Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 17 de agosto de 2019

Tudo Acaba Em Festa (2018): a responsabilidade chega para todos

Com uma comédia clichê, abusando de esteriótipos ultrapassados ao mesmo tempo que tenta mostrar algo novo no cenário nacional, a obra promete tocar em temas importantes mas infelizmente não passa de citações supérfluas.

Todo mundo conhece alguém que já enfrentou a crise dos 30. Aquela fase que você sente que não é novo o bastante para arriscar e nem velho o suficiente para sentar e lamentar. Dirigido por André Pellenz (“Minha Mãe É Uma Peça”) e apostando na mistura da velha guarda da comédia com uma nova geração, “Tudo Acaba Em Festa” tem como protagonista um personagem que está na crise dos 30 e parte dele para desenrolar sua comédia.

Vlad (Marcos Veras) é um rapaz com seus 30 e poucos anos que parece ser mais um daqueles que demoram a crescer e entender o que é responsabilidade. Ainda morando com os pais, vivendo um dia de cada vez como se não houvesse amanhã, curtindo várias noites madrugada adentro e se atrasando no trabalho no dia seguinte. Sua vida melhora repentinamente ao conhecer Aline (Rosanne Mulholland), novata na empresa que logo se torna sua namorada, porém, Vlad tem em seu DNA o dom de estragar tudo e com seu namoro não foi diferente. A última cartada é organizar a festa de fim de ano da empresa que trabalha e provar para todos que consegue realizar um trabalho bem feito.

O filme tem lá seus acertos. O diretor André Pellenz tenta dar uma identidade não muito explorada na comédia brasileira. Nos Estados Unidos é comum ver na comédia o ambiente corporativo ser sempre bem explorado, como o é o caso de “A Última Ressaca do Ano” e séries como “Brooklyn Nine-Nine“, porém no Brasil não é usual observar muito disso. Ao utilizar essa ótica e ainda fazer críticas sobre a pressão que é gerada em cima das pessoas, para que cada vez mais cedo tenham mais conquistas, foi uma ousadia muito bem vinda. A obra, que por vezes é exagerada, faz você rir e se perguntar porque está gargalhando.

Ainda assim, é possível observar muitas coisas que a obra não consegue acertar. O longa nos mostra uma trama muito rasa, os personagens mal conseguem ser trabalhados e aprofundados e, embora seja uma comédia e muitos pensem que a única função é fazer rir, a falta de raízes dos papéis é exagerada. As atuações, consequentemente, também não conseguem ser bem aproveitadas, mesmo tendo um elenco recheadíssimo de estrelas nacionalmente conhecidas. A comédia do filme é muito baseada em estereótipos (clichês que já nem são mais tendência no mundo) para fazer o humor andar, contradizendo a ousada proposta inicial de André Pellenz. Outro ponto que vai de encontro à coragem de ousar de André, é a falta de aprofundamento na problemática do amadurecimento tardio da nova geração. É cada vez mais comum vermos filhos perdurarem nas casas dos pais, e mesmo trabalhando sentem medo de assumir responsabilidades. Esse tema poderia ter mais espaço nas críticas desta produção.

“Tudo Acaba Em Festa” é uma obra que tem sua essência em ser meio besta. Com uma trama bem rasa, consegue lhe fazer rir com boas cenas, muito pela atuação de Marcos Veras que não se prendeu ao lado cinemático da obra e pode trabalhar seu jeitão humorístico. Parece ser mais um filme nacional estilo “sessão da tarde” que, se você não esperar muito, poderá dar algumas risadas, embora seja recheado de piadas superficiais baseadas em estereótipos ultrapassados mostrando que até mesmo a comédia brasileira está sofrendo sua crise dos 30.

André Bastos
@_drebastos

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