Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Brincando com Fogo (2019): comédia morna

O estilo "travado" de John Cena funciona, mas o filme não deve ser visto como algo além de uma comédia para uma tarde chuvosa.

Filmes de comédia que reúnem atores de ação com um elenco infantil não são uma novidade. “Um Tira no Jardim de Infância” e “Operação Babá” são apenas dois exemplos de como a temática sempre retorna para Hollywood. E agora é a vez de John Cena se juntar ao time, com “Brincando com Fogo”, um filme sem grandes pretensões, mas que acerta na proposta, apesar de tropeçar em alguns momentos.

A trama acompanha o superintendente bombeiro Jake Carson (John Cena) e seus colegas Mark (Keegan-Michael), Rodrigo (John Leguizamo) e Machado (Tyler Mane). Após resgatarem três crianças, eles precisam cuidar delas até que seus pais possam ir buscá-las. É assim que eles descobrem que ser babá pode ser mais difícil do que combater incêndios.

Verdade seja dita, trabalhar com bombeiros é simplesmente uma desculpa para que a produção tenha um pano de fundo. Serve também para criar o ambiente isolado, embora isso pudesse ser conseguido trabalhando com outros profissionais. E não há nada de errado nisso. Porém, que fique o registro de que o roteiro não se esforça para ir além do superficial, gerando um final tão previsível quanto as reviravoltas.

Isto posto, cabe ainda uma menção para a pressa no andamento da história, tanto no primeiro quanto no ato final. A decisão de resolvê-la em aproximadamente noventa minutos, exigiu que a edição em cada um dos blocos fosse motivada mais pela imposição do estúdio do que pela coerência narrativa. Perde-se, assim, no desenvolvimento do enredo bem como no ritmo. E esse é, possivelmente, o maior incômodo que o filme causa.

Dirigido por Andy Fickman (que já havia colocado Dwayne Johnson ao lado de um elenco infantil em “Treinando o Papai”), o longa tem como foco apostar no básico para não errar. As piadas, na sua maioria, devem funcionar para o público mais jovem, podendo até tirar algumas risadas dos pais que decidirem acompanhar os filhos. 

Seria, de certa forma, injusto exigir que houvesse muito em uma comédia protagonizada por John Cena. Seu papel no filme depende bastante de seu porte físico e da aparência sisuda que ele naturalmente possui. De qualquer maneira, a exemplo de “Três Solteirões e um Bebê”, é interessante ver como a obra coloca quatro homens para cuidar de crianças, com o protagonista se vendo na necessidade de resolver seus problemas com o excesso de masculinidade (em determinado momento, Jake admite nunca ter chorado). Poderia ter surgido algo um pouco mais bem trabalhado aqui, assim como na personagem de Judy Greer, a pesquisadora Amy Hicks. Se por um lado, o roteiro não a reduz a uma figura materna, apenas por ser mulher, não consegue colocá-la muito além do par romântico.

Sem grandes pretensões, “Brincando com Fogo” é um projeto que entrega muito pouco. Seu humor é simples, mas bom o suficiente para deixá-lo divertido. Mesmo que o resultado não faça figurar entre as obras que sobrevivem ao tempo, isso não quer dizer que ele falhe em agradar o público alvo. Questões técnicas à parte, temos aqui uma boa “sessão da tarde”. 

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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