A franquia tem aqui uma história que funciona muito bem em longa-metragem, temperada por animação melhorada e sequências de ação memoráveis.
Se passando entre os episódios 22 e 23 da série original, “Cowboy Bebop – O Filme” foi um trabalho pelo qual o diretor Shinichiro Watanabe ansiou, já que enxergava os episódios do anime como curtas-metragens.
A história gira em torno de um ataque terrorista em planejamento para dizimar a população humana de Marte – neste universo, a Terra foi praticamente destruída. Claro que a recompensa pelo criminoso é alta e a tripulação da Bebop vai atrás. É um bom trabalho do roteiro em mesclar elementos que apresentem o lore para quem não conhece a série, mas sem ficar repetitivo demais para fãs de longa data.
Lançado três anos após a série, é notável que o maior orçamento e investimento em estruturas melhores renderam uma animação mais fluida e sólida, trazendo uma qualidade visual que encanta, e permitindo que cenas de ação fossem melhor aproveitadas. Há uma cena de perseguição de naves absolutamente incrível, não devendo nada às melhores sequências de “Top Gun”.
Um fato interessante é o de que há duas sequências que Watanabe não dirigiu: a abertura, dirigida por Hiroyuki Okiura; e uma cena de filme de faroeste exibida num drive-in que aparece no longa, capitaneada por Tensai Okamura. Eram cenas complexas, às quais o diretor não podia dedicar o tempo necessário. O resultado são momentos tão organicamente incluídos na trama que não se percebe diferentes direções.
O antagonista se revela um dos melhores personagens já encontrados pela tripulação da Bebop. Vincent Volaju (Tsutomu Isobe) tem visual chamativo e imponente, com clara pose e forte presença. Ele consegue rivalizar com Spike (Kôichi Yamadera) em artes marciais, o que, com as melhorias mencionadas acima, resulta numa das melhores cenas de luta de toda a franquia. Mais longa e dinâmica, e ambientada em um momento chave do conflito, ela é rica em adrenalina e narrativa.
Spike, aliás, é claramente o protagonista desta história, e suas visões de mundo são exploradas mais a fundo, levando o espectador a conhecê-lo de uma forma que um episódio só não conseguiria. Isso, infelizmente, implica no resto da tripulação ter papéis pouco relevantes.
A trilha sonora é um dos trunfos da franquia, e aqui a compositora Yoko Kanno se superou. Algumas das melhores canções de todos os álbuns se encontram aqui, com a mesma mescla de diferentes estilos que sempre caracterizou a obra. Ora sedutora, ora frenética, ora melancólica, cada peça musical se encaixa como uma peça de Lego nas emoções em tela. Destaque para Cosmic Dare, Ask DNA, Pushing the Sky e o fantástico encerramento, Gotta Knock a Little Harder. Como o título original se traduz para algo como “Batendo na Porta do Céu”, referenciando a música homônima de Bob Dylan, o tema proposto encaixa como uma luva. Dylan, aliás, foi inspiração para o visual de Vincent.
Mesmo com o ritmo às vezes demasiadamente lento, os carismáticos personagens, um antagonista memorável e cenas de ação e lutas de alto nível, “Cowboy Bebop – O Filme” é uma baita amostra do que esta franquia pode fornecer.
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