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Notícias   quarta-feira, 09 de outubro de 2019

Coringa | Chamado de “excepcional” e “irresponsável”, filme divide opiniões dos votantes do Oscar

Alguns membros consideram o longa-metragem uma "obra prima", enquanto outros classificaram a obra como "raso" e "perigoso".

Coringa | Chamado de “excepcional” e “irresponsável”, filme divide opiniões dos votantes do Oscar>

Após o sucesso estrondoso de bilheteria que teve em seu fim de semana de estreia, “Coringa“, do diretor Todd Phillips, deve iniciar sua campanha para a temporada de premiações muito em breve. Afinal, não só críticos como também atores e diretores de Hollywood dispararam elogios ao longa-metragem sobre o Palhaço do Crime, mesmo que sua estreia tenha sido envolta de polêmicas: muitos da crítica especializada chamaram o filme de irresponsável” e “real até demais” em sua violência, fazendo com que alguns cinemas adotassem esquemas de segurança reforçados para que ninguém entrasse armado na sala, como aconteceu em 2012 durante a exibição de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” em Aurora, no Colorado.

Pensando nisso, o The Hollywood Reporter publicou uma matéria focando nas chances reais de “Coringa” concorrer e até mesmo ganhar o Oscar em 2020, especialmente nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator pela performance de Joaquin Phoenix. O site conversou com os membros votantes da Academia para saber quais são as opiniões gerais sobre a obra. Alguns dos votantes já deixaram suas opiniões bem claras, como o ator e comediante Chris Rock e o diretor Michael Moore – ambos consideraram o longa “uma obra prima“, conforme postagens em suas respectivas redes sociais:

‘Coringa’ é incrível, wow, obra prima”.

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On Wednesday night I attended the New York Film Festival and witnessed a cinematic masterpiece, the film that last month won the top prize as the Best Film of the Venice International Film Festival. It’s called “Joker” — and all we Americans have heard about this movie is that we should fear it and stay away from it. We’ve been told it’s violent and sick and morally corrupt. We’ve been told that police will be at every screening this weekend in case of “trouble.” Our country is in deep despair, our constitution is in shreds, a rogue maniac from Queens has access to the nuclear codes — but for some reason, it’s a movie we should be afraid of. I would suggest the opposite: The greater danger to society may be if you DON’T go see this movie. Because the story it tells and the issues it raises are so profound, so necessary, that if you look away from the genius of this work of art, you will miss the gift of the mirror it is offering us. Yes, there’s a disturbed clown in that mirror, but he’s not alone — we’re standing right there beside him. “Joker” is no comic book movie. The film is set somewhere in 1970s Gotham/New York City, the headquarters of all evil: the rich who rule us, the banks and corporations whom we serve, the media which feeds us a daily diet “news” they think we should absorb. But this movie is not about Trump. It’s about the America that gave us Trump — the America which feels no need to help the outcast, the destitute. The America where the filthy rich just get richer and filthier. Thank you Joaquin Phoenix, Todd Phillips, Warner Bros. and all who made this important movie for this important time. I loved this film’s multiple homages to Taxi Driver, Network, The French Connection, Dog Day Afternoon. How long has it been since we’ve seen a movie aspire to the level of Stanley Kubrick? Go see this film. Take your teens. Take your resolve.

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“Na quarta-feira à noite, participei do Festival de Cinema de Nova York e assisti a uma obra-prima cinematográfica, o filme que no mês passado ganhou o prêmio de Melhor Filme do Festival Internacional de Cinema de Veneza. Se chama ‘Coringa’ – e tudo o que ouvimos sobre esse filme é que devemos temer e ficar longe dele. Fomos informados de que é violento, doente e moralmente corrupto. Fomos informados de que a polícia estará presente em todos as sessões neste fim de semana em caso de ‘problemas’. Nosso país está em profundo desespero, nossa constituição está em pedaços, um maníaco desonesto do Queens tem acesso aos códigos nucleares – mas por algum motivo , é de um filme que devemos ter medo.

