Filho Eterno | Entrevistamos o elenco e a produção do filme em São Paulo
Saiba mais sobre o filme que aborda as incertezas e medos de um pai de uma criança com Síndrome de Down.
A Síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Todos os “portadores” da síndrome, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. De acordo com o site Movimento Down, as crianças, os jovens e os adultos com a síndrome podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças, mas apresentam personalidades e características diferentes e únicas e é importante esclarecer que o comportamento dos pais não causa a síndrome de Down. Não há nada que eles poderiam ter feito de diferente para evitá-la. Não é culpa de ninguém. Além disso, a síndrome de Down não é uma doença, mas uma condição da pessoa associada a algumas questões para as quais os pais devem estar atentos desde o nascimento da criança.
Por isso é sempre muito importante quando alguma produção cultural se volta para este assunto. A representatividade, aliada ao compartilhamento de experiências é primordial para uma discussão mais abrangente sobre esta condição que afeta tantas pessoas e tantas famílias no mundo todo.
Nós, do Cinema com Rapadura, fomos convidados pela Sony Pictures, RT Features e Globo Filmes para participar da coletiva de imprensa do filme “Filho Eterno“, baseado no livro homônimo, escrito por Cristovão Tesa, que aborda o tema da Síndrome de Down pelo viés de um pai que não aceita a condição de seu filho.
Na entrevista, participaram o produtor Rodrigo Teixeira (“A Bruxa”), o diretor Paulo Machline (“Trinta”) e o elenco representado pela atriz Débora Falabella (“Lisbela e o Prisioneiro”), o ator Marcos Veras (“Copa de Elite”) e o estreante ator mirim Pedro Vinícius.
A seguir, leia os trechos mais importantes desta emocionada conversa:
Projeto: O produtor Rodrigo Teixeira comprou os direitos do livro “Filho Eterno” em 2010 e por ser uma adaptação difícil e delicada para o cinema, teve muitas dificuldades para encontrar um roteirista que topasse o desafio. Alguns anos depois, ele entrou em contato com o roteirista Leonardo Levis e o diretor Paulo Machline, que aceitaram a peleja e foram pesquisar sobre a Síndrome de Down com médicos, associações e famílias que convivem com a condição. Afinal, este fator era muito importante para que a circunstância do longa fosse retratada de maneira honesta e condizente com a realidade destas pessoas.
Futebol: No filme, todas as passagens de tempo na história são mostradas através de jogos importantes da seleção brasileira nas Copas do Mundo de futebol. De acordo com o diretor, este artificio foi utilizado para aproximar ainda mais o expectador da história contada, já que quase todo mundo associa os grandes momentos de sua vida com os anos em que acontecem o torneio (de 4 em 4 anos!). Segundo o Rodrigo, os direitos de imagens dos jogos, que estão por todo o longa, foram cedidos pela FIFA (Federação Internacional de Futebol) por uma quantia até bem razoável e muito mais em conta do que normalmente se cobrado pelos direitos de uma música internacional. Ele afirmou também, que a produção da Globo Filmes facilitou ainda mais estas negociações.
Seleção das crianças: Foram realizados testes com centenas de crianças que foram selecionadas em associações e instituições de Curitiba, no Paraná. Dentre elas, o garoto Pedro Vinícius chamou bastante a atenção da produção por ser muito inteligente, desinibido e por ter uma família incrível que o apoiou durante todo o processo. Inclusive, o menino ainda propôs cenas que não estavam no roteiro do filme e até ajudou o diretor a “cortar” as cenas.
Da comédia para o drama: O ator Marcos Veras, que tem atuado em diversas comédias no cinema, na televisão e até na internet – seu grande “trampolim” artístico foi o canal “Porta dos Fundos” – , contou que gosta de encarar desafios e que já atuou muitas vezes em dramas no teatro. Ele disse também que a maior dificuldade dele no filme não é por participar de um drama e sim pelos assuntos que ele retrata, como o peso de interpretar um pai que rejeita seu filho.
Preconceito: Segundo Machline, o longa foi planejado para que também fosse uma ferramenta a ser usada no combate contra a discriminação e o preconceito de parte da sociedade com as pessoas que possuem a síndrome e seus familiares. Mas ele também reforça que o filme deve ser assistido sem julgamentos, já que é muito difícil se colocar no lugar dos personagens e imaginar qual seria o nosso comportamento diante de uma notícia que, nos anos oitenta – época em que se passa boa parte do filme – era como um certificado de inutilidade social e intelectual.
Eu perguntei a todos eles, o que eles aprenderam na convivência com as crianças que participaram e atuaram no longa e vou transcrever trechos das respostas emocionadas que eles transmitiram:
Paulo Machline: “Todos mudaram… e eu não tinha lido o livro e nunca havia tido um convívio com a síndrome de down. Para o filme, eu me permiti mergulhar no assunto e só aprendi coisas boas. A maior delas é a doçura. Eu acredito que me tornei um pai melhor, um filho melhor e uma pessoa melhor”.
Débora Falabella: “Todos irão dizer a mesma coisa… todos saímos do filme recheados de amor!!! Eu também não tinha um convívio com essas crianças e fui “aberta” para esse projeto. Saí dele impressionada com a inexplicável inteligência emocional dessas crianças e repleta de carinho”.
Marcos Veras: “Eu passei a olhar os meus próprios problemas de maneira muito mais leve, já que estas crianças convivem com seus problemas exatamente assim. O amor e carinho que tenho e que ganhei desse cara aqui – abraçando o ator mirim Pedro Vinícius – não tem preço”.
Rodrigo Teixeira: “Apesar de ficar um pouco longe do set de filmagens, eu fiquei muito emocionado com tudo que eu absorvi no estudo para o filme, nas imagens e histórias que chegavam pra mim e mais ainda com o aprendizado que os pais delas nos transmitiram. Todos eles tornaram um filme denso e pesado, em um filme solar”.
Assista ao trailer do longa:
“Filho Eterno” conta a história do casal Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Débora Falabella) que aguardam ansiosamente o nascimento de seu primeiro filho em 1982. Porém, a alegria dos pais é transformada em incerteza e medo com a descoberta de que Fabrício, o bebê, é portador da Síndrome de Down.
O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros.
*Eu dedico esta matéria ao Rodrigo Foltran e toda a sua família guerreira, que me mostraram que apesar de tudo, o Amor e a Gentileza sempre prevalecerão.
Saiba Mais: Débora Falabella, Entrevista, Filho Eterno, Marcos Veras, Paulo Machline