Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 01 de janeiro de 2020

Frozen 2 (2020): mensagem importante

Sem se arriscar muito, Jennifer Lee e Chris Buck entregam uma sequência digna do primeiro filme, mas que deixa um pequeno gosto de "poderia ter sido melhor".

Alguns filmes se tornam sucessos de bilheteria sem que isso pudesse ser previsto pelos produtores. Em 2013, quando a Disney lançou “Frozen: Uma Aventura Congelante”, dificilmente estava esperando que a animação se tornasse um dos seus maiores sucessos de bilheteria. Mas aconteceu que “Let it Go” se tornou um hit e não demorou para que o filme recebesse uma sequência. “Frozen 2” segue a narrativa do antecessor e discute sobre a importância da família e de seguir seus próprios caminhos, mas carece de uma identidade própria.

Durante a infância Elsa (Taryn*) e Anna (Gabi Porto) descobrem uma história sobre seu pai, quando ele ainda era príncipe de Arendelle. A história narra uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Agora, Elsa passa a escutar uma voz, que acredita ser um chamado para unir novamente os quatro elementos.

Do ponto de vista narrativo, “Frozen 2” soma acertos ao mostrar que as personagens do primeiro filme evoluíram, mesmo que o tempo entre as duas histórias não seja muito grande. Elsa, agora não mais assombrada pelos poderes, se mostra mais confiante, enquanto Anna busca encontrar seu lugar no mundo. Porém, o filme tem dificuldade em encontrar uma identidade, e, dependendo muito de conceitos apresentados no primeiro longa, aqui é possível sentir uma certa falta de originalidade.

Em determinado momento, Olaf (Fábio Porchat) resume toda a trajetória dos personagens, reforçando a dependência do primeiro filme, mesmo para quem não assistiu. Isso não significa dizer que esta sequência é vazia, mas diferente do que acontece em “Toy Story 2”, por exemplo, aqui o universo da obra não é expandido, sendo mais um prolongamento da história inicial.

Desta maneira, o principal mérito está na maneira como a direção decide trabalhar a história. Elsa ganha pequenos toques no visual, mostrando como a personagem vai se libertando do papel que lhe foi imposto. Não por acaso, seu cabelo inicia amarrado, e a personagem o arruma, deixando-o cada vez mais solto conforme a história avança. Ao mesmo tempo, ela se vê mais livre, completando um novo passo de sua jornada sem depender mais do seu passado.

As sequências musicais também tiveram uma atualização ao buscar novas referências, com destaque para “Lost in the Woods”, com visual inspirado nos videoclipes da década de 1980. E, apesar de não possuir uma sequência que consiga repetir o impacto de “Let it Go”, as novas canções funcionam, mesmo que apareçam em excesso na primeira metade do filme.

Contudo, o discurso de “Frozen 2” é o que há de mais importante na obra. Assim como aconteceu no seu antecessor, empoderar personagens femininas, dar escolhas e permitir que elas quebrem expectativas — impostas pela família ou pela sociedade —, faz desta sequência um feliz caso de um passo à frente (embora o filme se recuse a se assumir de tal maneira). Elsa tem uma jornada de escolhas e liderança, assim como Anna não se permite ser limitada por qualquer outro personagem do longa.

O resultado final é uma animação feita com cuidado, que se prende demais ao que foi estabelecido no passado, mas que se arrisca eventualmente. A direção de arte é fraca, com boa parte das cenas destacando o primeiro plano, enquanto ignora o fundo, preenchendo com vazios ou cenários genéricos, enquanto as sequências musicais agradam, mas nenhuma tem muito peso. Para um filme que é resultado de um sucesso que não tinha como ter sido antecipado, “Frozen 2” honra o legado, mesmo que se mantenha na zona de conforto.

* Os atores citados na crítica são os responsáveis pela dublagem em português do filme.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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