nunca, Peter Pan explica “temos índios, sereias e piratas”. A declaração carrega uma mistura tão perfeita de figuras fantásticas que Wendy, John e Michael se entregam à aventura imediatamente. Algo semelhante acontece com “Stardust – O Mistério da Estrela”. Para explicar o filme, começamos com a informação de que é baseado em um livro de Neil Gaiman. O simples nome do autor de histórias fantásticas e responsável por mundos inimagináveis faz com que qualquer conhecedor da obra “Sandman” queira, assim como Wendy, se entregar aos delírios da imaginação.

Os atrativos não param por aí. O elenco, formado por grandes astros, complementa a lista de interesses. Michelle Pfeiffer, Robert De Niro, Claire Danes, Peter O’Toole, Rupert Everett, Sienna Miller e Ricky Gervais são apenas alguns dos nomes que saltam aos olhos na ficha técnica.

Para reunir todos os elementos capazes de fazer de um filme um sucesso resta apenas a trama. Tristan, interpretado pelo jovem Charlie Cox, é fruto de dois mundos. Mora em um vilarejo chamado Muralha, assim nomeado devido ao grande muro que separa a cidade do resto do mundo. Seu pai resolveu cruzar o obstáculo e descobriu um mundo mágico, e lá Tristan foi concebido.

Anos depois, o garoto se apaixona. Victoria é bonita, mas seu caráter é quase inexistente. Quando Tristan promete que faria de tudo pelo amor da moça, o acordo é de que em uma semana ele irá buscar uma estrela cadente e presenteará seu amor. Porém, Tristan não é o único que busca a estrela. Os príncipes de Stormhold, reino mágico do outro lado do muro, precisam encontrar a pedra de rubi que derrubou a estrela. Quem encontrá-la será o novo rei. A bruxa Lamia e suas irmãs também esperam encontrar o “astro”. Com o coração da estrela é possível se manterem jovens e bonitas pela eternidade.

É Tristan quem primeiro encontra a estrela, uma linda mulher chamada Yvaine. Determinado a levá-la para Muralha, Tristan a carrega pelo reino, sem saber que o seu objetivo é compartilhado por alguns dos mais perigosos personagens de Stormhold. Tristan descobre que Yvaine precisa dele para continuar viva e que o amor é incondicional. Ela descobre que o amor existe.

Neil Gaiman construiu dois mundos fantásticos. Muralha é uma vila interessante, se localiza na fronteira entre o mágico e o mundo normal. Stormhold possui todos os elementos que habitam os sonhos das crianças, os contos de fadas. Reis, príncipes, princesas, bruxas e piratas. São os piratas, aliás, que carregam o filme de humor.

Robert De Niro é o Capitão Shakespeare, um homem de bom coração que cruza o caminho da estrela e do herói. De Niro é, de longe, o melhor personagem de todo o filme. Capitão Shakespeare tenta manter a reputação de mau, mas é afeminado, amante da boa moda, entendedor das artes do coração. O carisma de De Niro há muito não enriquecia um bom filme. O ator emprestou seu talento para filmes sem qualidade e somente agora retorna a um papel que, apesar de ainda não fazer jus a sua enorme qualidade dramática, conquista na qualidade de herói.

O defeito de “Stardust” está nos protagonistas. Charlie Cox até tenta, mas não tem o biótipo dos príncipes que dominam os contos de fada. Claire Danes tem a beleza e o talento, mas a personagem cansa. É implicante, reclama durante grande parte dos 130 minutos de projeção. Se separadamente Tristan e Yvaine já são desagradáveis, como um casal a química é praticamente inexistente. O diretor Matthew Vaughn tenta fazer de Tristan um garoto engraçado e de Yvaine uma estrela com saudade de casa, mas não são algumas falas no roteiro que irão transformar os dois em príncipe e princesa. O escorregão não é grande o bastante para impedir que o público se identifique com os personagens, mas fica claro que uma escalação mais cuidadosa poderia ter remediado a falha.

“Stardust” reúne muitas qualidades, mas suas qualidades se espalham pelas diferentes tramas e podem confundir os menos atentos. A quantidade de personagens faz com que o filme não perca o ritmo acelerado, mas, por isso, perde um pouco de densidade emocional.

O longa-metragem é um conto de fadas moderno. Estão nele presentes todos os elementos que tornam uma história aparentemente comum em uma odisséia fantástica. “Stardust” é uma ótima opção para quem gosta de uma fantasia bem construída. E é sempre bom observar os talentos de Michelle Pfeiffer e, especialmente, de Robert De Niro.

Lais Cattassini
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