Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 28 de julho de 2005

A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005): diversão e nostalgia

Neste filme Tim Burton está no seu habitat natural. Então, como era de se esperar, o filme é mágico, musical e acima de tudo, para os mais crescidinhos, nostágico pra caramba!

“A Fantástica Fábrica de Chocolate” de 1971 é um clássico; isso é um fato. Contudo, o porquê daquele filme se tornar o que ele é não sei ao certo: as atuações são fraquíssimas, a produção é um tanto quanto tosca (mesmo levando em consideração a época em que foi produzido), possui personagens que causavam mais medo do que empatia (quem nunca teve medo dos Oompa Loompas e a sua musiquinha que não saia da cabeça?) e o roteiro é um tanto quanto simplório. Entretanto, admito que sou fascinado pela magia que aquele filme transpassa. Desde sua trama bizarra e, por horas, non-sense, até os mesmo Oompa Loompas que me deixava apavorado, tudo naquele filme têm um tom onírico e, atualmente, nostálgico.

Portanto, quando fiquei sabendo que o gênio Tim Burton iría comandar um regravação do clássico infantil, fiquei ao mesmo tempo feliz (afinal, era Tim Burton!) e receoso (o mesmo Tim Burton criou o remake ‘apenas interessante’ “Planeta dos Macacos).

E é, com muita felicidade que venho informar: esse novo filme de Tim Burton é maravilhoso. Fazia muito tempo que eu não me sentia transportado para um mundo mágico e leve, onde a razão é deixada de lado e somos envolvidos por cores, músicas e situações no mínimo inusitadas – acho que a última vez que me senti assim foi quando vi “Peixe Grande”. Um doce para quem adivinhar o diretor. 😀

A história deste filme não difere muito da do original: Willy Wonka, o excêntrico dono das indústrias Wonka – famosa pelos doces fabricados -, após um ostracismo de 15 anos, resolve abrir as portas de sua fábrica para cinco sortudos que conseguir encontrar os cinco bilhetes dourados espalhados em todas as barras de chocolates Wonka do mundo. Assim, todas as crianças começam uma verdadeira maratona para encontrar o tal bilhete dourado. Novamente vemos que os personagens do filme passado estão lá, juntamente com suas características caricaturais (ô cacofonia doida!): Augustos Gloop (Philip Wiegratz), o glutão que todos os dias come chocolate; Violet Beauregarde (Annasophia Robb), a menina que adora mascar chiclete e, neste longa, tem uma política de ‘vencer a todo custo’; Mike TV (Jordon Fry), o garoto que, antes era viciado em televisão e apaixonado por westerns, agora é transformado em um garoto viciado em jogos eletrônicos e, de preferência, violentos; Veruca Salt (Julia Winter), a garota mimada e pedante, exatamente como no original e, por último, Charlie Bucket (Freddie Highmore, do maravilhoso “Em Busca da Terra do Nunca) interpretando o garoto pobre, família e bondoso.

Juntos, as cinco crianças e seus respectivos responsáveis embarcam numa jornada pelas inúmeras salas da fábrica, onde o caráter de cada rebento é posto em prova e, com isso, causando a grande ‘moral-da-história’.

Que Tim Burton é um mago ao lidar com mundos oníricos e verossímeis isso não é novidade, mas é incrível como a fábrica de Wonka se tornou infinitamente mais interessante, colorida e alto-astral com o dedo de Burton. Sua meticulosidade em ter um amor por cada peça que compõe os cenários é algo sempre louvável, tendo em vista que todas as salas são curiosas e instigantes. E assim, como em todos os filmes de Burton, os cenários são um show à parte e enchem os olhos de qualquer expectador.

Johnny Depp, para variar, está totalmente compenetrado no papel. Ouso até dizer que gostei mais dele no papel do que Gene Wilder. Nesta película, Wonka é um homem muito mais ressentido com a vida, egoísta, excêntrico, bizarro, andrógeno e… engraçado pra caramba! Com certeza ele é um dos atores mais talentosos e sua geração e, provavelmente, quebrará, novamente, a tradição de um prêmio acolá em não indicar atores por papeis cômicos.

Quantos aos outros atores, reservo-me no direito de apenas dizer que eles estão corretos e competentes, já que os seus papeis não dão muito leques de possibilidade para alterá-los. É aquilo e pronto. Talvez o único que poderia mostrar um personagem mais tridimensional é Freddie Highmore, mas infelizmente ele faz apenas o arroz-com-feijão, provando que não é a versão masculina de Dakota Fanning. :-p

E agora um recado para os fãs dos pequenos seres da Loompalândia: podem respirar calmamente. A opção de Burton em representá-los apenas com o rosto do ator Deep Roy é totalmente feliz, além dos Oompa Loompas serem representados aqui como ‘homens pequenos’ e não anões, como era no filme de 71. Entretanto, pode ser que com o tempo eu mude de idéia, mas as músicas dessa nova versão não me cativaram tanto como o clássico “Oompa Loompa, doompadee dôo /
We have a perfect puzzle for you”. Mas, prestem atenção, não estou dizendo que essas novas musiquinhas não são boas, e sim, que não me marcaram como as suas precursoras. Entretanto, afora as músicas dos empregados da fábrica, todas as outras são muito boas e traduzem por completo o espírito do longa. Mas, era de se esperar, afinal, quem está à frente da trilha é nada mais, nada menos que Danny Elfman, responsável pelas trilhas dos Batman de Tim Burton, “Os Fantasmas Se Divertem”, “Marte-Ataca”, e mais um punhado de filmes de Burton. Isso sem contar que a de “Os Simpsons” é de sua autoria também. Ah! E o cara que canta as músicas dos Oompa Loompas é ele também! Ufa! ;-D

Mas… (sempre tem esse ‘mas’)

O único tropeço que o filme comete é sua exacerbada questão de deixar explicita a famigerada ‘moral da história’. É incrível como Charlie é o filho que todos os pais gostariam de ter: inteligente, ‘de bom coração’, amigo de todos, compreensivo e altamente família. Pode ser que, por eu não ter nenhuma característica dele e ser um verdadeiro crápula, não tenha me identificado com o personagem. :~(

Enfim, contando uma história conhecida, sendo essa refilmagem claramente melhor adaptada (alguém se lembra da cena da casa das bolhas, onde as crianças ficavam flutuando? Era tosqueira pura…) o filme se mostra altamente atrativo e divertido. Contudo, se você analisar, a essência do livro de Roald Dahl – alicerce para os dois filmes – foi mantida e tudo está nos conformes. Com certeza “A Fantástica Fábrica de Chocolates” é um sério candidato para a próxima década de principal filme da ‘Sessão da Tarde’. Assista o quanto antes (faça o possível para assisti-lo legendado). Na pior das hipóteses a sensação de nostalgia estará lá; assim como um sorriso quando vir as brutalidades de Willy Wonka na tela.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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