Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 09 de agosto de 2019

As Rainhas da Torcida (2019): sonhos e limitações

Diane Keaton volta a estrelar uma divertida comédia com o drama e as questões da terceira idade.

Em meio a esse moedor de sonhos que a vida às vezes parece ser, existem desde pessoas que acreditam não ter mais idade para se reencontrar até indivíduos que não enxergam, em qualquer fase da vida, motivos para desistir de um sonho. Com uma comédia como pano de fundo, “As Rainhas da Torcida” traz Diane Keaton (“Alguém Tem Que Ceder”) para protagonizar essa delicada discussão sobre terceira idade.

Com a direção de Zara Hayes (“The Battle Of The Sexes”), o longa apresenta sua protagonista Martha (Diane Keaton), que tem pouco tempo de vida devido ao câncer de nível avançado que vem enfrentando. Sem filhos ou companheiros para deixar qualquer herança, ela se desfaz da maioria dos seus bens e decide interromper o tratamento de quimioterapia para passar seus últimos dias em uma comunidade de repouso para idosos. Inicialmente, sua ideia era se afastar de todo e qualquer convívio para relaxar com sua própria solidão, mas o convívio com a comunidade e, principalmente, sua simpática vizinha Sheryl (Jacki Weaver) a fazem repensar seus planos e decidir revisitar um antigo sonho: se tornar uma líder de torcida.

Dividindo o roteiro com Shane Atkinson, Zara Hayes aposta numa premissa simples, porém divertida, para compor o tom do filme. Mesmo com a sensação de um ato engolindo o outro, a montagem funciona em cima de uma playlist divertida e que coloca ânimo nas transições da história. Contudo, ainda que a proposta do longa seja o mais puro e simples entretenimento, a falta de ritmo dos acontecimentos e os diálogos repetitivos prejudicam a história e fazem com que o filme passe a depender do carisma dos atores e seus respectivos personagens.

O humor inserido em assuntos como sexualidade na terceira idade funciona e consegue trazer a discussão ao público, mas é a partir desse ponto que surge outro grande problema do filme: a jovem dupla de coadjuvantes. Apesar de seus últimos trabalhos terem sidos obras que encaixaram perfeitamente em seus personagens, aqui a inserção de Alisha Boe (da série “13 Reasons Why”) não acrescenta muito à história e seu papel a coloca em uma situação que a obriga ir de um estado de espírito a outro muito rapidamente. Do outro lado e numa posição não muito diferente, o personagem de Charlie Tahan (da série “Gotham”) não convence como par romântico e com o decorrer das cenas, a falta de química entre os dois vai ficando cada vez mais clara.

O aspecto mais bem retratado no filme é o drama que Diane Keaton precisa dosar em cima de sua personagem, dividindo sempre a boa relação de humor com a personagem de Jacki Weaver, outro grande acerto do cast. Entretamto, ao passo que as principais personagens convencem, o antagonista se mostra pobre e sem a menor preocupação em vender suas motivações. Sempre que esse núcleo é trabalhado, todo e qualquer investimento emocional é colocado em risco.

Com um elenco principal de vasto carisma, “As Rainhas da Torcida” exercita muito bem o humor até onde o roteiro permite e traz a reflexão sobre sonhos, limitações e realizações. Porém, com tantos problemas pequenos o entretenimento fica bagunçado e a história fica difícil de comprar.

Kyalanvinck
@kyalanvinck%20

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