Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de janeiro de 2006

Loucuras de Dick e Jane, As

Depois de algum tempo afastado do gênero que o consagrou, Jim Carrey volta nessa comédia rasgada – na verdade, uma refilmagem de um filme de 1977 – que cumpre bem seu papel e causa boas gargalhadas no melhor estilo blockbuster de diversão descartável.

Logo de cara vemos no filme o típico humor corporal de Jim Carrey que acaba sendo, por bem ou mal, sua marca registrada. Está presente no filme o velho estilo do ator de fazer o espectador rir com seus hilários trejeitos e expressões faciais. Essa é, sem dúvida, uma das características inconfundíveis desse que é tido como um dos maiores nomes da comédia atual.

Em “As Loucuras de Dick e Jane”, Dick é um funcionário de uma conceituada companhia que é casado com uma bela mulher e parece ter a vida ideal, principalmente quando é repentinamente promovido ao cargo de vice-diretor de relações públicas da empresa, o que lhe dá a perspectiva de um futuro promissor e o faz, inclusive, convencer sua mulher a pedir demissão de seu emprego para passar mais tempo com o filho dos dois, um garotinho simpatizante da cultura latina devido à influenciada babá.

O que Dick não sabia, no entanto, é que sua promoção era apenas parte de um ardil armado pelo dono da empresa, que o usou para tentar justificar o golpe que havia dado em seus acionistas, o que veio a falir a companhia e deixar todos os seus funcionários desempregados. A vida de Dick é completamente desestruturada quando ele não consegue um novo emprego e vê os seus recursos financeiros se esgotando. Ele e sua mulher, Jane, então, acabam se tornando ladrões. Tudo começa com simples furtos de comida e, de repente, vai tomando proporções maiores. Dick e Jane viram verdadeiros criminosos, e do tipo que não levam o menor jeito para a coisa.

A química entre Jim Carrey e Téa Leoni – que interpreta sua mulher e é uma atriz em ascensão em Hollywood – se dá muito bem, o que contribui para que a comédia flua. Há cenas verdadeiramente hilárias – chegando a beirar o ridículo – como quando o casal e seu filho, já totalmente sem dinheiro, usam o aguador automático dos vizinhos para tomar banho ou quando, após ser confundido com um imigrante ilegal e ser preso, Dick foge da prisão com a ajuda da mulher. Alec Baldwin também está muito bem em sua participação. Ele empresta o ar cínico perfeitamente ao seu personagem, o inescrupuloso dono da empresa em que Dick trabalha

Um aspecto que pode passar despercebido, no entanto, é que o filme é mais inteligente do que parece. A história não deixa de fazer uma crítica à sociedade capitalista. A glória e a decadência da vida dos personagens é completamente guiada pela posse e ausência de dinheiro e seu comportamento oscila entre o padrão bem visto e o desespero por causa disso. O chamado “sonho americano” se transforma em pesadelo num piscar de olhos.

Apesar de acertar em diversos aspectos, o filme, como não poderia fugir da fórmula dos blockbusters, utiliza-se de alguns clássicos clichês das comédias, mas afinal, talvez seja isso mesmo que garanta seu sucesso dentro do que se propõe a fazer. Os clichês, nesse caso, são muitas vezes até propositais. Uma forma de repetir o que costuma dar certo em filmes do gênero – característica marcante de filmes comerciais como esse e que costumam garantir o “riso fácil”.

A trilha sonora é em sutil, mas interessante com musiquinhas que a gente sabe que conhece, mas ficaram em algum lugar de um passado próximo.

Enfim, “As Loucuras de Dick e Jane” é uma boa comédia, mas nada além disso. É aquele tipo de filme pra ser visto quando se que ir ao cinema para dar umas boas risadas e desfrutar de um tipo de diversão despretensiosa. Todo mundo precisa desse tipo de filme de vez em quando, até o mais exigente dos cinéfilos.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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