Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 13 de junho de 2019

MIB: Homens de Preto – Internacional (2019): novos ares para a franquia

Com uma abordagem muito eficiente na comédia e na ação, o filme se apoia no carisma dos dois protagonistas para não perder a atenção do público com a fragilidade do roteiro.

Quando “MIB: Homens de Preto” chegou aos cinemas, mais de vinte anos atrás, ele apresentava originalidade ao trabalhar com alienígenas, um roteiro coeso e bem construído e uma dupla de protagonistas que conseguiam conquistar o público pela dinâmica entre eles e pelo carisma dos atores. De lá pra cá, a tentativa de construir uma franquia no cinema não foi muito bem sucedida, com dois filmes muito inferiores ao original. Agora, “MIB: Homens de Preto – Internacional” tenta honrar o legado deixado por Tommy Lee Jones (“Apenas o Começo”) e Will Smith (“Aladdin”).

Após ter sua casa invadida por um pequeno alienígena, a jovem Molly (Tessa Thompson, “Vingadores: Ultimato”) tenta descobrir quem são as pessoas que tentam esconder a existência de seres de outros planetas. Ela passa a vida estudando e pesquisando até descobrir a sede da MIB e ser recrutada pela chefe local, a agente O (Emma Thompson, “Johnny English 3.0”). Enviada para Londres, ela conhece o famoso agente H (Chris Hemsworth, também de “Vingadores: Ultimato”), conhecido por ter salvo o mundo no passado. Juntos eles irão enfrentar uma nova ameaça e terão que salvar a Terra, mais uma vez.

Sabendo que não seria possível sustentar a obra apenas com os fãs originais, esta versão não perde muito tempo se apegando com o que foi feito no passado. Conexões com o primeiro filme são construídas de forma pontual, com pequenos easter eggs que podem alegrar quem assistiu aos anteriores nos cinemas, sem deixar o novo público perdido com referências aleatórias. Essa construção de universo é orgânica e funciona porque o longa está mais preocupado com o presente do que com o seu passado, além de estabelecer que a agência já funciona há algum tempo e os grandes feitos são conhecidos em diversas filiais ao redor do mundo. Porém é apenas neste sentido que o roteiro pode ser considerado eficiente.

A fragilidade da trama é lamentável pelo que o próprio roteiro constrói. Molly, por exemplo, demonstra gostar de ciência desde pequena. Este fato é utilizado para fazer com que a personagem chegue ao MIB, e depois ele é ignorado. E assim, elementos importantes são substituídos por peças menores, não dando oportunidade para que o roteiro avance de modo natural. Chris Hemsworth sofre particularmente com isso. A cada cena, uma parte da sua história é apresentada, o que não seria um problema se para isso não fosse ignorada uma informação apresentada há pouco. E assim, o filme parece precisar construir subplots com a única intenção de avançar a história e concluir a trama principal. O resultado por incomodar quem espera algo mais inteligente (como o primeiro filme conseguia entregar).

Contudo, a dupla de protagonistas não parece sofrer com as fragilidades do texto. Eles interagem bem entre si, funcionam como alívio cômico e não demonstram qualquer tipo de desconforto com o que as cenas exigem deles. Isso é fundamental quando é preciso acreditar em cada uma das armas ou dos veículos que eles usam. Tessa Thompson também ajuda a renovar os ares da franquia, discutindo o papel da mulher numa organização chamada “Homens de Preto”, mas sem soar pedante ou forçada. A dupla ainda conta com um terceiro elemento que funciona muito bem nos momentos cômicos, trazendo mais dinâmica ao filme e variando o humor, entre piadas óbvias e comentários sarcásticos.

É válido notar que o mérito dos atores tem mais relação com suas próprias competências do que com a direção. F. Gary Gray (“Velozes & Furiosos 8”) reforça a pobreza do roteiro, não conseguindo conduzir de forma hábil os conflitos internos. Ele parece optar pelas sequências de ação como justificativa aos problemas que os personagens irão enfrentar. Se isso oferece cenas ágeis e interessantes, obriga a criar uma montagem fraca e pouco coesa. Entre momentos frenéticos, as pausas são forçadas, como se apenas um descanso antes da próxima cena de ação. Naturalmente o problema é acentuado pelo roteiro pouco criativo.

“MIB: Homens de Preto – Internacional” está longe de ser um filme ruim. Ele soa mais como uma comédia pouco elaborada, mas divertida e eficiente de modo geral. Não há qualquer tipo de complexidade narrativa, e o desenvolvimento da trama e dos personagens é fraco, principalmente quando comparado com a obra que dá origem à franquia. Contudo, não se pode ignorar o potencial apresentado aqui, e que a soma de tudo o que o longa apresenta ainda é positiva, principalmente quando comparada com os dois filmes anteriores. Com esta nova sequência, o universo de “MIB” cresceu em diversos sentidos, e apenas a vontade de ver o que vem pela frente já é um ponto positivo. Se esta obra deixa a desejar por um lado, ela também deixa pontas para que uma sequência faça a franquia decolar rumo às estrelas.

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Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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