Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Seis Vezes Confusão (Netflix, 2019): irmãos gêmeos e piadas velhas

Com muita base no humor físico, comédia com Marlon Wayans utiliza os estereótipos para apresentar mais do mesmo.

A proposta de um ator interpretar diversos personagens no mesmo filme não é novidade. Muito antes de “O Professor Aloprado” de 1996, protagonizado por Eddie Murphy, o comediante Jerry Lewis interpretava seis irmãos em “A Família Fuleira” de 1965. Depois da onda de Mike Myers em “Austin Powers em o Homem do Membro de Ouro” (2002), o próprio Murphy retornou à ideia em “Norbit” (2007). Mesmo com tantas repetições, Marlon Wayans (de “Nu”) criou a sua versão: “Seis Vezes Confusão”, nova comédia original da Netflix, é dirigida por Michael Tiddes, que já trabalhou com o ator em “Inatividade Paranormal”, “Cinquenta Tons de Preto” e em “Nu”.

Ao acompanhar sua esposa Marie (Bresha Webb, da série “Star vs. As Forças do Mal”), que está grávida, em uma consulta médica, Alan (Wayans) é questionado por não ter enviado seu histórico familiar. Ele sabe que foi entregue para adoção quando nasceu, morou em lares temporários, mas nunca conheceu sua mãe. Como o pai de Marie é juiz, ele pede um favor para ter acesso à sua certidão de nascimento. Ao buscar mais informações sobre a sua família, Alan descobre que tem mais cinco irmãos gêmeos: Russell, Dawn, Jaspar, Ethan e Baby Pete, todos interpretados pelo protagonista.

Muita coisa que existe na obra já foi vista anteriormente no cinema. A parceria na estrada com Russell no estilo road trip de “Antes Só do que Mal Acompanhado“; as piadas sobre obesidade de “Norbit”; a cena do carro em câmera lenta de “Curtindo a Vida Adoidado”; entre outras. Com o auxílio do CGI e da equipe de maquiagem, a presença dos personagens na mesma cena é vista com naturalidade. Os mais rígidos podem se incomodar com alguns olhares que não se encontram.

O roteiro escrito pelo protagonista, Rick Alvarez (de “Cinquenta Tons de Preto”) e Mike Glock (da série “Return of the Mac”) é repleto de falhas. As cenas são espalhadas como pequenas esquetes e algumas simplesmente não conversam entre si. A maior parte do humor físico já foi retratada tantas vezes que é simples prever a próxima piada.

Wayans interpreta cada personagem apresentando um aspecto diferente em cada um, seja seu tipo físico, forma de falar ou jeito de caminhar. Entretanto, a base de cada personagem é o estereótipo. Russell é o ingênuo fã de séries e cereal, Dawn é agressiva e exagerada, Ethan é malandro no estilo cafetão dos anos 70… nada novo.

Alguns personagens simplesmente são ignorados pelo roteiro, como a ligação entre Alan e sua chefe Linda (Molly Shannon, da série “Will & Grace”) e a própria Marie. Tudo acontece para criar um contexto para Wayans improvisar em cena. Apesar das cenas não serem das mais engraçadas, é inegável que o ator tem carisma para sustentar a história e é um dos méritos da obra.

“Seis Vezes Confusão” não tem intenções de reinventar a roda. Relacionando com o futebol, é como se o time estivesse tocando a bola com o jogo ganho: a fórmula “ator carismático + comédia pastelão” costuma atrair o público no serviço de streaming.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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