Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de maio de 2019

Adam Sandler: 100% Fresh (2018): de volta às raízes [ESPECIAL]

O comediante sobe aos palcos para esse especial da Netflix, onde entretém o público com várias composições divertidas, boas piadas e outras para americano entender.

Goste ou não do tipo de humor dele, uma coisa você tem que admitir: Adam Sandler (“Mistério no Mediterrâneo”) é sinônimo de sucesso com o público. Alguns filmes recentes não tem feito jus ao legado do ‘Didi Mocó americano’, mas com o objetivo de provar que ainda tem muito potencial para entreter uma grande plateia, o ator volta ao ponto de partida de sua rentável carreira em “Adam Sandler: 100% Fresh”. Trata-se de um especial de comédia musical que remonta várias apresentações do seu retorno aos palcos e traz um Sandler afiado nas composições, um tanto irregular nas piadas, porém, muito honesto, livre, leve e solto para fazer o que bem entender. Encomendada pela Netflix, casa onde ele continua tendo liberdade total para investir no questionável humor escatológico, ele encontra mais uma vez a chance de conversar e divertir o público carente de um bom besteirol americano.

Imagine um filme de Adam Sandler transformado em musical. Durante pouco mais de uma hora de show, ele entrega aos espectadores piadas de todos os estilos, desde idosos, passando por advogados alcóolatras e até um flerte com um homem dentro de uma montanha-russa. Essas rendem momentos engraçados ou minimamente sorridentes, o que não se pode dizer o mesmo quando ele resolve trazer o sexo oposto para a conversa. Regularmente usando a própria mulher como ferramenta para arrancar risos, acaba deslizando no machismo e em um nonsense ofensivo nada risível. Quem acompanha as produções de Sandman talvez nem se espante. No entanto, são os números musicais que empolgam de verdade e revelam o melhor do humorista que, para quem não sabe, é um compositor de notável criatividade tendo gravado cinco discos de comédia, dois deles inclusive indicados ao Grammy.

Precisão vocal aqui não é obrigatoriamente essencial, mas com sua voz, por vezes estridente, Sandler entoa hinos, que mesmo traduzidos para o português mantêm o ritmo e o impacto na hora de conseguir boas frases de efeito. Destaque para alguns temas como “Bar Mitzvah Boy”, no qual relata a experiência pessoal de quando realizou a famosa cerimônia de origem judaica; “Station 69”, cantada ao lado do parceiro de longa data Rob Schneider (“The Ridiculous 6”) sobre a relação amistosa entre dois astronautas; “Phone Wallet Keys”, um rap bem encenado pelo ator que alerta sobre o costume de carregar consigo apenas o celular, a carteira e as chaves, afinal, na sua visão, do que mais um homem precisa? “We Need a Hero”, uma das melhores sacadas do texto dele, cujo objetivo é criar heróis malucos na vida real; “UFC Ears” e sua pegada futurística brindam o público com uma letra genial sobre… Bem, você já percebeu.

Mesmo no meio de tantas canções divertidas e de humor certeiro, assim como faz em seus filmes, Sandman também mistura nesse especial o riso com a emoção. Se em suas produções esse blend não alcança seu ápice, ao menos aqui ele é capaz de evocar um efeito mais acurado. O momento em questão surge com o tributo ao falecido ator Chris Farley, conhecido por filmes como “Um Ninja da Pesada”. Ilustrado por um painel com imagens antigas do melhor amigo e cara mais engraçado que já conheceu, segundo o próprio Sandler, é sem dúvida a sequência em que o ator se encontra mais vulnerável e sincero. Daí sai o poder emocional da letra, que versa sobre os bons tempos que compartilharam no programa de TV “Saturday Night Live” até a tristeza de enterrar o companheiro, morto por overdose de droga em dezembro de 1997, aos 33 anos. Para encerrar o musical de comédia, outra criação com potencial para estourar o fofurômetro e em que agradece à mulher e às filhas pelos anos juntos.

Com material gravado em mais de 40 cidades ao redor dos Estados Unidos, “Adam Sandler: 100% Fresh” coloca seu protagonista de volta às raízes a fim de reafirmar o seu talento e carisma para comandar um show solo repleto de atos memoráveis. A direção de Steven Brill (“Sandy Wexler”) e Nicholaus Goossen (“Queridinho da Vovó”) executa um trabalho pontual, sem rodeios e transformando a câmera num mero espectador móvel, diferente da montagem, que num vai e vem ágil passa pelos vários shows com fluidez e habilmente faz seus cortes. Um musical de comédia que serve como boa porta de entrada para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de ver a figura principal onde tudo começou, ao passo que é capaz de agraciar os fãs e apreciadores do comediante devido ao estilo já conhecido dele, presente em todas as suas piadas. A plateia ri em alto e bom som, o que revela o poder de Sandman, ainda que você o questione. Vale a pena conferir essa pérola!

Renato Caliman
@renato_caliman

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