Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 06 de maio de 2006

Missão Impossível 3 (2006): tecnicamente perfeito e com grande tensão

Um blockbuster com "B" maiúsculo é o melhor termo a ser dado para o terceiro filme da franquia Missão Impossível. Frenético e excitante, o filme cumpre com seus propósitos de aventura/ação.

Em 1996, um filme chamado Missão Impossível, que trazia o galã Tom Cruise como protagonista, chama atenção por cenas muito boas e uma condução bem elaborada. Quatro anos depois, o segundo filme é lançado, porém o resultado foram cenas e mais cenas de ação não muito boas e um protagonista fugindo do padrão do primeiro filme. Agora, em 2006, depois de uma inevitável expectativa, Tom Cruise está de volta como Ethan Hunt, mas com uma adição para que essa expectativa seja válida: a direção de J.J. Abrams, a qual falarei mais detalhadamente adiante.

Dessa vez, o agente acostumado com missões ditas impossíveis de serem concluídas terá de salvar uma ex-pupila que foi capturada em uma dessas missões por um perigoso ativista do comércio ilegal, Owen Davian, interpretado pelo ganhador do Oscar de Melhor Ator pelo filme Capote, Philip Seymour Hoffman. Após algumas falhas na primeira missão (algo que não acontecia nos filmes anteriores), Ethan terá que se ater mais uma vez ao impossível, a fim de apagar a falha inicial, retornando assim a sua imagem diante de seus superiores.

É lógico que se eu escrever mais dos pormenores do filme, ele se esvairá nessa crítica, por isso, tenha em mente que essas premissas do parágrafo anterior terão acréscimos de muita ação e algumas tramas relacionadas ao roteiro. Haja vista que filme de ação sem seus famosos pormenores é totalmente descartável e quando se fala em fazer ação, existe alguém melhor do que J.J. Abrams para isso?

Se você acompanha os seriados Lost e Alias, verá muitos aspectos dessas produções em Missão Impossível 3. J.J. Abrams, o criador das duas famosas séries (e de mais outras e ainda mais outras que virão por aí), não poupou seu repertório ao dirigir Tom Cruise & Cia. É um trabalho realmente estupendo. Não digno de Oscar, pois filmes do gênero são facilmente descartáveis, mas se a sua intenção é diversão e todos os seus preconceitos diante dos filmes-pipoca forem vencidos, não é de mau gosto bater palmas para o trabalho do competente Abrams. Mas como um filme não se faz só de direção, temos que analisar outros aspectos.

O fato já aguardado era que todos os elementos dos dois filmes anteriores fossem novamente usados. Por isso escolhi falar deles no começo da crítica. Sim, eles foram usados novamente. Sim, eles foram melhor utilizados. E sim, eles têm acréscimos técnicos altamente relevantes para o sucesso do projeto. Um desses aspectos são as colocações das câmeras e a perfeição do estilo a serem utilizadas. Juntas com o momento frenético, elas te hipnotizam, te levando para dentro da ocasião. Outro acréscimo relevante é a perfeição dos efeitos sonoros. Se você pretende assistir o filme em casa só quando sair em DVD, fique informado que uma boa parte dele estará sendo jogada fora, pois estrutura que só um cinema oferece é fundamental. Não tirando o mérito dos efeitos sonoros nos anteriores, mas esse foi realmente algo fenomenal. Bem ao estilo Guerra dos Mundos, também estrelado por Tom Cruise.

O elenco do filme é consistente. Tom Cruise deve ter suado muito para reviver o agente Ethan, mesmo porque a postura do personagem com relação ao segundo filme está um tanto quanto diferenciada. No anterior, Ethan era bem arrogante, galanteador e aventureiro. É só lembrar da primeira cena do filme anterior, na qual Ethan escala corajosamente paredes rochosas em suas “férias”. Agora, até o cabelo fora cortado, o que remete dizer que veremos um Ethan mais retraído. Méritos para quem tocou seus dedinhos nesses aspectos pouco observados, mas que fazem uma diferença bem acentuada no subconsciente de quem assiste. Mérito também para um rapaz chamado Philip Seymour Hoffman. Quando você assiste ao filme Capote e em seguida vê Missão Impossível, é mais do que notável a competência do premiado ator. Em um, ele interpreta um extravagante homossexual de forma graciosa, detentor de uma voz fina e complicada de ser feita. Quando menos se espera, ele chega com Missão Impossível e traz à tona um vilão de mão cheia. Voz, imponência e prepotência são elementos facilmente notados em sua excelente atuação.

Por outro lado, muitos erros de continuidade são observados, um escandaloso furo no roteiro e um finalzinho, que eu vou te contar, só sendo cego para aceitá-lo. Enfim, erros que não apagam o sucesso geral tendo em vista o que foi proposto por toda a equipe que se envolveu com o projeto. Sinceramente, eu temia o filme pelo papelão que foi o segundo, mas, felizmente, ele queimou minha língua. Com isso, espero que resolvam ficar por aí, pois premissas para um quarto eu não vejo e não espero que estraguem a franquia com o bom desfecho que lhe foi dada.

Quando se está disposto a fazer um blockbuster, o mínimo que se espera é uma parte técnica beirando a perfeição e muitos elementos que levem o espectador à plenitude quando esse busca um puro entretenimento. À uma simples vista, esses elementos podem parecer simples, todavia fazer o que foi feito, com tal audácia, não é nada fácil. Com o mesmo equipamento e apoio, tente fazer algo parecido, você verá que a experiência de J.J. Abrams faltará; e muito!

Essa crítica se auto-destruirá em 5 segundos… 🙂

Raphael PH Santos
@phsantos

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