[Entrevista] The Boys | Jack Quaid e Karen Fukuhara falam sobre as gravações intensas da terceira temporada
Com novos desafios para Hughie e Kimiko, a terceira temporada foi uma das mais intensas até agora para Jack Quaid e Karen Fukuhara.
(Imagens: Reprodução/Amazon Prime Video)
Um belo dia, você está bem e tudo está normal. Sua vida, apesar de monótona e sem rumo, pelo menos não te trás tantas surpresas, apesar do mundo caótico em que você vive. Até o momento em que um indivíduo com supervelocidade atropela e mata a sua namorada na sua frente. Quem nunca, não é mesmo? Esse é o começo da jornada de Hughie Campbell em “The Boys“, um dos personagens mais interessantes de se acompanhar em meio a uma série tão cheia de espetáculos.
Interpretado por Jack Quaid, Hughie é quase que um avatar para nós, os telespectadores ordinários e sem poderes. Ele é um dos que menos se encaixa dentro do grupo que dá nome à série, alguém que se envolveu em algo claramente além de suas capacidades e fora de sua bússola moral, mas esse parece ser o preço da justiça. Além dele, o maior bastião do bom senso e razoabilidade no grupo é a jovem Kimiko, interpretada por Karen Fukuhara. Muda e com poder de regeneração, ela ajuda o Francês, o gênio do grupo, a não se perder entre drogas e as ordens raivosas do chefe, Billy Bruto.
Em entrevista concedida ao Cinema com Rapadura a convite do Prime Video, Quaid e Fukuhara comentaram como foi a preparação para a terceira temporada de “The Boys”, incluindo o famigerado episódio “Supersuruba”, os novos poderes de Hughie e a cena musical de Kimiko.
Para começo de conversa, sejamos objetivos: qual dos dois teve as cenas mais difíceis de se fazer? Ambos tiveram desafios novos ao longo da temporada. Jack Quaid acredita que Karen Fukuhara teve mais trabalho, mas ele teve as cenas mais… incomuns:
“[Apontando para Karen] Você tem muito mais lutas que eu, eu só corro pelado por aí! [risos] Eu dou um empurrão no Capitão Pátria [Antony Starr] uma vez, mas é um belo empurrão. Mas digo que tive que posicionar minhas pernas estrategicamente em diversos momentos. Tentar lutar e me cobrir ao mesmo tempo não foi fácil!”
Quaid se refere ao poder que Hughie adquire nessa temporada, o teletransporte. Um dos principais arrependimentos do personagem era se sentir limitado nas capacidades de ajudar seus amigos na luta contra os super-heróis da Vought. Junto a Billy Bruto, ele resolve tentar nivelar o jogo tomando uma versão temporária do Composto V, que garante poderes ao usuário por um tempo específico.
Enquanto Bruto se torna praticamente um Capitão Pátria sem capacidade de vôo, o poder de Hughie surpreendeu muita gente quando se manifestou pela primeira vez. O que o teletransporte diz sobre ele enquanto pessoa?
“Acho que é o poder perfeito para o Hughie. Acredito que cada poder reflita a vida interna de cada personagem. Bruto, por exemplo, carrega tanto ódio que a coisa precisa ser posta para fora, e ele faz isso pela visão a laser. Para o Hughie, ele normalmente se vê em situações das quais ele só quer sair o mais rápido possível, evitar a situação. Então gosto que os poderes dele não envolvam força bruta, é um poder evasivo. Você vê na luta com Soldier Boy [Jensen Ackles], Bruto e Capitão Pátria. São eles que estão de fato lutando contra o Capitão Pátria, enquanto Hughie é mais uma distração, para que os outros caras venham e forneçam essa força bruta. Então acho que funciona para ele dessa forma.”
Uma fala clássica de Bruto é que “com grandes poderes vêm a certeza de que você se torna um absoluto filho da p***”. Quaid acredita que o uso do Composto V faz justamente isso, mas potencializando características pessoais que já existiam:
“Também acho que, emocionalmente, ela serve ao arco do personagem. O Composto V traz à tona um pouco da masculinidade tóxica que ele tinha desde a primeira temporada, nós o vemos socando paredes e querendo gritar com as pessoas. Então isso evidencia um lado dele que sempre existiu, e algo que ele nunca gostou muito. Achei interessante brincar com as partes do Hughie que não são tão adoráveis assim. E outra coisa, eu amei que ele fica nu quando se teletransporta, é muito engraçado para mim. Nossa série apresenta a questão: ‘e se superpoderes fossem reais?’, e com teletransporte isso faz sentido, sabe? É matéria orgânica indo de um lado para o outro, é claro que as roupas não vão junto. Roupas não são parte do corpo. Então achei divertido ele ter poderes, mas com esse lado que dá um pouco de vergonha.”
