Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 14 de maio de 2020

A Missy Errada (Netflix, 2020): vergonha alheia até demais

Em mais uma comédia do “Universo Cinematográfico do Adam Sandler”, David Spade e Lauren Lapkus apostam no humor físico para salvar um roteiro fraco.

Ao ver o logo da Happy Madison, produtora fundada pelo ator Adam Sandler, já é possível saber o tipo de filme que você está prestes a assistir: a presença dos tradicionais amigos de Sandler, que se revezam a cada obra, uma comédia leve, com cenas de besteirol e muito humor físico. É exatamente essa a proposta de “A Missy Errada”, o novo longa-metragem da Netflix. Entretanto, dessa vez, sem a presença do seu grande guru, o protagonismo fica por conta de David Spade e Lauren Lapkus.

Na obra dirigida por Tyler Spindel (de “Pai do Ano“), Spade interpreta Tim Morris, que em um encontro às cegas, conhece Missy, vivida por Lapkus. Logo de início, a mulher demonstra ser completamente estranha e em questão de cinco minutos já o deixa desconfortável a ponto de tentar fugir pelo banheiro do restaurante.

Três meses depois, em uma viagem à trabalho, ele conhece por acaso uma mulher no aeroporto – aparentemente a parceira perfeita que lê os mesmos livros e ri das mesmas piadas. Ela anota o telefone dele e diz que vai entrar em contato. Importante, essa pessoa também se chama Missy. Em meio a isso tudo, a empresa que Tim é vice-presidente convidou todos os funcionários para um retiro no Havaí, com direito a um acompanhante. É claro que ele envia o convite para a pessoa errada – lembra que as duas mulheres tinham o mesmo nome? Sim, essa é a premissa.

No “Universo Cinematográfico do Adam Sandler”, os personagens vivem em uma realidade paralela. Todos são exagerados, sempre tem uma reviravolta, mas no final dá tudo certo. Neste caso, Missy come pétalas de rosas, mastiga sabonete, se joga de cabeça em um precipício e sempre fica tudo bem. Ok, é uma comédia, mas não existe o mínimo de consequências para as causas criadas. Se você se entrega para o humor com direito a licenças poéticas, melhora um pouco.

Essa é uma daquelas comédias que, se você não achar graça nos primeiros cinco minutos, está condenado a ver o filme inteiro revirando os olhos com as piadas. O roteiro de Chris Pappas e Kevin Barnett (ambos de “Zerando a Vida“) é fraco, pois as cenas não se conectam e, tirando os protagonistas, os demais personagens não têm histórias desenvolvidas. Alguns sequer recebem um final.

Respeitando o legado das comédias de Sandler, David Spade interpreta a si mesmo e no modo automático. Do time de amigos tradicional, estão no filme Rob Schneider, Nick Swardson e até Jackie e Jared Sandler, respectivamente esposa e sobrinho de Adam. Schneider retorna no papel de “pessoa estranha”, dessa vez como um capitão de um barco com apenas dois dedos: o mindinho e o polegar. A ideia é que ele sempre está fazendo um hang loose. Pois é, essa é a piada.

Lapkus representa o único lado positivo, alcançando o nível de maluca com facilidade com expressões exageradas e bom timing de comédia. A intenção da personagem é ser insuportável e em questão de minutos, já dá vontade de jogar o controle na televisão, o que de fato é um êxito da atriz.

“A Missy Errada” é definitivamente uma comédia ruim. Mas também pode ser vista como uma homenagem ao “Universo Cinematográfico do Adam Sandler”. Vendo por este modo, a vergonha alheia passa a ser engraçada e as coisas até que ficam interessantes.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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