Cinema com Rapadura

Notícias   quarta-feira, 06 de fevereiro de 2019

Sundance 2019: as principais aquisições e destaques do festival

Em um ano agitado em Park City, o festival recuperou seu status de grande mercado do cinema independente nos Estados Unidos.

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Um dos eventos mais importantes do ano na indústria do cinema, o Festival de Sundance 2019 se encerrou no último domingo (03/02) em Park City, nos Estados Unidos. Um marco do cinema independente, é lá onde diversos filmes começam sua vida no circuito comercial, com alguns chegando até mesmo à temporada de premiações, como “Moonlight: Sob a Luz do Luar“, “Manchester à Beira-Mar” e “Corra!“, entre outros (para nos atermos apenas ao passado recente).

Mas mais que uma mostra cinematográfica, Sundance é, principalmente, o grande mercado que costuma ditar as tendências que serão consumidas nos meses subsequentes. Estúdios se aventuram no frígido estado do Utah em pleno inverno para apostar em filmes que se tornarão sucessos de crítica, público ou ambos, e que gerem todo e qualquer tipo de retorno. Após um ano de vendas fracas em 2018, 2019 marcou a volta desta noção, com estúdios dispondo de quantias generosas em obras dos mais variados gêneros e temas. Por isso, o Cinema Com Rapadura separou as principais aquisições desta edição, além de filmes para ficar de olho ao longo do ano – alguns, inclusive, premiados pelo júri do festival. Quem sabe algum deles não chega ao Oscar?

Blinded By The Light

Maior aquisição de Sundance nesse ano, “Blinded By The Light” teve seus direitos de distribuição mundial adquiridos pela New Line por nada menos que US$15 milhões. Situado em 1987, auge das políticas conservadoras de Margaret Thatcher no Reino Unido, o enredo traz a história de um jovem britânico de família paquistanesa que encontra nas músicas do cantor Bruce Springsteen força para encarar os desafios de crescer em meio a uma sociedade racista e desigual. A direção é de Gurinder Chadha, que também escreve junto a Paul Mayeda Berges e Safraz Mansoor. O elenco é composto por Viveik Kalra, Hayley Atwell, Rob Brydon, Kulvinder Ghir, Nell Williams e Aaron Phagura.

The Report

Comprado pela Amazon Studios por singelos US$14 milhões, “The Report” (“O Relatório”, em tradução livre), é um dos filmes mais aclamados desta edição do festival. O valor é referente aos direitos de distribuição mundiais, e deve se justificar pelas expectativas que vem gerando para as premiações já de 2020. Baseado em fatos, Adam Driver interpreta Daniel Jones, assessor do Senado americano que investiga as chamadas “técnicas de interrogação avançadas” empregadas pela CIA após os atentados de 11 de setembro de 2001 – um eufemismo para práticas de tortura. Roteiro e direção são de Scott Z. Burns, colaborador de longa data do cineasta Steven Soderbergh. Com performances muito elogiadas de Driver e Annette Benning, o elenco conta ainda com Jon Hamm, Jennifer Morrison, Michael C. Hall e Corey Stoll.

Late Night

Outro que foi adquirido pela Amazon, “Late Night” também deixou sua marca: maior aquisição de direitos de exibição norte-americanos nesta edição, por US$13 milhões. O roteiro é de Mindy Kaling, e combina a sátira sobre talk shows noturnos nos Estados Unidos com a crítica pela falta de diversidade nas respectivas salas de roteiristas. Há quem diga que a inspiração por trás da história vem da experiência da própria Kaling durante seu período como roteirista na série “The Office“. Aqui, Emma Thompson é Katherine, apresentadora de um programa que, apesar do sucesso de audiência, é criticada pela falta de diversidade na equipe de produção. Determinada a lidar com isso, ela contrata Molly Patel (Kaling), uma aspirante a roteirista sem qualquer experiência, mas que impressionou durante o processo seletivo. A direção é de Nisha Ganatra, e completam o elenco Amy Ryan, John Lithgow, Hugh Dancy e Denis O’Hare.

