Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de maio de 2019

Entre Vinho e Vinagre (Netflix, 2019): grande elenco, grande decepção

O primeiro filme de Amy Poehler como diretora para a Netflix fica preso aos clichês e aos estereótipos.

Sem querer comparar, mas já comparando, “Entre Vinho e Vinagre” utiliza exatamente a mesma fórmula usada por Adam Sandler nos seus filmes para a Netflix. Em seu primeiro longa para um grande público como diretora, Amy Poehler (da série “Parks and Recreation”) parece focar em três tópicos para realizar o processo. O primeiro passo é a reunião de um grupo de velhos amigos, que já tem diversas piadas internas, permitindo muito espaço para improvisos. O segundo passo é o humor físico e as piadas rápidas. O terceiro e último, é a impressão de que todos os personagens estão se divertindo muito mais que os espectadores.

O filme conta a história de um grupo de amigas que se reúne para comemorar o aniversário de 50 anos de Rebecca (Rachel Dratch, “Lá Vêm os Pais”). Abby (Poehler) é a responsável por planejar cada parada do Vale de Napa, uma zona vinícola dos Estados Unidos localizada no condado de Napa, na Califórnia. O grupo é formado por Catherine (Ana Castever, da série “Os Goldbergs”), Naomi (Maya Rudolph, de “Crimes em Happytime”), Val (Paula Pell, da série “Love”) e Jenny (Emily Spivey, da série “Parks and Recreation”). Com pouco tempo de tela, Tina Fey (da série “Unbreakable Kimmy Schmidt”) é pouco aproveitada, interpretando a dona da casa alugada.

O problema do filme é estrutural: a sustentação da história é inteira focada nos segredos e angústias que cada pessoa esconde. Entretanto, antes de chegar a um ponto em que as personagens evoluem, é preciso passar por muitas piadas ruins e previsíveis. Os estereótipos também estão em todos os cantos. Catherine, por exemplo, é o exemplo de workaholic que não deixa o trabalho de lado para aproveitar a vida. Não precisa ser um gênio do roteiro para imaginar qual é o final da personagem.

Quando a cena parece ter um potencial interessante, como o diálogo em que as protagonistas travam com um grupo de millennials, logo o roteiro descamba novamente para algo clichê. Nas primeiras falas do filme, já é possível entender que as personagens ainda estão aprendendo a lidar com o passar dos anos, mas nem essa questão do amadurecimento passa por um aprofundamento. Além da personagem de Tina Fey, Lady Sunshine (Cherry Jones, “Boy Erased – Uma Verdade Anulada”) e Devon (Jason Schwartzman, da série “Wet Hot American Summer”) também têm cenas que parecem que foram encaixadas em qualquer contexto do filme, feitas apenas para constar e preencher espaço.

As roteiristas Liz Cackowski e Emily Spivey, que trabalharam por um bom tempo no “Saturday Night Live“, têm dificuldades em transformar as piadas em uma história coesa, deixando a impressão de uma grande esquete do programa de comédia. Pelo elenco que tem, “Entre Vinho e Vinagre” tinha um enorme potencial para entregar uma obra muito mais eficiente.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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