Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 09 de setembro de 2012

Totalmente Inocentes (2012): paródia nacional não consegue entreter

Comédia faz referência a sucessos do cinema brasileiro, mas a pobreza do roteiro e a infantilidade do humor põem uma boa ideia a perder.

A temática de favela rendeu alguns dos maiores sucessos do cinema nacional na última década. Aproveitando-se disso e da considerável inclinação do público brasileiro para filmes de paródia – visto que grande parte das produções americanas deste tipo estreia em salas de cinema por aqui enquanto são lançadas direto em DVD no país de origem –, o diretor estreante em longas Rodrigo Bittencourt tenta ganhar espaço no mercado com a deformação cômica deste tema tão popular.

Neste contexto, “Totalmente Inocentes” conta a história de Da Fé (Lucas D’Jesus), um garoto da favela que sonha em conquistar o coração de Gildinha (Mariana Rios), interesse amoroso do criminoso Do Morro (Fábio Porchat). Enquanto isso, o repórter desajeitado Wanderlei (Fábio Assunção) corre atrás de uma matéria sobre criminosos da favela que garantirá seu emprego na revista Taras.

É por meio desta história que o longa faz referências diretas a obras como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” para se firmar enquanto paródia deste que se tornou um subgênero brasileiro. A ideia é válida, uma vez que valoriza as produções nacionais e tenta fazer algo consideravelmente novo por aqui, ainda que muito comum e até desgastado em terras estrangeiras. Infelizmente, o resultado é dos piores.

O primeiro incômodo é a edição de Maria Rezende, que logo na cena de abertura brinca com a velocidade da imagem, variando-a entre câmera lenta e muito rápida em uma vã tentativa de conferir dinamicidade à sequência. Essa técnica se mantém durante toda a introdução e pontualmente em outras ocasiões posteriores, mas em nenhum caso gera um efeito que se justifique, tornando-se risível ao percebemos os “fantasmas” na imagem quando em câmera lenta, o que soa amador e evidencia a falta de necessidade desta opção.

As artes animadas – provavelmente uma referência a “2 Coelhos” ou pelo menos uma descarada imitação deste – tentam se integrar à narrativa, mas sempre soam forçadas. Em vez de fornecerem identidade ao filme, parecem mais uma imposição dos realizadores em mais uma tentativa de entreter visualmente para compensar a pobreza do enredo.

O humor chega a ser ridículo de tão sem graça. Nenhuma piada verbal ou visual funciona. Os raros sorrisos que o espectador pode esboçar são por conta dos trejeitos e improvisações de Porchat, que parece se divertir no papel, tentando extrair dele algo mais do que o roteiro de Bittencourt, Carolina Castro e Rafael Dragaud tem a oferecer. Roteiro este que enche as falas de palavrão por falta de criatividade cômica e para evitar assumir de vez o caráter infantil, quando na verdade tudo o mais diz o contrário, principalmente o final que parece ter sido inspirado em filmes infantis dos anos 80 e 90.

Outro fator que incomoda são as citações diretas dos filmes a qual este deseja parodiar. Esta intenção seria muito mais efetiva se deixasse as referências subentendidas, mas se tornam fracas quando são expostas claramente. Talvez a única ideia interessante do longa neste sentido seja a utilização do elenco também como elemento de paródia, como é o caso dos policiais Nervoso e Tranquilo, interpretados respectivamente por Fábio Lago (o Baiano de “Tropa de Elite”) e Leandro Firmino (o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”). Ou seja, dois “bandidos” interpretando dois policiais. A ideia é boa, mas é ofuscada pelo terrível aproveitamento dos atores, que têm seu talento desperdiçado com dois personagens que chegam gerar vergonha alheia no público.

Sem falar na participação de Felipe Neto, que faz uma paródia de si mesmo totalmente descartável. O personagem aparece vez por outra apenas para resumir o que acabamos de presenciar, situando o espectador constantemente acerca do que está acontecendo – como se a trama fosse complexa demais para entendermos.

Da Fé, Bracinho (Gleison Silva) e Torrado (Carlos Evandro), que deveriam ser os protagonistas, não têm carisma e experiência o bastante para sustentar o longa, que fica sem expressão. Somando isso ao roteiro fraco e à direção sem foco, “Totalmente Inocentes” se mostra como uma das piores produções nacionais do ano, ficando apenas como uma ideia que poderia funcionar se tivesse sido realizado pelas pessoas certas.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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