Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 17 de agosto de 2019

Alerta Lobo (Netflix, 2019): a guerra acústica

Filme francês de operações submarinas é uma grata surpresa por explorar comunicações militares e segurar a atenção com uma ótima edição de som fundamentada nos sonares.

Distribuído no Brasil pela Netflix, “Alerta Lobo” é o primeiro filme escrito e dirigido pelo diplomata francês Antonin Baudry. A trama gira em torno do oficial de sonar de um submarino, Chanteraide (François Civil, “Amor à Segunda Vista”), que usa sua grande capacidade auditiva para rastrear submarinos com mísseis balísticos e evitar que ameaças levem a uma guerra. O trabalho da marinha se complica quando o jovem operador capta em seu sonar um sinal que pode ser de um antigo e temido submarino russo – tal som virou lenda com o nome de “o uivo do lobo”. 

O longa começa com uma extração na Síria muito bem executada e dirigida. A sequência dá o tom e exemplifica como funciona as operações envolvendo submarinos. A guerra debaixo d’água é silenciosa, claustrofóbica e muito tática. Apesar de ser considerado um prodígio, Chanteraide não consegue certificar-se que de fato ouviu um submarino de quatro pás. Isso faz com que a ameaça vire um fantasma na cabeça do operador e gere desconfiança por parte de seus superiores. Afinal, não há registro de tal submarino porque todos foram afundados no passado. Ao retornar para a base, o operador fica obcecado em descobrir se ainda há traços do submarino. Quando surge uma ameaça em águas francesas e todos precisam embarcar imediatamente para um contra-ataque, Chanteraide é escolhido a dedo para compor a embarcação.

Contudo, eis que surge o único ponto destoante da narrativa. Pouco antes de embarcar o jovem é dispensado porque encontraram componentes de cannabis sativa no seu exame médico. A situação se deu por conta da inclusão de Diane (Paula Beer, “Em Trânsito”), uma bibliotecária que ele conheceu pouco antes da saída e se entorpeceu por influência dela. Sendo assim, a personagem foi incluída com esse único propósito e, desse momento em diante, o profissionalismo do operador dá lugar a imagem de um garoto inconsequente. Essa tentativa do roteiro em deixar a história mais descolada, com o jovem usando roupa casual, diminui todo o brilho do embasamento militar que foi apresentado. Até porque, com essa conduta não seria fácil uma readmissão tão rápida para uma missão em andamento. Tal fato também se mostra desnecessário por já haver muita urgência no enredo. Felizmente, o terceiro ato é bem conduzido e compensa o excesso cometido. Desse momento em diante a trama nos surpreende com reviravoltas pontuais e conduz o espectador curioso pelo desfecho.

Antonin Baudry prova em Alerta Lobo que uma boa história é aquela bem embasada. E não precisou de um orçamento exorbitante para criar tensão entre os embates submarinos e fazer o suspense do filme digno dos grandes filmes de guerra. A capacidade do operador de identificar sinais sonoros se dá com uma ótima sincronia entre sons aquáticos e o silêncio do oceano. O roteiro faz questão de abordar como a função de cada tripulante é importante para o funcionamento de um submarino, portanto, há a preocupação de contextualizar como os equipamentos militares se comportam debaixo do oceano. Pouco reconhecidas pela sua discrição, o filme enfatiza a importância das embarcações submarinas para a defesa dos países. Produções com esse tema que balanceiam o aspecto técnico e narrativo com fidelidade militar sempre serão atemporais, e nesse caso fica a recomendação para quem aprecia um bom suspense de guerra.

Jefferson José
@JeffersonJose_M

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