Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Atypical (Netflix, 3ª Temporada): atipicamente equilibrada

Evoluindo a cada temporada, a série chega a seu ápice com conteúdo rico, divertido e texto sagaz, entregando temas relevantes que usam o humor para divertir sem diminuir o peso dramático de seus acontecimentos.

Atypical” é uma série da Netflix sobre o adolescente Sam Gardner (Keir Gilchrist) e sua transição para a vida adulta, com o diferencial de que o protagonista se encontra no espectro autista. Com uma pegada leve, a obra se caracteriza como uma dramédia, conseguindo ótima média entre humor e seriedade entregue pelo seu fantástico elenco.

A terceira temporada estreou em 1º de novembro de 2019 na Netflix, e aqui nota-se que a série procura ser cada vez mais inclusiva, trazendo atores e escritores autistas, o que aumenta o grau de autenticidade da obra. Com um texto sagaz e natural, a produção se destaca como uma das melhores da gigante do streaming.

A trama agora foca em Sam iniciando sua vida na faculdade e todos os novos desafios que vêm com esta grande mudança. Gilchrist merece todos os elogios ao entregar uma performance que pode parecer simples, mas trazendo um personagem cheio de camadas atrás de suas defesas psicológicas.

Mas este não é o único bom arco narrativo da obra. Temos a irmã de Sam, Casey (Brigette Lundy-Paine), lidando com descobertas sobre si mesma e tendo que tomar decisões vitais para seu futuro. O peso dessas pressões é sentido na atriz, que entrega um belo mix de emoções. Os pais Elsa (Jennifer Jason Leigh) e Doug (Michael Rapaport) seguem na sua jornada de descobrir como conviver após a separação advinda das temporadas anteriores e tem um final bastante satisfatório, não só por ter sido bem construído, mas também porque a dupla entrega momentos de genuínas emoções.

Todos esses arcos são bem entrelaçados e a série consegue entregar um material denso em apenas dez episódios, fugindo de qualquer enrolação e sem se apressar demais, como uma verdadeira aula de ritmo narrativo. Jogue aqui ainda os autoquestionamentos da namorada de Sam, Paige (Jenna Boyd), e seu melhor amigo, Zahid (Nik Dodani), passando por um relacionamento abusivo, e a temporada assombra por conseguir dar conta de tanta coisa com tamanho êxito.

Interessante notar que o humor ganhou mais destaque, mas isso não diminuiu o peso dramático de nenhum acontecimento. O arco de Zahid é o melhor exemplo disso, tratando de um tema bastante pesado de maneira surpreendentemente leve, mas com todo o peso que o assunto necessita e merece. Capitaneada pela showrunner Robia Rashid (produtora em “How I Met Your Mother”), a obra ganha muito com sua postura de constante pesquisa e melhoria sobre os tópicos abordados.

“Atypical” merece elogios pela premissa de chamar atenção ao que é conviver com autistas e com o autismo, discorrendo sobre seus desafios, vantagens e peculiaridades com uma aura positiva bem balanceada que nunca chega a ser utópica, mesmo conseguindo mostrar que boas vontades e intenções já conseguem muitas soluções. Com narrativa orgânica, personagens cativantes e ótimo time de atores, a série vem aprendendo a cada temporada e entrega a a melhor até então, oferecendo conteúdo rico, divertido e relevante.

Bruno Passos
@passosnerds

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