Cinema com Rapadura

Entrevistas   quarta-feira, 19 de maio de 2021

Cruella | Vencedora do Oscar Jenny Beavan fala sobre os elaborados figurinos do filme da Disney

Em coletiva de imprensa, equipe e elenco elogiaram especialmente o "vestido do lixo".

Cruella | Vencedora do Oscar Jenny Beavan fala sobre os elaborados figurinos do filme da Disney>

Finalmente está chegando o momento da estreia de “Cruella”. Embora esteja sucedendo já grandes sucessos como “Aladdin” e “O Rei Leão”, o novo live-action da Disney foi um dos primeiros a ser planejado pelo estúdio, com a primeira notícia sobre o projeto datada em 2013. A produção levou seu tempo para ir à frente, mas agora chega aos cinemas e ao Premier Access do Disney Plus em 28 de maio. Em preparação para o filme, o Cinema Com Rapadura foi convidado para o coletiva de imprensa, que contou com as atrizes Emma Stone e Emma Thompson, o diretor Craig Gillespie, a figurinista Jenny Beavan, a designer de maquiagem e cabelo Nadia Stacey, e a designer de produção Fiona Crombie. Leia os destaques do evento abaixo!

“Cruella” passou por diferentes estágios de desenvolvimento ao longo de anos, e com as diferentes abordagens de outros live-action da Disney, era imprescindível que a equipe encontrasse a melhor forma de trazer a renomada vilã de “101 Dálmatas” para o centro da história. Emma Stone foi convidada para o papel, mas segundo a atriz, o processo não foi tão direto assim:

Não foi tão simples como receber um telefonema para interpretar Cruella. Isso foi há seis anos. Quer dizer, foi bem antes de filmarmos. Houve uma ideia. A Disney tem todo esse IP, todos esses personagens que eles têm, e aconteceram alguns brainstorms. E foi um processo de cerca de quatro anos e diferentes roteiristas e coisas diferentes foram colocadas na mesa, e realmente parecia que nunca conseguiríamos fazer o filme de Cruella, porque embora ela seja uma personagem tão divertida e interessante, em que mundo gostaríamos de explorá-la que realmente fizesse sentido e daria um bom filme que não parecesse forçado?

E eu acho que pegá-la e colocá-la nos anos 70, por mais que ela seja Cruella dos ‘101 Dálmatas’, ela também não é, porque você pegou esse personagem e criou toda uma nova história para ela com acenos divertidos para ‘101 Dálmatas’, obviamente, e tudo mais. Então, eu acho que uma vez que Craig [Gillespie] e Tony [McNamara] vieram a bordo, realmente começou a ir para frente e ficar muito animador, e foi tipo, oh meu Deus, estamos fazendo ‘Cruella’. É inacreditável.

O diretor Craig Gillespie assumiu a direção de “Cruella” em 2018, depois de ter comandado o elogiado “Eu, Tonya”, filme estrelado por Margot Robbie que também conta com uma personagem moralmente dúbia no centro. Falando sobre sua intenção com o longa da Disney, o cineasta afirmou:

Era muito importante para mim que isso não fosse preto e branco. Obviamente, sem trocadilhos com Cruella aqui. Mas eu queria que houvesse essa área cinzenta e ser capaz de sentir empatia com as escolhas que ela estava fazendo, e as situações às quais ela estava respondendo. E eu queria fazer isso de uma forma muito divertida.

A Disney já havia explorado ter uma vilã no centro da história com “Malévola”, dando a chance ao público de entender a perspectiva da antagonista de “A Bela Adormecida”, mas o live-action estrelado por Angelina Jolie ainda possui muitos dos elementos que formam um conto de fadas da Disney, garantindo a boa e velha lição de moral ao fim. “Cruella”, no entanto, traz uma personagem que é conhecida por sua pura maldade, e tê-la como protagonista requer que sua personalidade não seja reprimida só porque é um filme da Disney. Stone falou sobre como o roteiro reescrito por Tony McNamara ajudou a encontrar esse equilíbrio. Os dois trabalharam juntos em “A Favorita”, uma boa inspiração para o que viria a ser “Cruella”, e a atriz se surpreendeu sobre o quão longe o estúdio deixou eles irem:

Eles realmente deixaram Craig e Tony escrever e fazer o que quiserem. E eu acho que está definitivamente sombrio para um filme da Disney. Talvez não para um tipo realmente intenso de filme R-Rated. Mas sim, é mais sombrio do que qualquer filme da Disney que vi por um bom tempo.

Outros elementos importantíssimos para que “Cruella” funcionasse são os departamentos de figurino, e maquiagem e cabelo, comandados respectivamente por Jenny Beavan e Nadia Stacey. Beavan é a vencedora do Oscar por “Uma Janela para o Amor” e “Mad Max: Estrada da Fúria”, e não é exagero dizer que sua terceira estatueta pode estar a caminho. A figurinista e seu time trabalharam em looks incríveis não só para Cruella, como também para a Baronesa, personagem de Emma Thompson, e sua coleção de roupas. No filme, a veterana tem um estilo um tanto antiquado, mas seu talento para moda e para os negócios é inquestionável. Para se opor a isso, está o estilo de Cruella, e segundo Beavan, o roteiro fez um ótimo trabalho em informar como a personagem se posicionaria com suas roupas, e como este elemento demonstraria sua evolução na história.

