Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim (2011): técnica impecável marca animação divertida

Animação surpreende crianças e diverte adultos, comandada brilhantemente por Steven Spielberg.

As histórias do repórter belga que, acompanhado de seu cãozinho Milu, desvenda grandes casos de conspiração mundial, foram muito bem reproduzidas na série animada dos anos 90. Ao ganhar sua versão para o cinema, a animação optou pela captura de movimento, uma técnica que nem sempre traz bons resultados. Apesar de ser dirigido por Steven Spielberg e roteirizado por Steven Moffat e Edgar Wright, britânicos responsáveis por algumas das melhores histórias da atualidade (“Doctor Who” e “Todo Mundo Quase Morto”, respectivamente), eu ainda tinha as minhas dúvidas sobre a qualidade de “As Aventuras de Tintim”.

A surpresa foi mais do que grata. “As Aventuras de Tintim” é um filme divertido, muito bem feito e com uma história absurdamente envolvente. Adaptado do quadrinho “O Segredo do Licorne”, o filme acompanha os apuros pelo qual passa o jovem repórter depois de comprar um modelo de um navio cobiçado por um estranho colecionador. É nessa aventura que Tintim irá conhecer o Capitão Haddock, um personagem engraçado que o acompanha em grande parte de suas aventuras.

Os quadrinhos de Hergé são um prato cheio para as adaptações cinematográficas. Quem conhece o personagem sabe que Tintim não foge da ação e está sempre aparecendo em cenários diferentes. O filme não é diferente. Tintim, Milu e Haddock visitam toda espécie de cenário, magnificamente construído pela computação gráfica. Assim como os lugares que visitam, os personagens são construídos de forma belíssima. Os traços de Hergé continuam lá. Tintim exibe seu famoso topetinho ruivo e Haddock tem a mesma barba e o ar beberrão do desenho tradicional, mas a técnica da nova animação suavisou os traços cartunescos e tornou a turma mais verossímil.

Mesmo escondidos por trás dos traços de Hergé, os atores que emprestaram suas vozes e movimentos aos personagens imprimem muita personalidade às figuras. Tintim foi interpretado por Jamie Bell, que faz um trabalho justo. Já o capitão Haddock foi papel de Andy Serkis, que pode ser considerado um especialista em atuar por captura de movimento. O ator já foi o Gollum, King Kong e César, dorecente “Planeta dos Macacos: A Origem”. Sua experiência transparece em um capitão que rouba a cena e é um dos personagens mais expressivos do filme. Também estão no elenco Nick Frost e Simon Pegg, interpretando os policiais Dupont e Dupond, e Daniel Craig, que empresa sua voz ao vilão.

“As Aventuras de Tintim” dosa muito bem ação e comédia. Entre cenas de explosões, tiros e perseguições, somos apresentados a boas piadas, normalmente protagonizadas por Haddock, que nessa versão ficou ainda mais envolvido com o álcool. Esse, aliás, pode ser uma das críticas feitas por quem é fã da série. Diferente dos quadrinhos, onde Haddock bebe, mas não exagera, o personagem do filme é um alcoólatra inegável. Ele chega a ficar limitado pela abstinência. Seu amor pela bebida, entretanto, gera excelentes momentos de descontração, assim como as peripécias de Milu, que deve conquistar ainda mais as crianças.

Para dar ainda mais intensidade a um filme que une um elenco primoroso a diretor e roteiristas de talento, a trilha sonora foi composta por John Williams que, claro, não decepciona. Somente a cena de abertura, feita em animação 2D e com uma trilha instrumental fantástica, já é de cair o queixo. Não precisa muito mais para ter a certeza de que a exibição, que dura cerca de 1 hora e 40 minutos, será inesquecível.

A animação, que certamente vai surpreender as crianças e divertir os adultos, deixa o espectador pedindo por mais. Se o próximo filme, baseado na história “O Templo do Sol” e dirigido por Peter Jackson vai ser tão bom quanto o primeiro da série não temos como saber. Mas o fato é que, se for apenas uma fração do que é o longa dirigido por Spielberg, a produção já sairá ganhando.

___
Lais Cattassini é jornalista paulistana, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2009. É repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e membro do CCR desde 2007.

Lais Cattassini
@

Compartilhe