Relatórios da Warner indicam participação de contas falsas na campanha pelo Snyder Cut
Robôs também podem ter sido usados para eleger o Snyder Cut como o filme favorito do público em consulta do Oscar.
(Imagens: Getty Images, WarnerMedia)
“Liga da Justiça” vai se consolidando como um dos projetos mais polêmicos da cultura pop nas últimas décadas. Agora, novos relatórios da WarnerMedia obtidos pela Rolling Stone apontam para a participação de bots na campanha em prol do chamado Snyder Cut do filme pela internet.
A polêmica começa ainda em 2016, após o lançamento de “Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça“, de Zack Snyder. O filme não foi bem recebido pela crítica, chegando a 29% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes, e é tido como um fracasso pela diretoria da Warner (com orçamento de mais de US$ 250 milhões, o filme arrecadou US$ 874 milhões em bilheteria; a título de comparação, “Coringa” teve orçamento de cerca de US$ 70 milhões e arrecadou US$ 1.074 bilhão). Segundo o reporte, Snyder teria contratado uma firma de marketing digital para melhorar a reputação do filme nas redes sociais. O cineasta, contudo, nega ter feito isso.
No início de 2017, o lançamento de “Liga da Justiça” em sua versão inicial nos cinemas enfrentava grandes desafios. Snyder chegou a mostrar três cortes do filme para os executivos da Warner, que rejeitaram todos, chegando a afirmar que o filme “não tinha alegria”. Para solucionar o problema Joss Whedon foi chamado para regravar algumas cenas, e ele teria chegado a tentar trocar anotações com Snyder, que não foi receptivo. Em maio, no entanto, Snyder e sua esposa e produtora Deborah deixaram o projeto em definitivo após a morte de sua filha, Autumn. Whedon assumiu o que restava da produção com plenos poderes.
O resultado final foi um filme descaracterizado, que decepcionou crítica e executivos da Warner, além de não ter um bom desempenho em bilheteria (arrecadando US$ 658 milhões frente a um orçamento de cerca de US$ 300 milhões). Apesar de tudo, a campanha #ReleaseTheSnyderCut começou nas redes sociais, impulsionada em boa parte pelo site ForTheSnyderCut.com. O domínio foi registrado usando um serviço privado em dezembro de 2017, mas, em um lapso de segurança durante 2021, revelou que o criador do site foi CEO de uma empresa da marketing digital MyAdGency, que prometia “tráfego de avatares barato e instantâneo para seu site”. Snyder novamente negou que tenha contratado os serviços da agência, e seus donos não responderam aos chamados da Rolling Stone.
Nas redes sociais, a campanha utilizando a hashtag foi amplificada durante esse período e pelo anos seguintes, tornando alvos nas redes qualquer cineasta, executivo da Warner ou mesmo figuras públicas que fossem considerados um obstáculo para a realização do Snyder Cut. Segundo análise das firmas Q5id e Graphika, cerca de 13% das contas que interagiam com a hashtag foram consideradas falsas, muito acima dos cerca de 5% considerados “normais” pelo Twitter em interações em qualquer assunto.
Outro fator de destaque foi a queda brusca de interações sobre o assunto após a aprovação do Snyder Cut pela Warner, segundo um executivo de marketing digital ouvido pela Rolling Stone:
“Apenas veja a queda: [a hashtag] estava entre os trends topics com um milhão de tweets por dia quando eles queriam o lançamento do Snyder Cut. E caiu para menos de 40 mil em questão de dias. Você não vê uma queda assim organicamente.”
Becky Wanta, da Q5id, afirma que os padrões de interação não deixam dúvidas quanto ao uso de contas falsas (popularmente conhecidos como “bots”):
“Há certos padrões que bots exibem que podemos ver aqui. Eles chegam quase ao mesmo tempo em grandes números. E muitas vezes a origem de milhares ou mesmo milhões de mensagens pode ser rastreada a uma única fonte. Às vezes, podem ser rastreadas a servidores incomuns em países remotos. E seus conteúdos serão precisamente similares.”
A utilização de bots em campanhas favoráveis a filmes de Snyder não acabou com o lançamento do Snyder Cut, entretanto. Em sua edição 2022, o Oscar incluiu duas categorias com voto popular feito via redes sociais, e ambas foram vencidas por Snyder: uma por seu filme “Army of the Dead” (com a #OscarsFanFavorite), da Netflix, e outra pelo próprio Snyder Cut (com a #OscarsCheersMoment). Segundo Avneesh Chandra, analista da Graphika, os sinais novamente apontam para bots não apenas nessa ocasião, mas durante boa parte do primeiro semestre de 2022:
“Vemos sinais claros de atividade coordenada online entre maio e junho desse ano, quando múltiplas comunidades impulsionaram hashtags promovendo Zack Snyder e atacando a Warner Bros.”
Chandra ainda reforça que, mesmo com o uso excessivo de bots, a maior parte das atividades relacionadas às campanhas pró-Snyder e envolvendo a #ReleaseTheSnyderCut são de perfis autênticos coordenando ataques online:
“O grosso dessa atividade consistia em perfis reais e apaixonados agindo sob direção de figuras influentes na comunidade pró-Snyder. Normalmente vemos esses tipos de campanhas adversariais em mídias sociais lideradas por pessoas reais coordenando a atividade online. Quando você lida com uma comunidade grande, engajada e confrontadora, isso pode ser tão assustador quanto, senão mais, enfrentar um exército de contas falsas.”
Além da utilização de contas falsas para promover a realização do filme, o ator Ray Fisher, que interpreta o Ciborgue nas duas versões do filme, vem atacando e se posicionando de forma direta contra a diretoria da Warner e da DC Films nas redes sociais, chegando a ser removido de outros filmes da DC nos cinemas. O Snyder Cut de “Liga da Justiça” foi lançado em 2021 através da plataforma de streaming HBO Max, da Warner, e segue acumulando polêmicas fora das telas, apesar de as críticas terem sido positivas quanto ao resultado final.
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