Sobre as inspirações para os figurinos, Beavan afirmou:

Sabemos onde ela termina, cerca de 15 anos depois como Glenn Close, obviamente. Então definitivamente, em minha mente, deveria ser  possível que essa personagem pudesse se tornar aquela personagem. Acho também que as inspirações foram várias porque ela é muito diversa em todos os seus looks diferentes. As pessoas mencionam influência punk. Acho que acabei olhando para muitas coisas. E daí, você meio que puxa o que parece ser o fio da narrativa. Então é claro que olhei para Westwood e McQueen e Galliano e BodyMap, e meio que vasculhei meu passado na Biba e, apenas tentando realmente encontrar todas aquelas coisas engraçadas que amamos. Mas também queria fazer uma pequena homenagem a essa coisa moderna em que estamos agora, graças a Deus, reutilizando coisas para fazer outras.

Durante a coletiva, todos mencionaram o “trash dress”, o vestido montado por Cruella em uma de suas avassaladoras demonstrações de moda pela cidade de Londres. No filme, um caminhão de lixo aparece dando ré, e soltando o que parece ser um amontoado de roupas descartadas. Então, surge a protagonista com um figurino montado por folhas de jornais e tecidos, e o que parecia ser só lixo é revelado como a grande calda de seu vestido. O visual aparece brevemente em um dos trailers:

Este figurino foi tão especial que existia apenas um exemplar dele. Foi também o favorito de Stone:

Minha roupa favorita que foi absolutamente absurda foi o vestido que eu uso no caminhão de lixo, porque havia um trem de 12 metros embaixo. E isso não estava preso ao vestido, porque obviamente eu não seria capaz de me mover para lugar nenhum, então eles adicionaram isso no vestido no último minuto quando eu entro no caminhão de lixo para filmar aquela parte. E era apenas um fenômeno – quero dizer, nada que você pudesse usar, mesmo remotamente, na vida real.

Os momentos em que a protagonista surge como rival da Baronesa, desfilando com seus looks, são importantes também para separar a persona de Cruella de Estella, quem ela é de verdade (ou seria o contrário?). Nadia Stacey falou sobre a importância da distinção entre as duas:

Ela tem que se disfarçar da Baronesa. E então, quando vemos Estella pela primeira vez, precisa ser crível que ela é uma garota que está crescendo em Londres. E então ela está criando essa persona em Cruella. Quando ela começa esses momentos no tapete vermelho, há uma espécie de qualidade de máscara em todas as maquiagens também, porque ela tem que se disfarçar. Então eu precisava que a diferença entre os dois looks fosse enorme. Então, eu precisava manter Estella bem simples para que tivéssemos um grande lugar para ir com Cruella.

Em uma cena mais próxima do final do filme, um baile requer que os convidados usem o mesmo estilo de cabelo de Cruella, com a divisão preta e branca, e para o momento Stacey precisou de 120 perucas. Ela conta que um grande problema quase ia acontecendo:

Eu encomendei uma para ter um protótipo e quando ela chegou eu estava olhando e pensando que algo não estava certo, e o preto e branco estavam nos lados trocados. E eu tinha pânico no meio da noite, imaginando se eu tivesse pedido as 120 e elas estivessem do lado errado. Chegaríamos no dia pensando: ‘Hum, algo não está certo’.

Embora sejam protagonistas apenas no futuro, dálmatas também marcam presença no filme, junto a outros dois cachorros parte da trupe da protagonista. O diretor Craig Gillespie ressaltou que era importante que a história de Cruella envolvesse os animais, e há mais significado nisso do que imaginado. Ele diz:

Os cães são uma grande parte de ‘101 dálmatas’, obviamente. Mas eu queria trazê-los de uma forma mais realista. Trabalhamos muito na história com o papel dos dálmatas e a relação de Cruella com eles em termos de como você conhece o enredo da história. E eles estão muito interligados com sua jornada emocional. E também, tendo esses vira-latas que faziam parte de sua equipe. [..] Eles eram personagens coadjuvantes de certa forma, e tinham suas próprias personalidades e preocupações.

Os cães são perceptivelmente trabalhados com CGI no longa, mas segundo Stone, eles realmente estavam no set participando das gravações, o CGI foi usado para garantir alguma expressão um pouco mais elaborada deles e para apoiar cenas mais complicadas de realmente gravar com animais.

Por fim, a história deste novo live-action da Disney é centrada na vilã protagonista e na antagonista vilã. Cruella é conhecida como sendo má, e embora ofereça uma história de origem que a personagem nunca teve, o filme não necessariamente muda quem ela é. Ao mesmo tempo, ela encontra sua própria antagonista na Baronesa, com um (mau)caráter inabalável. Sobre isso, Emma Thompson explica:

Eu sou interessada no lado sombrio de uma personagem feminina, porque raramente é permitido que elas sejam sombrias. Todas nós devemos ser boazinhas, não é? Em um momento do filme, ela diz: ‘Se eu não tivesse sido obstinada, poderia ter tido que colocar minha genialidade no fundo da gaveta, como tantas outras mulheres geniais já fizeram’. E é um ótimo ponto.

Sobre a jornada de Cruella, sua interpréte Emma Stone define:

É muito natureza versus criação, esta história. Então, o que ela acharia uma fraqueza no início ou o que sua mãe consideraria uma fraqueza no início, com sua capacidade de realmente atingir o teto rapidamente, seu tipo de volatilidade, sua reatividade, torna-se uma espécie de força por meio de sua criatividade e de seu gênio. É interessante. Eu acho que é realmente um filme sobre como seus pontos fracos se tornam seus pontos fortes, de certa forma. Embora esta não seja necessariamente uma personagem aspiracional, por assim dizer, exceto pelo fato de que ela está realmente aproveitando sua criatividade e quem ela é de uma forma muito forte, e está aprendendo a aceitar sua natureza no final.

“Cruella” chega ao Premier Access do Disney Plus em 28 de maio.

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Louise Alves
@louisemtm

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