Mas se Hughie ganha essa função estratégica com o teletransporte, Kimiko é uma das que fornece a tal força bruta. Apesar de acostumada com as cenas de luta, Karen Fukuhara afirma que a sequência com a Pequena Nina em “Supersuruba” ofereceu um desafio a mais após a personagem perder temporariamente seus poderes:
“Eu nunca havia lutado sem poderes antes. Normalmente, eu que dou uma surra nos outros, mas ali, fui eu que levei a surra. Tive que levar muitos golpes e fazer muitos movimentos difíceis. Você acha que é fácil fazer, mas, depois de umas duas horas, você começa a sentir o baque. Então, aquela sequência, levar a surra, o sangue espalhado por todo lado… E, acima de tudo, foi uma das cenas mais emocionantes para a Kimiko, e um divisor de águas para ela. Então, juntar isso tudo em um dia só foi bem difícil para mim.”
A terceira temporada, aliás, foi particularmente difícil para Fukuhara. Além de duas grandes cenas de luta, ela também fez a primeira sequência musical de sua carreira. “Eu nunca havia dançado na vida”, revela a atriz, o que, por si só, já é uma surpresa para o espectador desavisado:
“Tive que ensaiar bastante para a sequência de dança. Dito isso, me diverti demais aprendendo a dançar com Tomer [Capone, intérprete do Francês]. Nos divertimos muito, parecia acampamento de férias. De certa forma, isso nos entrosou ainda mais e aprofundou nossa amizade fora da série, e acho que isso se traduziu na tela, também. Uma das melhores coisas sobre nossa série é que Eric e a equipe são muito generosos com os recursos que nos são dados. Tive um técnico vocal, um técnico para linguagem de sinais, coreógrafos para as lutas e outro para a dança. Sempre que precisei de ajuda, eles estavam a postos para mim. Você não tem isso em qualquer série ou filme.”
Além de dançar, Fukuhara também canta ela mesma em todas as cenas. Kimiko pode não ter uma voz literal, mas, com seu crescimento enquanto pessoa, ela passa a se fazer ouvir cada vez mais dentro do grupo liderado por Billy Bruto, equilibrando a agressividade necessária para lutar com a ternura natural que tem como personagem. A atriz conta como é dar vida a alguém com palavras tão escassas, mas ações tão eloquentes:
“Acho que na luta com os consolos [no quarto capítulo da temporada], ela foi enviada por Bruto, ela não estava ali por vontade própria. Mas, quando ela vê as outras mulheres lá, e na situação em que elas estavam, ela consegue justificar a morte do oligarca russo. Esse foi o raciocínio dela ao iniciar a luta. Quando ela vê as consequências do que fez, pode não parecer tão heróico assim. Mas, sobre a vulnerabilidade, acredito que seja algo que esteja no roteiro da série. Ela é uma personagem tão dinâmica, talvez seja difícil para as pessoas se colocarem no lugar dela. Mas, no fim das contas, ela é só uma mulher normal posta em situações horríveis. Como vocês se sentiriam no lugar dela? Não é algo forçado.”
A consequência da missão dos meninos na Rússia é, ao retornarem aos EUA, o grupo se separar temporariamente. Kimiko e o Francês acabam perdendo a missão que leva parte da equipe à famigerada Supersuruba (para tristeza do Francês), enquanto Hughie e Bruto levam Soldier Boy ao confronto com o Capitão Pátria e os membros da Revanche, antigo time de super-heróis liderado por Soldier Boy.
