Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Resgate do Coração (Netflix, 2019): charmosamente artificial

Comédia romântica com pitadas natalinas e um bebê elefante que precisa de ajuda. Prato cheio para quem quer uma obra simples e bobinha, mas bonitinha e charmosa.

Em um momento de “Resgate do Coração”, a protagonista Kate (Kristin Davis, a Charlotte de “Sex and the City“) mostra uma foto que seria usada para o cartão de natal da família para o óbvio par romântico Derek (Rob Lowe, “Como se Tornar um Conquistador“). Ao ver a cena posada, ele comenta que essa tradição é cheia de “glamour encenado”, frase que explica perfeitamente bem o que são esses tipos de filmes lançados perto da época do natal com menor valor de produção. São obras simples que apelam para romance e espírito natalino, que acertam na mosca quando são bem feitos e abraçam sua proposta.

Não se engane, não é nenhuma obra prima. O longa entrega exatamente o que promete: uma comédia romântica óbvia e previsível, cheia de pessoas bonitas e com cenários que, mesmo sendo artificiais, são lindos. É tudo bobo, mas é adoravelmente bobo.

Temos aqui a história de Kate, esposa de um rico empresário de Nova York que, assim que o filho parte para a faculdade, pede o divórcio. O problema é que ela tinha reservado passagens e hotel para o casal passar uma segunda lua de mel na Zâmbia. Claro que ela embarca na viagem por si só e lá conhece o bonitão Derek, piloto que a leva no passeio de safári. Logo eles encontram um bebê elefante, recentemente órfão, fazendo com que ela se envolva na operação de resgate no lugar.

O filme pode ser tolo e artificial, com um roteiro repleto de exageradas conveniências facilidades narrativas, porém funciona para sua proposta. O pedido de divórcio do marido de Kate é feito numa velocidade espetacularmente inverossímil (ele praticamente segue o filho porta afora); há uma mulher impecavelmente vestida e maquiada que aparece de vez em quando no meio da selva africana; há também uma lição de moral sobre a destruição da natureza causada pelo homem entregue numa fala carregada de clichê… são vários exemplos de uma produção que sabe, desde o começo, que seu produto final deve ser simplório e leve. Entretanto, mesmo em sua previsibilidade, a obra tem seus momentos. Se existe a cena em que a protagonista revela que já foi veterinária, apesar de ter zero experiência cuidando de elefantes, e mesmo assim é aceita sem a menor hesitação pelos cuidadores, existe também uma interessante metáfora na história do bebê elefante com a jornada pós-divórcio de Kate.

Kristin Davis e Rob Lowe fazem um ótimo casal em tela, a química funciona e os atores entregam genuíno carinho entre seus personagens. Ainda que roteiro possa ser facilmente decifrado desde o início, ele constrói com eficiência a maneira com que eles se aproximam, não parecendo forçado nem repentino demais. Interessante notar que o título em português encaixa melhor para o longa do que o original “Holiday in the Wild” (algo como “festividades na natureza”), já que essa é muito mais uma comédia romântica com pitadas de elementos natalinos do que um filme de natal temperado com romance.

“Resgate do Coração” é um filme de segunda categoria, mas mesmo com toda a sua previsibilidade e artificialidade, consegue ser adorável e ser uma obra com reais sentimentos. Maravilhosamente tolo, oferece vários elementos para quem gosta de curtir uma narrativa que pode até ser simples e de fácil digestão, contudo está repleta daquele sentimento gostoso de uma boa comédia romântica.

Bruno Passos
@passosnerds

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