Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 26 de abril de 2019

Tudo Por um Pop Star (2018): rebeldes sem causa

A nova adaptação de Thalita Rebouças para o cinema se baseia na força da amizade e na busca dos sonhos da adolescência.

Há muito tempo a sétima arte tem retratado músicos, bandas e cantores, sejam eles excêntricos, viciados, artísticos, talentosos ou irreverentes. O cinema brasileiro inclusive é um antro de cinebiografias, sendo algumas bem mais interessantes e ousadas. Surpreendentemente pouco se fala do outro lado, daqueles que ajudaram o artista a chegar lá e muitas vezes a se manter ou cair do pedestal: o lado dos fãs. A fim de retratar este lado, “Tudo Por Um Pop Star” acompanha a saga de três adolescentes apaixonadas pela boyband “Slavabody Disco Disco Boys” que vem pela primeira vez ao Brasil.

Assim, Gabi (Maísa Silva, “Cinderela Pop”) , Manu (Klara Castanho, “É Fada!”) e Ritinha (Mel Maia, “Crô em Família”) fazem de tudo para convencer seus respectivos pais a deixá-las sair do interior para o Rio de Janeiro com Babete (Giovanna Lancelotti, “Intimidade Entre Estranhos”), prima de Manu. Daí em diante se inicia uma saga maluca para conhecer e chegar o mais próximo possível dos garotos, uma jornada não somente cercada de loucura, mas de irresponsabilidade.

Com base no livro homônimo escrito por Thalita Rebouças (e roteirizado pela mesma), cada atitude das meninas ao saírem sozinhas em uma cidade desconhecida e entrarem em lugares proibidos quebra toda a confiança apoiada nos valores familiares. O filme de Bruno Garotti (“Eu Fico Loko”) usa o conflito de gerações para causar certa estranheza, fazendo piadas no processo – e como em todo filme cujo objetivo é entreter, algumas funcionam e outras não.

A produção demora demais para chegar ao ponto de conflito, que é quando as meninas finalmente vão para a bela cidade do Rio de Janeiro (com paisagens muito bem usadas por sinal) em busca de aventuras. Enquanto não engata, usa da boa química do trio protagonista, com destaque para o carisma envolvente de Maísa, mas esbarra na atuação forçada e afetada de Giovanna Lancelotti, sem contar as inserções do youtuber estereotipado Billy Bold de Felipe Neto (“Totalmente Inocentes”). Divertido quando decide ousar num combo “expectativa versus realidade” e na figura positiva da protagonista, o filme é cercado de coincidências narrativas. É como se tudo estivesse ali para acontecer da forma que sonharam, ao mesmo tempo em que a expectativa é sempre quebrada, o que acaba fortalecendo a amizade.

Até a inclusão de um trio rival e maligno parece perfeitamente saída de uma série teen, e a identificação com a situação ocorre devido a um fortíssimo sentimento de nostalgia. Afinal, quem nunca foi um jovem muito fã de algo ou alguém que atire a primeira pedra. Infelizmente um drama barato deixa tudo menos verossímil e mais exagerado, assim como as cenas musicais que se utilizam de um lip sync bem ridículo. Com um humor leve, ingênuo e por vezes bobo, ele é feito sob medida para o público infantojuvenil, “Tudo Por Um Pop Star” é um daqueles filmes de que já se sabe o final, o que não torna o caminho até ele mais fácil e prazeroso.

Tiago Soares
@rapadura

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