Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 13 de agosto de 2019

Kim Possible (2019): lutando com a vida real

Aprendendo a lidar com problemas de adolescentes, com um humor bobo e uma sensação nostálgica, Kim Possible se sai bem na sua primeira aventura live-action.

Nostalgia, substantivo feminino, melancolia acentuada resultante da saudade. A Disney entende bem essa sensação, como foi (e ainda é) presente na vida das pessoas e como pode fazer projetos ativarem suas memórias afetivas e aguçar seu sentimento nostálgico. Seguindo essa lógica e a onda criada pela própria empresa, “Kim Possible” ganha sua versão live-action. Derivado da série originalmente exibida no Disney Channel entre 2002 e 2007, o filme dirigido por Adam B. Stein e Zach Lipovsky (“Freaks”) tem o desafio de buscar adaptar para um longa a linguagem e a estética já estabelecidas em curtos episódios sem perder sua essência.

Kim Possible, interpretada por Sadie Stanley, é uma super garota sem super poderes. Habituada em sempre estar preparada e ser a melhor, após uma missão com seus parceiros Ron Soppable (Sean Giambrone) e Wade (Isaac Brown), Kim tem a tarefa de encarar o ensino médio e mal sabia ela que essa seria a mais difícil de todas. Agora, Possible tem que entender que nem sempre vai ser a melhor em tudo, que nem tudo sai do jeito que esperamos, e tem que aprender a controlar seu ciúme. Como se não bastasse suas inseguranças estarem lhe atormentando, a heroína vê o maior vilão, o Dr. Drakken (Todd Stashwick), fugir da prisão com o auxílio de Shego (Taylor Ortega). Mas tudo parece melhorar quando encontra Athena (Ciara Wilson), uma nova amiga que precisa de sua companhia e logo entra para a equipe.

A fidelidade à obra original é impressionante. Com figurinos muito bem produzidos, cenas de ação sem realismo (como é nos desenhos) e outros pontos dão até uma ideia de que esta obra é um episódio estendido. Ainda no começo do filme é recriada uma abertura (coisa que não é muito comum) com a música que é quase que fiel à original. Ser totalmente igual, além de impossível, seria sem sentido, assim um dos maiores acertos neste longa é conseguir manter toda a ideia de quem é a Kim Possible que conhecemos nas animações, mas ao mesmo tempo inseri-la e fazê-la lidar com questões bem atuais.

As atuações são precisamente boas. Sadie consegue entregar uma Kim de respeito, reconhece como sua personagem é segura de si, mas também entende o momento de transparecer fragilidade e insegurança. Sean e Todd se entregaram bem aos papéis de bobalhões que lhes foram concebidos, sendo o alívio cômico do longa. Enquanto isso, Taylor Ortega se destaca dos demais sendo a Shego, a vilã mais querida da série, que todos esperavam. Extremamente seca em suas falas, Taylor consegue quebrar toda o espírito leve que há no filme, soando até engraçado. Os efeitos especiais e coreografias nas cenas de ação são aceitáveis, visto que é um filme de baixo orçamento.

Ainda assim, nem tudo em “Kim Possible” são flores. Após um começo cheio de ações e cenas mirabolantes, o filme parece perder o ritmo e fica bem lento e rodando em torno de uma só questão por muito tempo. Embora não atrapalhe sua experiência como um todo, um filme relativamente curto não deveria perder o compasso que promete entregar. Há também um exagero em piadas bobas demais. Tudo bem que funciona para tirar qualquer peso de veracidade e como alívio cômico, mas algumas cenas ficam até sem lógica. A relação entre Kim e Ron, que tanto é exaltada na série, pouco foi explorada nesta obra, sendo assim um tanto rasa e superficial.

Mesmo com um plot twist clichê e já esperado, o filme se sai bem com uma comédia besta, mas gostosa. Visualmente muito fiel, “Kim Possible” termina com um gancho deixado em aberto para possíveis próximos filmes. A trama com sua roupagem nova favorece a humanização de Kim, ajudando ela a se tornar mais “gente como a gente”, facilitando a identificação da nova geração com a personagem. Com muita representação feminina e fisgadas nostálgicas, a obra agrada mesmo com os erros apresentados e Possible merece continuação.

André Bastos
@_drebastos

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