Little Monsters

Dentre os relatos das aquisições de Sundance, a de “Little Monsters” daria um filme por si só. O desfecho seria situado na madrugada do último dia 28 de janeiro, com diversos estúdios em uma briga acirrada, mas com Neon e Hulu saindo vencedores em parceria pelos direitos de exibição nos EUA. Os valores não foram divulgados, mas especula-se que tenha ficado na casa dos sete dígitos. Estrelado por Lupita Nyong’o, esta comédia vem sendo descrita como “um cruzamento entre ‘Zumbilândia’ e ‘Um Tira no Jardim de Infância'”. Ela interpreta uma professora do primário que tem que lidar com diversos problemas: o pai de um de seus alunos querendo impressioná-la o tempo todo, uma estrela de programas infantis tentando interferir numa excursão da sua classe e, como se não bastasse, uma invasão zumbi. Josh Gad e Alexander England completam o elenco, com direção de Abe Forsythe.

The Souvenir

Adquirido pela A24, “The Souvenir” foi uma das sensações do festival, tanto que foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri na competição mundial e já tem uma sequência encomendada antes mesmo de sua estreia no circuito comercial. Escrito e dirigido por Joanna Hogg, o enredo do filme é baseado nas experiências da própria durante seu período estudando cinema. Entre apresentar roteiros e montar cenas, uma estudante dá uma festa para os colegas, onde acaba conhecendo um homem misterioso que, dias depois, a convida para passar alguns dias com ele. É o primeiro relacionamento sério dela, que testará seu comprometimento não apenas ao parceiro, mas também a seus amigos, família e carreira. O longa é protagonizado pela muito elogiada Honor Swinton-Byrne, filha de Tilda Swinton, que também participa. Completam o elenco Tom Burke, Richard Ayoade e Ariane Labed.

Extremely Wicked, Shockingly Evil And Vile

Depois de passar a maior parte do festival quieta, a Netflix surgiu nos últimos momentos e adquiriu os direitos de distribuição americana (e mais alguns países) de “Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile”, um dos filmes mais badalados da mostra. Estrelado por Zac Efron, o longa conta a história do assassino em série Ted Bundy, mas sob a ótica do próprio e da inocência com a qual ele vê a si mesmo. Completam o elenco Lily Collins, John Malkovich, Kaya Scodelario, Haley Joel Osment, Angela Sarafyan e Jim Parsons. O roteiro é de Michael Werwie, com direção de Joe Berlinger. Esta será a segunda obra sobre Bundy que a gigante do streaming terá em seu catálogo, seguindo o documentário “Conversations With a Killer: The Ted Bundy Tapes“.

Clemency

Apesar de ainda não ter um acordo de distribuição, “Clemency” foi talvez o longa mais elogiado desta edição, vencedor do Grande Prêmio do Júri na competição norte-americana. Com isso, a cineasta nigeriana Chinonye Chukwu, responsável por roteiro e direção, fez história e se tornou a primeira mulher negra a conquistar a principal honraria do festival. A história traz Alfre Woodard como uma guarda que executa penas de morte em uma prisão. Ela costuma desempenhar seu papel de maneira fria e quase mecânica, até que seu próximo detento é um homem potencialmente inocente (Aldis Hodge), levando-a a questionar muito de seu trabalho.

Menção Especial: Documentários

Apesar do badalo em torno dos filmes de ficção, que sempre levam diversas celebridades a Park City, um dos grandes pontos fortes do Festival de Sundance é sua programação de documentários. Nesta edição, o tom político foi algo fortemente presente, elevando duas produções à condição de favoritas do júri e público, respectivamente: “One Child Nation“, um relato sobre a ascensão e queda da política do filho único na China – adquirido pela Amazon -; e “Knock Down The House“, que acompanha as trajetórias de quatro candidatas ao Congresso americano – adquirido pela Netflix. Outros destaques foram “Honeyland“, “American Factory“, “Apollo 11“, “Cold Case Hammarskjöld“.

Menções honrosas, drama: “The Farewell“, “Them That Follow“, “Luce“, “The Lodge“, “Honey Boy“, “The Last Black Man In San Francisco“, “Brittany Runs a Marathon“, “The Infiltrators“.

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Julio Bardini
@juliob09

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