(Imagem: Getty Images)

Que a Netflix mudou a forma de se consumir entretenimento, não há dúvidas. Que seu formato gera  polêmica, também não. Em entrevista à Bloomberg, o co-CEO da gigante do streaming, Ted Sarandos, apertou esse calo ainda mais com uma declaração polêmica, de que séries de sucesso não são canceladas pela empresa. Veja abaixo:

“Nunca cancelamos um programa de sucesso. Muitos desses shows foram bem-intencionados, mas falam para um público muito pequeno com um orçamento muito grande. A chave para isso é que você deve ser capaz de falar com um público pequeno com um orçamento pequeno e um grande público com um orçamento grande. Se você fizer isso bem, você pode fazer isso para sempre.”

A declaração vem após Sarandos ser perguntado sobre sua relação com os criadores e membros do setor criativo em séries e filmes, dado que constantemente se vêem fazendo campanhas e mobilizações contra o cancelamento de alguma série ou pela volta de outra. Por si só, o argumento pode até soar coerente, mas há um contexto maior ao tratar dessa polêmica. Recentemente a plataforma “fez um limpa” na casa cancelando vários títulos, como as animações “Departamento de Conspirações” e “Guardiões da Mansão do Terror”, “1899”, “Warrion Nun”, “Blockbuster”, “O Clube da Meia-Noite”, “Primeira Morte”, “Resident Evil”, “Fate: A Saga Winx”, “Cowboy Bebop”, “The Midnight Gospel”, o brasileiro “Maldivas” e outros.

Para que uma série seja considerada um sucesso pela Netflix, é preciso que ela mantenha índices muito altos de audiência por muito tempo, principalmente em relação a seu orçamento. Foi o caso de “Sandman“, que ocupou o topo do ranking de audiência do streaming por semanas sem que houvesse perspectiva de renovação para uma segunda temporada. Neil Gaiman, autor dos quadrinhos que dão origem à série, pedia publicamente para que os fãs continuassem a assistir mesmo após completarem a temporada, para manter os números no topo. Apenas em novembro de 2022, quase três meses após a estreia de “Sandman“, é que ela foi renovada. Já séries como “Sense8“, “Anne With an E“, “The OA“, “One Day at a Time” e outras não tiveram a mesma sorte.

Além do orçamento, outro fator que influi de forma considerável é o modelo de lançamento da Netflix. Enquanto streamings como HBO Max, Disney+ e Prime Video vêm optando pelo lançamento de episódios inéditos de forma semanal, a Netflix, para se diferenciar da concorrência e como pioneira no ramo, tinha por obrigação distanciar-se do modelo da TV a cabo. Assim, a maioria de suas séries chega ao catálogo com temporadas inteiras, podendo ser consumidas de uma vez – no que ficou popularmente conhecido como “maratonar” ou “binge”, em inglês -, o que virou tendência na plataforma. Com isso, elas costumam ter um pico de audiência nas semanas após a estreia, sendo substituídas por outro lançamento em seguida – caso de “Wandinha” e “Stranger Things“, dois grandes sucessos da plataforma.

Séries de grande orçamento, no entanto, sempre existiram, e não se pagam com apenas algumas semanas de audiência. “Game of Thrones“, por exemplo, se consolidou como o fenômeno que foi apenas em sua terceira temporada. Fosse uma série da Netflix e não da HBO, talvez seu destino fosse outro.

Sarandos é co-CEO da Netflix junto a Greg Peters, e já dividia o cargo com Reed Hastings, co-fundador da empresa que deixa o cargo de CEO após 25 anos.

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