Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 09 de junho de 2019

Meu Eterno Talvez (Netflix, 2019): aula de química

Comédia romântica escorrega em algumas piadas, mas com um casal de protagonistas claramente à vontade, acaba entregando o sentimento certo.

Sasha e Marcus, dois amigos de infância inseparáveis acabam perdendo contato após um trágico evento e um mal-entendido. Sete anos mais tarde, se reencontram em situações socioeconômicas bem díspares, trazendo antigos sentimentos à tona. Essa é a simples sinopse da comédia romântica da Netflix chamada “Meu Eterno Talvez”.

Todo filme deste gênero precisa ter um bom equilíbrio entre comédia e romance em seu texto, além de boa química entre seu casal principal e coadjuvantes que sirvam de alívio cômico ao mesmo tempo que ajudem na evolução narrativa dos protagonistas. Este longa dirigido pela estreante Nahnatchka Khan acerta na maioria desses quesitos.

Onde o roteiro não é muito polido é na comédia. Não se engane, é sim um filme engraçado, mas para cada piada legal e bem colocada há outra claramente forçada e sem contexto. O pior é que a maioria delas vem do casal principal, que divide momentos humorísticos genuínos mesclados com sentimentos reais, e outras em que percebe-se os atores trabalhando para deixar a fala engraçada. O humor todo funciona melhor com alguns coadjuvantes, como a jovial assistente Veronica (Michele Buteau, “Alguém Especial”), o pai afetuoso Harry (James Saito, da série “Manto & Adaga”) e o amigo da banda Tony (Karan Soni, “Deadpool”).

Entretanto, o filme se salva justamente pelo casal principal ser tão bom e ter uma química tão viva na tela desde o primeiro momento. Sasha (Ali Wong, “WiFi Ralph – Quebrando a Internet”) e Marcus (Randall Park, “Casal Improvável”) são um casal pelo qual você se pega torcendo desde o início, mesmo com esta comédia romântica batendo nas mesmas teclas comuns ao gênero. Tanto Wong quanto Park tem ótimo timing cômico e interagem com uma naturalidade que cativa o espectador em todas as cenas.

Quanto ao desenvolvimento dos personagens em si, ele funciona na construção da relação entre os dois, mas é falho ao tentar apresentar subtramas mais pessoais. O conflito de Sasha com seus pais só funciona nos primeiros cinco minutos, após os quais chega-se a conclusão de que teria sido melhor se eles simplesmente não aparecessem mais, pois não possuem função narrativa. A subtrama familiar de Marcus opera melhor, mas tanto ela quanto sua relação com os membros de sua banda precisavam de uma leve lapidada.

Apesar dos erros, há uma inusitada participação perto do terceiro do ato que pega qualquer um de surpresa, e para melhor. Keanu Reeves arrumou tempo durante as filmagens de “John Wick 3: Parabellum” para entregar pouco mais de cinco minutos de uma pura genialidade paródica de si mesmo. Méritos tanto do bom texto dado ao ator quanto do próprio Reeves, que age como a versão mais mala de si próprio e rende momentos absolutamente hilários. Suas supostas frases de efeito rebatem nos outros envolvidos nas cenas com um brilhantismo cômico fino que ilustra que este filme poderia ter sido algo realmente especial. E ainda rende uma música que toca durante os créditos que continua causando risadas.

“Meu Eterno Talvez” não veio para revolucionar as comédias românticas, mas mesmo não conseguindo achar uma boa consistência na comédia, acerta bem no romance. Chegando numa nova leva de obras do gênero que tenta revitalizá-lo, cumpre seu papel de divertir e emocionar.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe