Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 28 de julho de 2019

Gelo em Chamas (HBO, 2019): hora de agir

Documentário mostra os impactos do aquecimento global e se destaca por apresentar alternativas possíveis para salvar o mundo.

O aquecimento global é tema constante de notícias e estudos científicos, com novas revelações sobre o impacto ambiental causado pelo buraco na camada de ozônio do nosso planeta. Diversas obras, principalmente documentários, já abordaram esse tema. Por exemplo, “Uma Verdade Inconveniente”, estrelado por Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos durante a gestão Bill Clinton, ganhou o Oscar de Melhor Documentário em 2007 com um relato impactante sobre as consequências das mudanças climáticas para o mundo. Apresentando uma narrativa rápida no seu início, com diversos dados científicos sendo apontados para o telespectador, o documentário “Gelo em Chamas” assume um tom alarmista para mostrar as consequências do aumento da temperatura mundial para o ser humano e para a estrutura da Terra. Narrado e produzido pelo ator Leonardo DiCaprio (“O Regresso”), a produção da HBO investe em uma narrativa enfadonha em algumas partes, mas de extrema importância para o futuro da humanidade.

Em sua primeira parte, o documentário apresenta um histórico do aumento na quantidade de carbono lançado na atmosfera, número que começou a subir exponencialmente a partir da Revolução Industrial (no século XVIII) e está causando efeitos nefastos para a vida na Terra. Incêndios cada vez mais difíceis de serem domados, secas avassaladoras e o extremo calor em algumas partes do mundo são algumas das implicações identificadas pelos cientistas entrevistados. A principal consequência do aumento da temperatura da Terra é o derretimento do gelo polar, causando o aumento no nível dos oceanos e alagando diversas cidades litorâneas. Veneza é o exemplo mais famoso.

Todos esses fenômenos mudam o ciclo ambiental, trazendo efeitos em cadeia para animais, plantas e para o ser humano, obrigando-o a migrar para regiões com o clima mais agradável. Os impactos das mudanças climáticas se tornaram tão grande que não podem mais ser ignorados, não só para as nações mais pobres, mas também para os países mais desenvolvidos. O impacto econômico – sempre o principal critério – exige iniciativas criativas.

Ao entrar nessa questão, em sua segunda parte, a história contada em “Gelo em Chamas” se torna mais atrativa. Largando parte da linguagem científica, deixando de mostrar problemas e investindo em um lado mais otimista, o documentário apresenta diversos casos de empreendedores buscando melhorar nossa vida. Iniciativas como a geração de energia de modo mais limpo e eficiente, como a do tipo solar ou a geração de eletricidade por meio das ondas, e de empresas cuja missão é retirar da atmosfera parte do carbono lançado no ar pelo ser humano são apresentadas. Além de ajudar o planeta, essas novas companhias ainda geram empregos e acabam movimentando todo um novo setor econômico. Aqui se pode criticar a maneira como essas organizações são apresentadas, em claro tom propagandista. Com algumas propostas mirabolantes e excêntricas, falta uma visão mais crítica do conteúdo apresentado por essas empresas.

“Gelo em Chamas” esquece de levantar alguns debates necessários, como a questão política por trás do atual modelo econômico e a falta de discussão sobre como será possível prover as necessidades de mais de 7 bilhões de pessoas (população de 2019) no mundo de maneira sustentável. Indústrias poluentes não fazem isso apenas por serem “do mal”, mas sim pela questão econômica. Essa falta de profundidade prejudica a narrativa por mostrar apenas um lado da história.

Nada disso tira os seus méritos de “Gelo em Chamas”, que acerta ao revelar a urgência do tema explorado, pois estamos chegando a um nível quase sem volta. Nesse cenário, as novas tecnologias são essenciais para trazer esperança de um mundo melhor, mais limpo. Pode parecer ambicioso demais, mas o planeta chegou a um grau de poluição e aquecimento, com evidências cada vez mais difíceis de serem contestadas, que não resta mais opção além de agir, o quanto antes.

Filipe Scotti
@filipescotti

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