Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 05 de junho de 2019

X-Men: Fênix Negra (2019): limitado mas honesto

O mais novo título dos mutantes no cinema é um filme sem grande expressividade narrativa, podendo tanto agradar quanto desagradar ao público.

A franquia de mutantes da Marvel vem oscilando entre ótimos filmes e obras de qualidade duvidosa. Desde sua primeira adaptação para os cinemas em 2000, os X-Men nem sempre tiveram todo o seu potencial aproveitado. A recente tentativa de rebootar a franquia é uma demonstração desta dificuldade em lidar com os personagens. Agora, pela segunda vez temos uma tentativa de conclusão que traz uma das mais importantes sagas dos quadrinhos para o cinema. Mas “X-Men: Fênix Negra” não precisa ser visto, necessariamente, como um encerramento.

Aqui acompanhamos a jornada de Jean Grey (Sophie Turner, da série “Game of Thrones”) que começa a desenvolver poderes além do seu próprio controle, que a corrompem e a transformam na Fênix Negra. Agora os X-Men terão que decidir se a vida de um membro da equipe vale mais do que todas as pessoas que vivem no mundo.

Em seu primeiro trabalho como diretor, Simon Kinberg opta pelo formato mais clássico da narrativa. Seu filme possui uma abordagem muito direta da trama, sem criar inúmeros subplots nem quebrar a ordem cronológica dos fatos. A história acontecer, essencialmente, em um curto espaço temporal também ajuda. Desta forma, se não estamos diante de uma obra que pede por reflexões profundas, também não chega a ser um filme ruim. Ele é honesto no que oferece ao público, além de contar com efeitos especiais que o favorecem muito, em especial para demonstrar o surgimento da Fênix Negra, assim como o uso dos seus poderes.

O roteiro de “X-Men: Fênix Negra” consegue transmitir o peso e a densidade que a história exige, sem buscar em alívios cômicos a simpatia do público. O texto opta por momentos com uma considerável carga dramática, investe em duas cenas de ação (bem executadas por Kinberg) e não poupa as cenas de visual mais “gore”. Mesmo não havendo imagens fortes nem violência gráfica exagerada, existem ao menos três momentos onde o visual não evita o realismo (sendo um deles já no prólogo do filme). Por outro lado, não há como desconsiderar algumas fragilidades narrativas, algo que vem tanto pela inexperiência do diretor, quanto pela opção de ignorar o realismo para investir na ação ou favorecer determinadas consequências.

Apesar destas qualidades, encontramos no elenco um elemento inconstante. Sophie Turner tem bons momentos, mas falta consistência em momentos chave. O fato de cair sobre ela o peso do protagonismo certamente prejudica o filme. Nem sempre é fácil aceitar a dualidade que a atriz precisa demonstrar ao longo da obra, e suas reações mais exageradas são forçadas e risíveis. Por outro lado, Jessica Chastain (“Uma Mulher Exemplar”) assume sua personagem com elogiável habilidade. Por conta de sua origem, ela precisa atuar sem demonstrar qualquer tipo de expressão, o que não significa dizer que ela não precise externar que está com raiva ou satisfeita. Uma missão que a atriz é eficiente em executar, apesar da fraqueza na construção da personagem, que sofre por ser baseada em um pobre conceito de vilania.

Quanto aos demais, James McAvoy (“Vidro”) e Michael Fassbender (“Boneco de Neve”) parecem já estar confortáveis com seus papéis, não trazendo novidades para os personagens. Aqui, novamente há o peso da direção, que busca constantemente por planos fechados. Uma escolha válida, uma vez que trata-se de um filme que fala o tempo todo sobre a perda. Neste sentido, é interessante observar como esses planos colaboram com a densidade da história, mesmo que nem sempre os atores consigam evidenciar isso.

Mesmo que o futuro dos X-Men nos cinemas seja incerto, o filme não parece ter sofrido qualquer tipo de influência externa. Sua história cria a possibilidade de continuar de onde parou, assim como é possível aceitar este como (mais) um capítulo final. Em nenhum dos dois casos a conclusão é satisfatória, talvez pela pressa que as cenas finais demonstram. Independente disso – e mesmo com algumas escolhas narrativas questionáveis –, “X-Men: Fênix Negra” tem seus méritos e consegue se encaixar bem nesse atual cenário de filmes de heróis. Os efeitos especiais funcionam de modo geral, gerando sequências visualmente bonitas e uma trilha sonora que acompanha bem as cenas (apesar dos exageros já clássicos de Hans Zimmer). Talvez com isso os mutantes consigam ganhar um fôlego até que os vejamos renascer de alguma cinza e dar origem para uma nova franquia.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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