Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Star Wars: A Resistência (2018-2020): a Força não é forte aqui

Belo visual e participações de personagens dos filmes não compensam roteiro inconsistente e arcos narrativos apressados.

A franquia “Star Wars” costuma entregar animações de boa qualidade narrativa e que realçam acontecimentos dos filmes, ao mesmo tempo que apresentam personagens marcantes e exploram o lore deste universo com alta eficácia. “Clone Wars” e “Rebels”, se possuem suas falhas, são bons exemplos. A série “Star Wars: A Resistência” tenta alcançar nível similar de qualidade, mas fica muito aquém de suas predecessoras.

Claramente voltada para um público mais jovem, a produção apresenta o protagonista Kaz que, apesar de ter algumas habilidades, se porta como um pateta divertido. Mesmo com o bom trabalho de voz do ator Christopher Sean, é difícil fazer o personagem se tornar memorável quando o roteiro o priva de grandes momentos de amadurecimento.

Um bom exemplo é o final da primeira temporada. Espelhando um dos principais acontecimentos de “Star Wars: O Despertar da Força”, o choque sentido pelo protagonista dá esperanças de que a obra vai amadurecer junto com ele. No entanto, conflito nascido disso é rapidamente abandonado e o arco narrativo de Kaz pouco evolui ao longo da narrativa.

Dave Filoni, muito responsável pela história das animações anteriores e da boa “The Mandalorian”, ficou apenas com o produtor executivo aqui, e seu distanciamento é sentido. Se a série consegue remeter a eventos da trilogia de Rey de forma interessante (e até com participações de personagens, como Poe Dameron com o próprio Oscar Isaac na voz), ela falha em entregar episódios de méritos consistentes.

Há muitos fillers e vários capítulos possuem roteiros fracos, cheios de facilidades forçadas ou, simplesmente, bobos. Em alguns momentos, a escrita chega a ser atroz. É comum apresentar conflitos que geram expectativas, porém são deixados de lado por tanto tempo que, quando precisam ser solucionados, é tudo feito com muita pressa e carente de qualquer impacto memorável.

Entretanto, há elementos a serem elogiados. O universo de “Star Wars” desenhado com a técnica cell shading é de encher os olhos. Com imagens geradas em 3D por computadores e tratadas para parecer 2D, o mundo parece vivo e palpável, fazendo as cores saltarem da tela. O cenário da estação Colossus é intrigante e variado, além de a sensação de comunidade entre os que moram lá ser bem construída.

Aliás, os personagens são outro ponto positivo. Há vários interessantes e com premissas incríveis, entretanto eles sofrem com um roteiro que poucas vezes permite que o espectador acompanhe suas evoluções com eficiência. O melhor exemplo disso é Tam (voz de Suzie McGrath), que tem uma história cativante na primeira temporada, resultando numa trama que poderia trazer inúmeras discussões relevantes sobre o cenário sociopolítico da galáxia e jornadas emocionais carregadas de drama. No entanto, a segunda temporada a trata mal e o fim de seu arco é oco.

Apesar de tudo, a série consegue, até certo ponto, mostrar que as pessoas podem se inspirar em outras figuras e se rebelar contra a tirania, mas é tudo muito mastigado e apressado. O texto é bem-sucedido em mostrar como fascismo e ditadura vão se instalando aos poucos, mantendo os ânimos do povo por baixo até que, quando percebem a opressão em que se encontram, já estão sem saída ou liberdade.

Com apenas duas temporadas, ambas disponíveis na Disney Plus, esta animação que se passa concomitantemente à trilogia de Rey, Finn, Kylo e BB8 tem seus acertos, mas nunca chega perto da grandeza de momentos que outras produções da franquia conseguiram atingir. “Star Wars: A Resistência” tem belo visual e um tom comicamente leve, mas deve acabar sendo apenas uma nota de rodapé na história da franquia mais marcante da sétima arte.

Bruno Passos
@passosnerds

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