Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Coquetel Explosivo (Prime Video, 2021): muita promessa para uma entrega mediana

Filme de Navot Papushado é divertido em partes, mas falha ao construir uma protagonista desinteressante

“Coquetel Explosivo” conta a história de Sam (Karen Gillan), uma assassina de aluguel que seguiu os passos da mãe, Scarlet (Lena Headey), que por sua vez precisou fugir de uma gangue quando a filha tinha apenas 15 anos, e desde então as duas nunca mais se viram. Anos depois, já adulta, Sam é enviada para uma missão sem todas as informações necessárias, e acaba matando alguém que não devia. E sua situação fica ainda mais complicada quando ela precisa salvar Emily (Chloe Coleman), uma menina de oito anos, de pessoas perigosas.

Uma das primeiras coisas que podem vir à cabeça quando assistimos ao filme dirigido por Navot Papushado e roteirizado por ele em parceria com Ehud Lavski são as comparações com John Wick. Assim como no longa protagonizado por Keanu Reeves, aqui é criado um submundo criminoso com várias regras e locais-chave para as organizações. Porém, na obra de Papushado, um dos problemas centrais é a caracterização da sua protagonista. O máximo que aprendemos sobre ela é que se trata de uma filha de assassina, e que seguiu os passos da mãe. Quando filmes de ação decidem expor pouco sobre suas protagonistas, é interessante que elas sejam interpretadas de uma forma que consigam transmitir carisma ou identificação suficiente com a audiência através da sua atuação. Infelizmente, isso não acontece aqui.

Karen Gillan, que já se mostrou competente até demais em outras obras do gênero (como interpretando a Nebulosa do MCU, e também nos filmes recentes de Jumanji), não trouxe a energia necessária para Sam – o que não é completamente culpa da atriz, já que o próprio roteiro não faz questão de apresentar o material necessário para essa construção.

Tudo bem que ela seja durona e de poucas palavras, afinal, assim são a maioria dos protagonistas do gênero. Mas nenhum elemento a mais é inserido para fazer a audiência se importar de fato com ela. Até mesmo o conflito com Emily é mal introduzido: nada até ali indica que ela se importaria com alguém naquela situação, por mais que seja apenas uma criança. Tentam forçar uma identificação entre as duas personagens, mas de início não funciona, pois nenhuma sabe nada sobre a outra para que essa abordagem faça sentido. Muito pelo contrário, o longa joga na sua cara através de um diálogo fraco o que o espectador deve sentir nas cenas iniciais entre as duas.

E não ajuda que as cenas de ação da primeira metade da obra deixam bastante a desejar, parecendo estoicas e ensaiadas ao extremo. Ao menos esse defeito se conserta na segunda metade, que oferece uma ação mais fluida e bem coreografada. Em certos momentos, parece até que estamos assistindo a outro filme.

É bom ver tantas atrizes veteranas como Carla Gugino, Michelle Yeoh e Angela Bassett num filme de ação, principalmente quando consideramos que Hollywood tem o costume de não colocar atrizes mais velhas em papéis do gênero. Só ficaria ainda melhor se tudo ao redor delas fosse do mesmo nível que elas trazem para a obra. A personagem da Lena Headey, especialmente, traz uma vibe mais realista para a história, fazendo com que ela se destaque positivamente durante suas aparições.

O humor puramente britânico que tentam inserir com alguns personagens bobalhões parece totalmente deslocado do resto da história. Esteticamente, ele também não apresenta nada de muito interessante ou inovador, salvo por uma cena de luta muito bem executada que acontece em uma lanchonete no terceiro ato. A boa notícia é que, também na segunda metade, o relacionamento entre Sam e Emily vai ganhando força, principalmente porque a atriz mirim é muito carismática. E sua personagem parece ter um espaço na trama, de fato, quando começa a ter um papel ativo, ajudando os esquemas de Sam para salvar as duas.

O grande ponto do filme é esse: se você conseguir passar pelas partes sofríveis, pelo menos vai assistir a um desfecho gratificante, mesmo que não seja nada grandioso. Pelo menos entediante ele não é. No fim das contas, “Coquetel Explosivo” é um longa que pode até ser uma boa distração, mas é preciso estar pronto para esquecer da experiência pouco depois que os créditos começarem a rolar.

Lívia Almeida
@livvvalmeida

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