Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 05 de novembro de 2006

O Grande Truque (2006): roteiro e direção fazem um filme perfeito

Apesar de pouco falado na mídia, "O Grande Truque" é um filme que eu esperava muito. Esperava por causa do diretor, do roteirista, do elenco e das premissas da sinopse. Tudo indicava que o filme seria muito bom.

Christopher Nolan na direção: obscuridade à vista. Jonathan Nolan como roteirista: reviravoltas à vista. Christian Bale, Hugh Jackman e Michael Caine em papéis principais: competência à vista. Se você quer mais premissas do que isso, é dono de uma soberba incrível. Para que melhor do que Christopher Nolan, que dirigiu o melhor filme à respeito do Batman, o “Batman Begins”, cujo protagonista é Christian Bale? Vale ressaltar que este ator também interpretou o melhor Batman desde o primeiro filme. Michael Caine também está em Batman fazendo o carismático mordomo Alfred, mas é, dentre outras, sua atuação em “O Sol de Cada Manhã” que me faz vibrar positivamente ao ver esse nome envolvido em um filme. Para fechar, Jonathan Nolan roteirizou o fenomenal “Amnésia” (também dirigido por seu irmão Christopher) e Hugh Jackman é o Wolverine da franquia “X-Men”. Ah, ainda tem a promissora atriz Scarlett Johansson.

A premissa de uma disputa entre mágicos melhora ainda mais as expectativas à respeito do filme. No caso, os dois mágicos são Alfred Borden (Christian Bale) e Rupert Angier (Hugh Jackman). Eles duelam entre si disputando suas mágicas e quem faz o melhor show, ou seja, quem ilude melhor o público e quem é mais aplaudido. Isso é só a premissa inicial, pois com o passar dos minutos vão acontecendo enroladas e desenroladas que só um roteiro saído das mãos de Jonathan Nolan é capaz de apresentar.

Como eu deixei em aberto no primeiro parágrafo, o filme tinha tudo para ser bom. Mas ele foi melhor do que isso. Ele é sem sombras de dúvidas um dos melhores filmes do ano, no mínimo o mais inteligente. Se você gosta de ver reviravoltas, fique preparado para mais do que uma reviravolta e, se você acha que está acertando tudo com os elementos que o filme está lhe dando, pense melhor. A trama do filme explica muito bem o que não poderia ser a melhor frase para se colocar no pôster do filme: “você está prestando atenção?”

Só esse ótimo roteiro já deixaria o filme prazeroso além da conta, mas aí entra a excelente direção de Christopher. Ele meio que mistura todos os elementos já apresentados em sua direção em “Batman Begins”, “Amnésia” e “Insônia”. Mais maduro e cada vez mais seguro do que está fazendo, Christopher dá uma aula de como se filmar com câmera livre e outras tomadas que deixam os olhos do espectador no ponto principal da tela do que Christopher quer que vejamos na cena. Para melhorar, a edição do filme é algo fora de série. Aliando a maleabilidade do roteiro com a excelente direção, ela causa um turbilhão agradabilíssimo na cabeça do espectador, jogando começo, meio, fim e flashbacks em um liquidificador. Alie essa falta de linearidade a uma narrativa de fundo feita por Michael Caine.

Comparando os dois protagonistas, Christian Bale e Hugh Jackman, eles se revezam em qualidade. Quando um começa a deixar a “bola cair”, o outro vem e demonstra uma competência mais do que necessária. Michael Caine mantém quase a mesma estrutura que ele deu ao personagem Alfred de “Batman Begins”. Olhando-o atuar, parece até que é fácil, visto que ele mostra uma simplicidade fora de série. Scarlett Johansson está bem, mas tem pouco tempo de destaque. Vale ressaltar também as participações do cantor David Bowie, que só não está parecendo com David Bowie (?), e Andy Serkis. Para quem não sabe, Serkis foi quem fez todos os movimentos corporais e faciais do personagem Gollum de “O Senhor dos Anéis”.

A trilha sonora do filme não impressiona, pois não precisa. Ela tem que ser só um adereço para o que estamos a presenciar. Se fosse algo exagerado, a nossa atenção dedicada ao filme em si poderia ser atrapalhada. E perder atenção em um filme que muito exige do espectador é complicado para o entendimento final. Mas até nisso o filme dá uma colher de chá, já que no final vemos praticamente um resumo do longa contado pelos protagonistas. Isso poderia soar como que estivesse chamando o espectador de burro, mas é valioso para todos aqueles que estavam acertando tudo, pois essa explicação final mostra que não é bem assim.

Um trabalho memorável de Christopher Nolan e seu irmão Jonathan, visto que roteiro e direção juntos fazem de “O Grande Truque” um filme perfeito. Não tenho o que apontar de ruim no longa. Agora, se você assistiu ao projeto e não o compreendeu, termino essa crítica repetindo a pergunta feita no cartaz e no próprio filme: “Você está prestando atenção?”

Raphael PH Santos
@phsantos

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