Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 18 de abril de 2019

Cópias – De Volta à Vida (2018): uma boa ideia?

"Cópias - De Volta à Vida" é mais uma prova que nem mesmo um ator em alta e conceituado em Hollywood consegue salvar um roteiro preguiçoso.

Cópias – De Volta à Vida”, dirigido por Jeffrey Nachmanoff (“O Turista”) e roteirizado por Chad St. John (“Invasão à Londres”), traz o delicado tema que é replicar a mente humana para dentro de um robô, porém acaba deixando de lado toda a questão filosófica que existe por traz do assunto. A temática abordada pelo longa não é nenhuma novidade, e qualquer um que se aventure nesse assunto corre sempre o risco de acabar produzindo um conteúdo abaixo do esperado, seja por deixar detalhes mal explicados, ou por não entrar em discussões que o tema praticamente obriga a se fazer em histórias como a apresentada aqui.

Logo no início somos apresentados à infraestrutura da BIONYNE, a indústria que financia o projeto do neurocientista Willian Foster (Keanu Reeves, “John Wick: Um Novo Dia Para Matar”), que deseja executar pela primeira vez na história a transferência de uma mente humana para um corpo cibernético. Após inúmeras falhas, o diretor Jones (John Ortiz, “Bumblebee”) explica que a situação está insustentável e caso Will não apresente sucesso na execução do próximo experimento, seu grandioso projeto será encerrado, toda sua equipe será demitida e sua carreira estará arruinada. Não bastando a pressão que o cientista estava lidando, Willian acaba vendo toda sua família morrer diante de seus olhos em um trágico acidente, e agora que já não tem nada a perder, ele decide então trazer de volta à vida sua esposa, Mona Foster (Alice Eve, “Antes do Adeus”), e seus filhos.

Trazer os mortos de volta à vida nunca foi uma boa ideia (haja visto exemplos como “Cemitério Maldito”), mas deixando as comparações à parte, já que o longa está longe de ser um terror (a não ser pela sua fraca narrativa), a história é focada na temática do sci-fi, onde o homem brinca de Deus e “cria vida” através de clones. Aqui o filme já comete seu primeiro erro, já que ele esquece completamente de abordar o assunto dessa forma e acaba nos dando explicações rasas, sem nenhum grande questionamento sobre reviver seres humanos e nem ao menos pensar nas consequências que essa ação pode trazer a longo prazo.

O roteiro de “Cópias – De Volta à Vida” até tenta nos apresentar razões para que Willian consiga a ajuda de seu amigo, o também cientista Ed Whittle (Thomas Middleditch, “Loucos e Perigosos”), mas estas são tão incoerentes que rapidamente somos levados a pensar se não seria melhor assumir o luto pelas mortes do que acreditar que o único problema de criar clones seria ter que dar uma explicação plausível por algumas semanas de faltas ao trabalho da esposa de Will e faltas à escola dos seus filhos. A trama se torna ainda mais incoerente quando o filme tenta nos fazer acreditar que, além de criar um clone, é totalmente possível modificar suas memórias, sem nem ao menos pensar em todos os fundamentos que levaram até que uma determinada lembrança tenha vínculos diretos com a personalidade da pessoa em questão. As pessoas são diretamente afetadas e criam suas personalidades de acordo com as experiências de vida que tiveram, fazendo assim com que o roteiro tenha mais uma ponta solta.

O terceiro ato do filme, na tentativa de apresentar um plot que explicasse a possibilidade da criação de um clone de forma totalmente irresponsável e as facilidades para adquirir todas as ferramentas necessárias sem que ninguém tenha percebido o sumiço dos equipamentos milionários utilizados no processo, acaba mostrando uma tentativa apressada de arrumar todas as brechas que a obra deixou em aberto e ainda apresentar uma solução preguiçosa para que tudo acabe em um belo “final feliz”.

“Cópias – De Volta à Vida” nos confirma mais uma vez que nem mesmo quando se tem um bom ator no elenco, é possível salvar uma obra com um roteiro cheio de furos e uma execução que deixa a desejar. Com efeitos visuais fracos e uma trilha sonora quase que imperceptível, a produção deixou claro que boa parte do seu investimento foi usada para pagar o salário de Reeves, enquanto que o diretor teve que “se virar” com o restante dos “trocados”, para apresentar ao menos uma narrativa com o mínimo de coerência dentro da sua proposta – o que não significa que tenha conseguido.

Diego Souza
@diegoosouz

Compartilhe