Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Abracadabra (1993): bruxas divertidas

Inspirado trio de atrizes faz o filme funcionar e entreter, mesmo com a balança entre o divertido e o bobo demais não sendo das mais precisas.

Em 1984, seguindo uma ideia de David Kirschner (“Fievel – Um Conta Americano”) para alegrar sua filha, Mick Garris (“Montado na Bala”) escreveu um roteiro bastante sombrio que foi comprado pela Disney: um gato que, na verdade, era um menino transformado por bruxas centenas de anos antes. Após inúmeras revisões que levaram a história para um tom mais cômico, o filme só foi produzido, de fato, oito anos depois. Era o momento em que o texto chegava às mãos de Bette Midler (“A Família Addams”), que se interessou pelo projeto. Com um nome de peso para o papel principal, “Abracadabra” chegava às telas estadunidenses em julho de 1993.

O longa é uma comédia voltada para o público infantil sobre três bruxas que absorvem as almas de crianças para se manterem jovens. Elas são aprisionadas por mágica e, acidentalmente, liberadas de volta ao mundo no início dos anos 1990. No século XX, embarcam em novas tentativas para coletar outras almas para que possam viver para sempre, contudo terão de enfrentar três crianças e um gato falante dispostos a atrapalhar seus planos.

Apesar de ter uma famosa atriz como protagonista, a Disney parecia não colocar tanta fé no projeto, tanto que o lançou no mês de julho, meses antes do Halloween, porque não queria uma competição com “O Estranho Mundo de Jack” – também pertencente ao estúdio e lançado em outubro daquele ano. Estrear no verão americano, fora de época para sua temática, e diante lançamentos de gigantescos blockbusters no mesmo período, causou um fracasso nas bilheterias.

Apesar disso, a boba, porém cativante história das feiticeiras malvadas acabou fazendo sucesso nos anos subsequentes. As transmissões televisivas proporcionaram números enormes de audiência e culminaram na grande venda de DVDs quando chegou ao formato em 2002. O tom altamente simplório talvez não conquiste as crianças do século XXI, mas não deixa de ser uma obra com grande carga nostálgica para o público da época.

O trio de destaque é delicioso de se assistir. Midler transborda talento e está claramente à vontade ao brincar com estereótipos vilanescos – ela chegou a dizer que nunca se divertiu tanto num set até aquele ponto – e se porta como uma líder que sabe, como poucos, criar uma comédia pastelão e caricaturas na medida certa. Poucos atores conseguiriam vender as falas bobinhas do roteiro e ainda entreter. Kathy Najimy (“WALL-E”) é outra que encaixa como uma luva nesse tipo de humor e Sarah Jessica Parker (“Sex and the City – O Filme”) faz uma bruxa avoada e sedutora sem ser apelativa.

A estética da produção é algo a se admirar. É exagerada sob precisão, dando a clara sensação de ser um filme sobre terror, mas não de terror, já que o teor ingênuo precisava se sobressair. A casa das bruxas, por exemplo, tem objetos que podem ser encontrados em alguma loja de artigos de decoração para festas temáticas, nada que pareça real ou assustador demais.

O elenco infantil é esforçado e consegue trazer carisma o suficiente para carregar a narrativa, principalmente Thora Birch (“Beleza Americana”). Vale destacar também a participação de Doug Jones (“A Forma da Água”), que interpreta inúmeras criaturas em seus trabalhos e tem um controle corporal excelente, fazendo aqui uma versão cômica de um zumbi pastelão.

Uma ótima opção para se ver com filhos pequenos no período do Halloween, o longa pode não ter sido um grande sucesso nos cinemas, mas é figura certa nas TVs americanas durante o mês de outubro. Com seu estilo leve, bobo e cômico, “Abracadabra consegue trazer elementos de horror que divertem sem assustar. Além disso, tem seus pontos positivos altamente destacados pelo inspirado trio de atrizes que soube brincar com estereótipos bruxos de maneira jocosa e animada.

Bruno Passos
@passosnerds

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