Eu sugeriria o contrário: o maior perigo para a sociedade pode ser se você não for ver este filme. Como a história que conta e as questões que ela suscita são tão profundas, tão necessárias, que se você desviar o olhar da genialidade dessa obra de arte, perderá o dom do espelho que ela está nos oferecendo. Sim, há um palhaço perturbado naquele espelho, mas ele não está sozinho – estamos de pé ao lado dele. ‘Coringa’ não é um filme de quadrinhos. O filme se passa em algum lugar da década de 70 em Gotham / Nova York, a sede de todo o mal: os ricos que nos governam, os bancos e corporações a quem servimos, a mídia que nos alimenta com as ‘notícias’ diárias da dieta que eles pensam que devemos absorver.

Mas este filme não é sobre Trump. É sobre a América que nos deu Trump – a América que não sente necessidade de ajudar os marginalizados, os necessitados. A América onde os ricos imundos ficam cada vez mais ricos e sujos.

Obrigado Joaquin Phoenix, Todd Phillips, Warner Bros. e todos que fizeram este filme importante para este período importante. Adorei as várias homenagens deste filme a ‘Taxi Driver’, ‘Network’, ‘The French Connection’, ‘Dog Day Afternoon’. Quanto tempo se passou desde que vimos um filme aspirar ao nível de Stanley Kubrick? Vá ver este filme. Leve seus filhos adolescentes. Tome sua decisão.”

A publicação também reúne o que diversos membros da Academia, de ramos da indústria distintos e de todos os gêneros, têm achado do longa e de sua repercussão. Muitos aplaudiram “Coringa”, enquanto outros admitiram ter sentimentos conflitantes com relação ao filme. Todos os relatos recolhidos pela reportagem foram em condição de anonimato.

Atenção: alguns dos depoimentos contêm spoilers de “Coringa”.

Um entrevistado homem, que faz parte da categoria de executivos da Academia, disse o seguinte:

“Meu filho, que tem 21 anos, gostou do filme, e tenho certeza de que na idade dele isso pode fazer algum sentido. Mas se você olhar para o começo desse filme, [Fleck] tem sua placa roubada e ele é espancado, então você sente pena dele. Aí você descobre que ele tem problemas mentais, e sente pena dele. E então ele ganha uma arma e a usa, então você tem esse cara louco que pratica uma onda de crimes, e você deveria gostar dele, mesmo que ele esfaqueie e atire em pessoas? E a maneira como ele age com crianças deixa muito a desejar. Para mim, esse tipo de violência gratuita envia uma mensagem muito estranha. Vai ganhar muito dinheiro, então se você está comandando um estúdio, deveria fazer esse filme, mas isso é responsável? Certa vez, fui confrontado com a mesma pergunta e decidi não fazer o filme – e o filme foi feito e ganhou muito dinheiro de qualquer maneira.”

Uma entrevistada mulher, que compõe a categoria de membros gerais (que trabalham com cinema, mas não se encaixam nas outras categorias da Academia), não poupou elogios:

“Vi o filme ontem à noite no Landmark com outro membro da Academia, e meu estômago ainda estava revirando esta manhã. Isso me deixou desconfortável desde o primeiro quadro até o último, mas achei o filme extraordinário. Não li qualquer coisa sobre isso de antemão, então eu pensei que estava indo para [ver], tipo, o Batman. É a performance mais marcante que já vi em muitos anos – a maneira como ele [Joaquin Phoenix] se transformou, tudo, quero dizer, ele é realmente um ator consumado, e não há um quadro que ele não esteja na câmera também. O que eu não entendo é o motivo de todo mundo ficar chateado? Basta pegar o jornal da manhã e ver o idiota que está governando nosso país se você quiser se preocupar com a violência. Mas certamente consigo nomear [Coringa’] para Melhor Filme. E Joaquin precisa ser indicado, ou o ramo de atores não sabe o que está fazendo.”

Uma votante da categoria de roteiristas, por outro lado, não se impressionou:

“Fui acompanhada por meus dois sobrinhos, ambos jovens espertos na casa dos 20 anos. Eles admiraram o filme, mas ambos disseram que gostaram muito mais do ‘O Cavaleiro das Trevas’,  de 2008. Não sou de defender a censura criativa, mas o filme pode influenciar a sociedade e a cultura de maneiras sutis e não tão sutis. O foco neste filme pela mídia como instigador de comportamentos violentos é, com essa ênfase, realmente encorajador – ou ousado – nesse tipo de atuação. O filme em si? Não foi particularmente único em contar a história de um solitário que cede à psicopatia, mesmo com Joaquin Phoenix sendo um dos nossos melhores atores em todos os papéis que ele interpreta.”