Apesar do caos que se imagina com uma orgia de super-heróis e o confronto entre equipes tão poderosas, Jack Quaid ressalta que as gravações foram muito mais ordeiras do que o esperado — ele mesmo passando boa parte do episódio nu por conta de seus superpoderes:
“Foi bem interessante, na verdade. Você entra lá esperando ver uma orgia e, bom, você vê uma. Mas todos os figurantes são alguns dos mais profissionais com quem já trabalhei na vida, preciso dizer. Eles estavam tão calmos e confortáveis consigo mesmos, me deixou… Eu tinha feito cenas nu antes daquilo, mas estar nu entre outras pessoas nuas pode não parecer algo tão importante, mas me senti muito mais confortável naquele espaço, para ser sincero. Então estão de parabéns, pois são todos atores excelentes. Mas o que amo sobre o episódio da Supersuruba é que, além da orgia e tudo mais, ele é a fonte de diversos momentos importantes. A luta entre Billy Bruto e Capitão Pátria, eu tenho a discussão com o Trem Bala, Annie e Hughie têm uma briga bem grande nesse episódio. Acho interessante que o episódio que todo mundo achou que seria sobre ‘o sexo louco’ acabou sendo, no fundo, bem emocionante. Eric e os roteiristas acertaram em cheio.”
O criador e roteirista chefe de “The Boys”, Erick Kripke, já havia mencionado um elemento importante dos bastidores da Supersuruba, que foi a presença dos coordenadores de intimidade. Quaid revela que ele próprio trabalhou com essa nova categoria de profissionais, cuja função é garantir que esse tipo de cena ocorra de forma adequada e que todos estejam à vontade.
“Foi ótimo ter alguém que garanta que está tudo certo e você esteja à vontade. E é algo bem-vindo. Mesmo que você possa não precisar, é bom saber que alguém te ajuda e te apoia caso você não se sinta à vontade ou não esteja bem.”
Após a Supersuruba, contudo, a relação entre Hughie e Bruto começa a ganhar um novo significado. A trama já era um dos pontos fortes da série, mas é aprofundada quando o líder da equipe é obrigado a revisitar memórias de sua infância e lidar com a culpa que carrega pela morte de seu irmão mais novo:
“Um dos pontos altos de todas as temporadas para mim é trabalhar com o Karl [Urban] e desenvolver essa relação entre Hughie e Bruto. Acho muito interessante como, a cada temporada, os personagens precisam renegociar quem eles são um para o outro. Na primeira, Bruto era quase uma figura paterna para o Hughie, no sentido de que ele tinha todas as características que faltavam no próprio pai dele. Na segunda temporada eles estão meio que se estranhando, há mais brigas e discussões. E nessa temporada eles são amigos de novo, mas do jeito mais estranho possível. Começa com Hughie como superior do Bruto, o que é muito estranho. Mas aí, quando eles precisam se juntar, acho muito interessante como eles parecem dois viciados com um objetivo em comum. Mas foi muito recompensador encontrar novas dimensões para essa relação.”
Infelizmente, ainda não sabemos quais os rumos “The Boys” vai seguir na quarta temporada. Mas, depois de uma terceira temporada tão intensa, tanto Jack Quaid, quanto Karen Fukuhara estão prontos para o que aparecer pela frente. A atriz, principalmente:
“Não estou acostumada a fazer lutas com consolos todos os dias, foi algo novo para mim. [risos] Como tenho treinamento em artes marciais, sei os movimentos mais básicos, então, se eu trabalhar bastante, consigo fazer! [risos] Eu amei interpretar a Kimiko não só porque ela tem todas essas cenas legais em que ela tem um monte de ação, mas também porque ela também tem um lado bem vulnerável. Nessa temporada ela pôde explorar sua voz, cantar, dançar. E isso foi um sonho tornado realidade, eu nunca achei que fosse ser a líder de uma sequência musical, e calhou de ser bem em uma série caótica como essa.”
Já Jack Quaid tem um pedido bem razoável. Caso Hughie continue com o poder de teletransporte, quem sabe ele não possa vir com um traje, também?
“Só não sei quem poderia desenvolver esse tipo de tecnologia na nossa série, quem seria inteligente o suficiente para isso, para fazer uma roupa orgânica assim. Espero que a Kimiko consiga! [Fukuhara logo faz que não com as mãos e lembra do Francês] É, o Francês poderia! ‘Hughie, você não pode ficar nu, por favor, vista algo, vista algo. Por você e por mim, por favor.’ [risos]”
Afinal, não seria um Billy Bruto que iria se importar com algo tão banal quanto um uniforme para um jovem nu, não é mesmo? Se é pelo bem de Hughie e para dar um pouco mais de conforto para Quaid, ficamos na torcida.
A terceira temporada de “The Boys” já está disponível na íntegra no Prime Video. Leia nossa crítica.
Saiba Mais: Jack Quaid, Karen Fukuhara, The Boys