Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 09 de julho de 2006

Premonição 3 (2006): diversão passageira para quem tem estômago forte

A franquia de terror adolescente "Premonição" chega a seu terceiro capítulo pela New Line Cinema, trazendo de volta o diretor e os roteiristas do primeiro filme, um elenco todo renovado e muito mais mortes misteriosas. O resultado: uma cópia mal feita dos dois filmes anteriores que nada acrescenta à franquia. Para os fãs de filmes tipicamente trash, cheios de violência surreal: diversão mais do que garantida!

No ano de 2000, chega discretamente aos cinemas “Premonição”, dirigido por James Wong e roteirizado por Glen Morgan em parceria com o próprio diretor. Tratava-se de mais um daqueles típicos filmes de suspense estrelado por adolescentes, mas que acabou surpreendendo, fazendo um relativo sucesso, rendendo uma continuação três anos depois, dirigida por David R.Ellis (de “Celular – Um Grito de Socorro”) e roteirizada por J. Mackrie Gruber e Eric Bress (de “Efeito Borboleta”). Se os dois primeiros custaram apenas U$ 25 milhões e renderam U$ 90 milhões e U$ 70 milhões respectivamente, por que não fazer mais um, não é mesmo? Dito e feito. Apesar de o segundo filme ter obtido um bom resultado, foi inferior ao primeiro, fato que motivou o estúdio, a New Line Cinema, a trazer de volta para o terceiro capítulo James Wong e Glen Morgan, dupla responsável pelo original.

“Premonição 3” na verdade é um claro exemplo de que novas continuações desta franquia são desnecessárias, mas sempre terão seu público e também não fazem mal algum aos fãs do gênero. Inferior aos dois primeiros, com a história mais do que batida e sem mistério algum (algo ruim para um filme que tende a ser de suspense), o filme acaba servindo como uma boa diversão – diversão no sentido de fazer rir mesmo – para quem curte filmes de violência que vão contra qualquer lei do bom senso.

Naquele que deveria ser um dos dias mais felizes de sua vida, Wendy (Mary Elizabeth Winstead), aluna do último ano do ensino médio, reúne-se com os amigos para a noite de comemoração da formatura num parque de diversões. Quando eles estão prestes a andar na montanha-russa, Wendy fica subitamente assustada. Assim que se vê presa ao assento do brinquedo, experimenta a vívida premonição de um acidente fatal no qual a montanha-russa se torna uma armadilha mortal para ela e seus amigos. De volta da visão aterradora e ainda na plataforma do brinquedo, Wendy se desespera e exige que a deixem sair. Seu colega de turma, Kevin (Ryan Merriman), sentado ao seu lado, sente-se na obrigação de acompanhá-la, chegando a provocar uma confusão no local e alguns outros presentes no brinquedo acabam por desistir também. Enquanto eles observam do chão, as previsões de Wendy se comprovam terrivelmente reais: a montanha-russa avança descontrolada, e todos no seu interior perdem a vida, incluindo o namorado de Wendy. Aqueles que sobrevivem ao desastre descobrem que é difícil escapar do destino e passam a ser perseguidos pela Morte um a um, na ordem em que abandonaram a montanha-russa.

Não há muito o que se falar sobre a história, pois ela nada mais é do que uma reprise do que fora visto nos filmes anteriores: alguém prevê certo desastre, consegue tirar algumas pessoas do local onde tal desastre acaba por acontecer de verdade, mas as pessoas que escapam acabam morrendo misteriosamente depois. Simplesmente não há nada de inovador, fora o elenco todo renovado (que, por sinal, com exceção da protagonista Mary Elizabeth Winstead, todos estão sem nenhuma emoção, tornando os personagens demasiadamente artificiais) em que nenhum personagem dos filmes anteriores retorna – antes que você vá logo chiando, eles pelo menos são lembrados de algum modo pelo roteiro. Nem mesmo a direção de James Wong tenta inovar algo imposto por ele próprio no primeiro capítulo, apelando demasiadamente para os sons do ambiente e a sombria trilha sonora de fundo, deixando sempre a impressão de que algo misterioso ronda a cena e algo ruim logo irá acontecer. E isso definitivamente é ruim, pois nós, espectadores, de antemão, sabemos quando algo de ruim irá ocorrer, e até mesmo como certas mortes irão acontecer. Vez ou outra tal estratégia é aplicada propositalmente a fim de enganar o espectador, fazendo-o imaginar uma morte de um jeito, mas esta acaba se dando de outro, e quando isso ocorre, chega a ser um ponto positivo, mas, mesmo assim, nada chega realmente a surpreender.

No fim das contas, “Premonição 3” não chega a ser um filme de suspense, e sim um típico terror adolescente trash – e ponham trash nisso -, de modo que parece que a intenção do diretor nunca é surpreender, e sim, chocar pelo festival de mortes horripilantes. Os bons admiradores daqueles filmes ao estilo dos primeiros “Sexta-Feira 13” e uma série de outros que passavam no antigo “Cine-Trash”, da Band, – ah, não posso esquecer dos milhares de “cineastas amadores” que pegam a antiga câmera que têm em casa e resolvem fazer um filme de terror, usando e abusando de sangue falso e bonecos para simular os cadáveres – certamente irão se divertir bastante com “Premonição 3”. Muitas das cenas de mortes decorrentes na projeção são bastante criativas, para não dizer bizarras ao extremo. Sangue, miolos, tripas, corpos sendo mutilados o tempo todo… tudo está presente em excesso, divertindo bastante os admiradores desse padrão, principalmente pela grande maioria dessas cenas fugirem qualquer lei do bom senso, se tornando um divertimento dos bons rir das situações apresentadas. O que dizer do momento em que patricinhas são torradas vivas naquelas máquinas de bronzeamento artificial, e o momento em que uma personagem é perfurada por pregos? Momentos agonizantes muito bem dirigidos, que mostram a que esse terceiro capítulo realmente veio.

A franquia é famosa por seus acidentes grandiosos, e muito marketing foi feito em cima da tão aguardada cena do desastre na montanha-russa neste terceiro, afirmando-se que seria a mais complexa de todas as seqüências de abertura de desastres dos três filmes. Alarme falso! Não que a cena em si não seja bem feita, muito pelo contrário, pois ela é bastante eletrizante, conseguindo bem jogar o espectador no desespero do momento; porém nem de perto se iguala ao acidente no avião do primeiro filme, e, principalmente, ao espetacular desastre rodoviário do segundo. O grande problema é que a tal cena da montanha-russa ocorre logo com poucos minutos de projeção e dura pouquíssimo tempo, perdendo importância e deixando uma vaga sensação no ar de “já acabou?!?!”. Coitado do elenco que, na preparação para o filme, teve que andar no brinquedo do cair da tarde ao nascer do sol, de 20 a 25 vezes por noite, para, no fim das contas, rodar uma cena tão curta.

“Premonição 3” é um filme que agrada em cheio a quem busca unicamente se delirar com mortes para lá de bizarras, ressuscitando de uma maneira mais do que divertida aquele velho terror trash estrelado por adolescentes dos anos 70-80. Quem espera uma história criativa, surpresas, reviravoltas no roteiro e até mesmo inovações na franquia “Premonição”, é melhor passar longe, afinal, o que se vê é uma tentativa não muito feliz de copiar o estilo dos dois filmes anteriores. Diversão passageira para quem tem estômago forte seja para agüentar a sanguinolência, e principalmente, as risadas.

Thiago Sampaio
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