Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de maio de 2019

Um Tira no Jardim de Infância 2 (2016): nostalgia barata e vazia

Filme tenta trazer a fórmula do original de 1990, mas atira no próprio pé ao apostar num modelo que jamais funcionaria com Dolph Lundgren e um roteiro raso e forçado.

No início do século XXI, muitos filmes inspirados em longas bem sucedidos dos anos 80 e 90 serviram de inspiração para várias obras, inclusive com sequências que vieram 20 ou 30 anos após o lançamento do original. Surfando a onda da nostalgia, Hollywood produziu trabalhos incríveis como “Blade Runner 2049”, outros medianos como “Caça-Fantasmas” e ainda alguns de qualidade sofrível como este “Um Tira no Jardim de Infância 2”.

Inspirada no longa de 1990 estrelado por Arnold Schwarzenegger, a sequência protagonizada por Dolph Lundgren (“Aquaman”) possui a mesma trama base: um policial durão precisa trabalhar disfarçado numa escola como professor de crianças, o que acaba se provando um teste de dificuldades nunca previamente imaginadas pelo oficial da lei. Essa premissa gerou situações inusitadas que funcionaram muito bem no início da década de 90, quando Schwarzenegger era o grande ídolo musculoso de filmes de ação e buscava fazer papéis cômicos que iam na contramão de sua imagem pública. Ver a figura do “Exterminador do Futuro” ser derrotado por mini-humanos era divertido por si só, sem contar com o fato de que o fisiculturista, mesmo sendo um fraco ator, trazia um carisma para a tela que só ele tinha. Tentar repetir essa estratégia com Dolph Lundgren se provou um erro. Primeiramente pelo básico: o sueco nunca teve o nível de sucesso do austríaco e sua imagem não é ligada a nenhum longa realmente famoso, então as nuances metalinguísticas que traziam um elemento divertido ao filme original simplesmente não têm efeito algum aqui. Outro problema é que Lundgren é pior ator e falha em cativar o espectador em qualquer nível.

Infelizmente, os problemas do longa vão muito além do ator principal. A cena inicial levanta a questão “será que é uma cena de uma novela de baixa qualidade que se passa dentro do filme?” de tão mal atuada e brega, com diálogos horrorosos que não parecem reais e uma iluminação tão artificial que causa estranheza. Esse é o ponto de partida para um conjunto de cenas mal montadas e carregadas de canastrices. A relação entre o protagonista e seu parceiro (Bill Bellamy, “Vencendo o Passado”) é risível e inútil, apresentando conflitos que não resultam em nada no desenvolvimento dos personagens. Aliás, há uma cena com Bellamy numa van em que ele encontra vilões que não faz o menor sentido.

Há também uma relação romântica que nasce entre o protagonista e uma das professoras da escola que não causa um pingo de empatia de tão forçada que é. Ao invés disso, o casal acaba causando um certo nível de constrangimento pela visível diferença de idade entre os atores – Lundgren é 30 anos mais velho. Quanto às crianças, atores mirins não costumam render boas interpretações e isso é provado aqui com os jovens humanos claramente recitando o texto. A cena em que uma delas “chorou” só provoca risadas porque é perceptível que colocaram lágrimas falsas em seu rosto.

Com baixo valor de produção, uma montagem confusa, roteiro previsível, diálogos bregas, personagens excessivamente caricatos e atuações canastras, “Um Tira no Jardim de Infância 2” é prova de que fazer uma sequência de um filme famoso de décadas anteriores não funciona apenas baseado em nostalgia.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe