Xicrinho e Caneco retornam para uma temporada mais criativa, mais engraçada e com personagens mais desenvolvidos.
Pouco mais de seis meses após o lançamento de “Cuphead – A Série”, a Netflix já tratou de publicar a segunda temporada com as aventuras do Xicrinho e do Caneco. Aproveitando o hype do jogo, que voltou a ter evidência após a recente DLC The Delicious Last Course, a novidade fica por conta da participação mais recorrente da Sra. Cálice.
A elogiada proposta da primeira temporada continua a mesma por aqui: personagens em 2D em um cenário 3D com uma maravilhosa técnica que emula a projeção de um rolo de filmagem antigo. O roteiro segue apostando nos exageros para fazer humor e no embate das personalidades caóticas da dupla de protagonistas versus a malandragem da Sra. Cálice e a maldade do Diabo.
Enganados no final da primeira temporada, os protagonistas foram presos após invadirem uma fábrica de biscoitos. Agora são 13 episódios, ainda com uma média de 15 minutos, mas dessa vez com algumas histórias um pouco mais longas, como o terceiro, que tem cerca de 20 minutos de duração.
As expressões faciais estão ainda mais engraçadas e os episódios passaram a dar mais ênfase a piadas rápidas e precisas. As personalidades de Xicrinho e Caneco estão mais desenvolvidas, com o primeiro com uma tendência à psicopatia, e o segundo como um pouco (bem pouco) de voz da razão. A animação segue linda, com certos frames que poderiam virar quadros e um humor voltado para o absurdo e para a falta de sentido que funciona perfeitamente neste contexto.
Para quem gosta de easter eggs, a série é um show à parte. São diversos elementos originais do jogo Cuphead, como chefões, personagens secundários e localizações reconhecíveis da Ilha Tinteiro — nada é por acaso, os criadores do game, os irmãos Chad e Jared Moldenhauer estão entre os produtores executivos do Studio MDHR.
O melhor dos episódios, o terceiro, em que Xicrinho e Caneco precisam ajudar um pirata a conquistar o amor de uma sereia/monstro marinho, envolve personagens que eram chefes de fase no game. O uso dos personagens é maior do que apenas uma homenagem, dando a eles personalidades carismáticas e úteis para o andamento da história. Outras aparições divertidas são da Baronesa BomBom e o chefe castelo doce, que inclusive, possuem cenas que reproduzem a batalha com os protagonistas conforme visto na obra original.
Ainda que a segunda temporada seja mais criativa, mais engraçada e com personagens mais bem trabalhados, fica a impressão de que falta um arco mais desenvolvido para todo o projeto, um problema da primeira temporada que continua presente nos novos episódios. É comum que animações seriadas tragam os episódios chamados de fillers, ou seja, tramas que não fazem parte da história original e que são criados com a finalidade de prolongar os arcos. Porém, nessa série, ficam evidentes as histórias que estão apenas preenchendo espaço, por mais que ainda sejam muito divertidas. As cenas com interação entre o Diabo e o Escudeiro são excelentes e poderiam ter mais tempo de tela no lugar de uma das eternas brigas entre os protagonistas. Já a Sra. Cálice é uma excelente adição para a animação e poderia ter aparecido mais vezes também.
A nova leva de episódios de “Cuphead – A Série” evolui vários pontos em relação a anterior e conta com um ótimo gancho no final para uma terceira temporada. Mais uma vez, a série funciona muito bem, mesmo para aqueles que nunca ouviram falar no jogo. Ainda falta um roteiro com um arco mais assertivo, mas a obra caminha a passos largos para o seu ápice. Impossível não ficar animado.