Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O Quinto Elemento (1997): casamento perfeito entre ação e comédia [CLÁSSICO]

Um dos longas de ação e comédia mais divertidos e extravagantes dos anos 90, este trabalho é a realização do sonho adolescente de Luc Besson, que preparou a história quando tinha apenas 16 anos.

Em 1997, o cinema foi brindado com uma ficção científica que apresentou um dos visuais mais legais da sétima arte. Escrito e dirigido por Luc Besson, “O Quinto Elemento” se passa dois séculos no futuro e foca em Korben Dallas (Bruce Willis, “Vidro”), um taxista que já foi parte das forças especiais do exército, e Leeloo (Milla Jovovich, “Hellboy”), uma mulher de outro mundo que veio à Terra para uma missão e acaba convencendo Korben a se juntar a ela na busca por quatro pedras mágicas, cada uma representando um elemento natural (fogo, vento, terra e água), para então derrotar a entidade maligna que visa exterminar tudo e todos. Coisas de uma história que começou a ser desenvolvida por um adolescente, tendo em vista que Besson criou a base da trama com 16 anos de idade.

O visual é fora de série. Os quadrinistas Moebius e Jean-Claude Mézières (artista dos quadrinhos “Valerian”, também adaptado por Besson para o cinema) trabalharam no design de produção do filme e valeram cada centavo. O longa é uma explosão de cores, todas bem exaltadas pelo diretor, que fez questão de que muito da história se passasse durante o dia, entregando um visual mais claro, alegre, excêntrico, caricatural e até mágico.

O ar caricatural está nos próprios personagens, desde a forma como foram concebidos até seus figurinos (assinados por Jean Paul Gaultier), que se encaixam organicamente com o design de produção do filme. Os atores encarnam pessoas excêntricas e criam por si só uma ótima atmosfera para comédia, que é realçada pela coragem do roteiro de abraçar sua proposta lúdica sem a menor hesitação, resultando num dos longas mais divertidos dos anos 90. Há até curiosidades interessantes, como uma cena em que um personagem diz a outro que ele tem 20 segundos da atenção dele, e o outro desanda a falar por exatamente este período.

Desde “Duro de Matar” que Bruce Willis mostra que sabe mesclar ação com comédia nos momentos certos, e esse papel caiu como uma luva para ele. A ótima química entre ele e Milla Jovovich torna a relação entre os dois protagonistas deliciosa de acompanhar. A atriz, aliás, é a melhor coisa do filme. Sua Leeloo é abundantemente cativante e mostra uma inocência, perante o mundo em que foi jogada, que convence e conquista os espectadores.

Besson inventou uma linguagem para a raça de Leeloo e Jovovich a aprendeu rapidamente. Para praticar, eles escreveram cartas um ao outro no idioma e tinham conversas inteiras na nova língua. Isso resultou num elemento enriquecedor para a cena em que Leeloo e Korben se encontram pela primeira vez, Willis não sabia o que ouvia, então suas reações foram improvisadas.

Luc já dirigiu ótimos trabalhos, como “O Profissional”, e há momentos de brilhantismo aqui. Além da leveza com que consegue entregar o humor às cenas, há decisões como a de filmar o antagonista sempre em cenários com formas circulares, e o protagonista sempre com linhas retas, ilustrando-os como opostos. Junto à ótima montagem, ele consegue mostrar três cenas diferentes ao mesmo tempo, com os personagens reagindo às situações mesmo não estando presentes onde elas acontecem, e se vale até do tom cômico das mesmas para criar suspense e tensão. Ao misturar duas sequências distintas, uma de ópera e uma de luta, ele consegue com que ambas contribuam reciprocamente para seus ritmos.

O antagonista é Zord (Gary Oldman, “Obscura”), que fez o filme para pagar um favor que devia à Besson, que havia ajudado o ator a fazer um outro trabalho que queria muito. Um bom profissional, Oldman entrega bem seu personagem, sendo um dos mais peculiares de sua extensa carreira. Zorg é um ótimo exemplo da excentricidade do filme. Um homem esquisito, sedento por poder e que sofre apenas por um roteiro que se perde na hora de mostrar sua importância na trama.

Por fim, seria um crime não falar de Chris Tucker (“A Hora do Rush 3”) interpretando o radialista Ruby Rod, ápice da extravagância do filme e da caricatura de celebridades metidas que precisam de uma constante massagem no ego. Ele aparece apenas no terceiro ato, mas acaba se envolvendo com os protagonistas e rende cenas absolutamente hilárias.

Sem esperar mais de alguém que desenvolveu essa história com apenas 16 anos, há inúmeros furos no roteiro, uma linha do tempo questionável e um antagonista que por vezes não parece fazer sentido que exista na trama. Porém, o longa é imbatível para envolver o espectador tanto na sua loucura visual quanto no seu rápido ritmo de edição que compensa as falhas e torna a experiência uma diversão ímpar. “O Quinto Elemento é, facilmente, uma das obras mais divertidas do cinema dos anos 90.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe