Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 28 de maio de 2019

Resgate em Malibu (Netflix, 2019): melhor ficar no fundo do mar

Filme da Netflix sobre adolescentes que treinam para ser guarda-vidas juniores na praia de Malibu escorrega num roteiro preguiçoso e apressado, atuações canastras e piadas sofríveis.

Resgate em Malibu” é um pequeno longa-metragem de uma hora e nove minutos que estreou em maio de 2019 na Netflix para servir de introdução à vindoura série de mesmo nome numa nova tentativa da empresa de streaming para conquistar público interessado em conteúdo amigável a toda a família. Honestamente, há uma grande variedade de outros produtos que não tratam seus espectadores como idiotas.

Aqui temos a história de Tyler (Ricardo Hurtado, da série “School of Rock”), adolescente mais ou menos rebelde com dificuldades de relacionamento com seu padrasto Roger (Jeff Meacham, “Acabando com o Sossego”), que o inscreve no projeto de guarda-vidas juniores da praia de Malibu na esperança de que isso ponha o enteado na linha.

O tom altamente infantil da obra não justifica o roteiro com furos do tamanho de crateras e a enorme imbecilidade com que trata o que tenta se passar como humor. Em vários momentos, a história se contradiz, o que acontece numa frequência impressionante para um filme tão curto. O diretor Savage Steve Holland (“Rufus 2”) parece ter feito a escolha de investir na comédia e, com isso, deixar a narrativa básica de lado. Além de ser uma decisão errônea, o que tenta se passar por cômico na obra se transforma num festival de vergonha alheia poucas vezes testemunhado.

Os atores são caricatos e interpretam personagens unidimensionais. O desenvolvimento dos personagens é praticamente nulo e as resoluções, quando aparecem, são do mais absoluto nada. Apenas o protagonista tem uma trama com início, meio e fim, mas tudo atropelado por piadas sem graça, resultando numa total falta de impacto. Temos aqui a presença de Ian Ziering, o Steve de “Barrados no Baile” que também é estrela de vários filmes da franquia “Sharknado”. É um ator que poderia trazer algo de divertido ao longa, mas também é jogado num antagonista besta com motivações estúpidas que resultam em piadas forçadas.

Não ajuda o filme ser tão previsível. Há diversos casos de obras com enredo facilmente adivinhados, mas que mesmo assim rendem bons longas por apresentar uma jornada bem executada. Não é o caso aqui. A sensação de que faltam partes importantes no desenvolvimento dos personagens dura do início ao fim. Parece um compilado de cenas isoladas com as mesmas pessoas, mas sem a coesão necessária para dar chance ao público de se conectar com alguém.

O baixo valor de produção só piora a experiência. Há, basicamente, um único cenário que é a praia, que parece minúscula. Há um caranguejo mecânico (mal) usado em piadas que não funcionam e há uma cena de perseguição tão mal montada e com uma música tão brega que levará centenas de mãos ao encontro das testas de seus donos.

“Resgate em Malibu” veio para conquistar fãs para a série que estreia pouco tempo depois de seu lançamento, mas um humor sofrível, personagens entediantes, atuações canastríssimas, trama altamente previsível e roteiro preguiçoso acabam resultando num filme cansativo, chato e simplesmente mal feito que não ajuda a ganhar os corações de novos fãs.

Bruno Passos
@passosnerds

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