Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de dezembro de 2006

Xuxa Gêmeas

Se você já assistiu a algum dos já clássicos "filmes da Xuxa", não irá se surpreender com essa nova produção, que segue todos os moldes das anteriores. "Xuxa Gêmeas" vem com todas as falhas esperadas, que acaba por classificá-lo como um autêntico exemplar do [i]trash[/i].

Os famosos "filmes da Xuxa" já viraram um episódio à parte quando se fala de cinema brasileiro. Digo isso porque estas produções, em seu intuito de agradar às crianças ou apenas vender, acabam virando pérolas do nonsense e se tornando alvos explícitos para críticas. "Xuxa Gêmeas", mais nova produção da suposta Rainha dos Baixinhos, vem seguindo o padrão do gênero e resulta em algo, no mínimo, digno de risadas.

A trama é mirabolante. Duas irmãs gêmeas crescem separadas: uma é acidentalmente levada por uma trupe de circo e a outra é criada por sua rica família. Como resultado, não poderia ser algo mais previsível e clichê. Margareth, a bebê extraviada, vira uma boa moça, cheia de ética e escrúpulos e recebe o nome de Mel. Elizabeth, a rica herdeira de um império jornalístico, se torna uma mulher gananciosa, que não tem consideração sequer pelo pai doente. As duas, obviamente, acabam se encontrando, e a irmã má, ao perceber a ameaça que o reaparecimento da outra representa, faz de tudo para impedir que a verdade seja revelada. Enquanto isso, como não poderia deixar de ser, o mágico Ivan desperta o interesse de ambas as irmãs, mas corresponderá, lógico, ao amor da doce Mel.

Uma trama plausível nunca foi pré-requisito para que Xuxa tivesse um filme produzido e, partindo desse princípio, a falta de lógica da história em questão pode ser deixada de lado. O que deve ser comentado sem falta, entretanto, são as visíveis falhas de continuidade gritantes no desenrolar da trama. É lógico que os olhinhos atentos do público massivamente formado por crianças e suas mães, mais interessadas em que o filme acabe logo do que em prestar atenção em detalhes como esse, não irão tomar os erros de continuidade como falta grave, mas isso não justifica uma produção descuidada. Apesar de não ser um filme exatamente levado a sério, "Xuxa Gêmeas" conta, no mínimo, com recursos para ser um trabalho bem feito.

Diante de aspectos técnicos tão deturpados e alguns até inexistentes, passemos para um quesito que costuma render o que falar, inclusive em "filmes da Xuxa": o elenco. Como sempre, temos a própria Xuxa como protagonista e, dessa vez, em dose dupla de pura canastrice. Com uma caracterização completamente estereotipada, ela constrói uma irmã irritantemente boa e outra inverossimilmente má. A participação de celebridades não-atores, mas que chamam atenção para o longa, também não poderia deixar de se fazer presente mais uma vez. A cantora Ivete Sangalo interpreta a melhor amiga de Mel, exibindo uma performance, no mínimo, medíocre. Para completar o padrão Xuxa de fazer filmes, ainda temos a presença das crianças que participam dos momentos chaves da trama como se fossem adultos.

O time de humoristas presentes no elenco, no entanto, consegue se destacar como um ponto positivo no meio de tantas falhas. Fabiana Karla e Luís Salém vivem os empregados da megera Elizabeth de forma bastante competente. Os maiores méritos, entretanto, vão sem dúvida para Maria Clara Gueiros, que vive a secretária da vilã. O seu timing para a comédia se mostra impecável e a atriz consegue ser a única a arrancar risadas genuínas da parcela um pouco mais exigente da platéia, consolidando um talento que consegue se destacar até nas mais medíocres das produções.

No mais, o que vemos é um filme feito para vender, já que as crianças, que são o público alvo, não parecem muito exigentes a ponto de não gostar do longa por causa de todos os motivos acima listados. O importante para esse tipo de produção é justamente atrair os baixinhos e, conseqüentemente, encher, cada vez mais, o cofre da "rainha". Dentro desses objetivos, "Xuxa Gêmeas" parece se fazer, apesar de tudo, bem sucedido. Se você é dotado de bom senso e não tem um filho para levar ao cinema, no entanto, sugiro que procure outra opção.

Amanda Pontes
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