Outro roteirista anônimo discorda:

“Adorei o filme. Achei que o longa é excepcional – certamente o filme de super-herói mais inovador desde O Cavaleiro das Trevas’. É corajoso, real e bonito, e acho que é uma tentativa de entender o que está acontecendo em nossa sociedade. Eu ainda não vi nenhum filme da Academia desta temporada, mas, artisticamente, acho que esse filme é mais forte do que muitos dos indicados ao Oscar do ano passado, mas esqueça a Academia – quantos outros filmes, nos últimos 10 anos, entregaram, com sucesso, esse nível de cinema a um público de massa?”

Na categoria dos diretores, um deles opinou o seguinte:

“Achei o filme ousado, mas que é uma bagunça cínica: excessivamente sombria, oca e distraidamente derivada do início da carreira de [Martin] Scorsese, especialmente de ‘Taxi Driver’ e de ‘O Rei da Comédia’, mas não tão bom quanto. Eu também achei que [‘Coringa’] é mais do que um pouco irresponsável, em termos de representação de doenças mentais e de violência. Quando a violência é apenas para chocar, eu a considero repugnante. Não se baseia em nenhuma caracterização real. Também parece que o filme foi feito apenas para provocar. Mas acho que não é interessante o suficiente para fazer isso. A sutileza não é o ponto forte do diretor ou ator principal aqui. Achei o desempenho [de Joaquin] totalmente comprometido, mas raso, bombástica e, enfim, exaustivo. Não é tão impactante quantoVocê Nunca Esteve Realmente Aqui’, de Lynne Ramsay, ou ‘O Mestre’, de Paul Thomas Anderson, os quais Joaquin estrelou.”

E uma votante da categoria de edição de filme afirmou:

“Vi ‘Coringa’ neste fim de semana e achei que ele foi lindamente feito em todas as áreas e é sublime – um filme quase perfeito, exceto pelo que, para mim, foi uma quantidade excessiva de violência. Espero que Joaquin Phoenix e muitos outros que trabalharam nele recebam indicações ao Oscar por seu trabalho extraordinário.”

Mas boa parte dos membros da Academia ainda não assistiram ao filme: alguns alegaram que ainda não tiveram tempo de ver ou que verão em breve (um votante da categoria de curta-metragens disse que “não pude ver na exibição da Academia na noite de sábado [6]. Mas estou ansioso para ver um filme que é tão controverso e divisivo”); outros, que por motivos pessoais ainda não assistiram (“vou ver, mas fiquei doente e perdi minhas exibições”, afirmou uma atriz votante); no entanto, certos membros afirmam que não têm a menor intenção de assisti-lo por enquanto (“eu tive duas oportunidades de assistir e passei. Sei que em algum momento eu tenho que ver a performance de Phoenix, mas o pouco que eu li sobre o filme me faz pensar que este é um filme do qual não vou gostar”, disse uma votante da categoria de atores); um diretor chegou a dizer que “com base nos meus sentimentos sobre a ultra violência, eu realmente não quero ver ‘Coringa’.

“Coringa” é uma história original, solo e nunca vista antes nos cinemas sobre a origem do principal vilão das histórias do Batman. A trama mostrará como Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem doente desdenhado pela sociedade, se tornou o Coringa.

O elenco conta ainda com Zazie Beetz, Robert De Niro, Frances Conroy, Marc Maron, Shea WhighamGlenn Fleshler, Bill Camp, Brett Cullen e Dante Pereira-Olson, escalado para viver o jovem Bruce Wayne.

Além de dirigir, Todd Phillips (“Cães de Guerra“) também co-roteiriza a obra, ao lado de Scott Silver, de “Horas Decisivas”.

“Coringa” está em cartaz nos cinemas brasileiros. Leia a crítica aqui.

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Jacqueline Elise
@jacquelinelise

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