Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 28 de abril de 2019

Cemitério Maldito (1989): o medo que vem da perda [CLÁSSICO]

A adaptação do clássico livro de Stephen King pode não ser um dos melhores filmes de terror da história, mas é eficiente, cumpre seu papel e não decepciona.

O terror existente na literatura do Stephen King, embora vasto na execução, tem elementos bem recorrentes. Em sua grande maioria, envolve crianças e isso não é por mero acaso. Do ponto de vista infantil, qualquer sombra pode se tornar um monstro. Do ponto de vista adulto, é perturbador ver o mal dominar um ser inocente. Esse incômodo, independente de onde ele venha, é a essência de tudo o que há mais terrível em “Cemitério Maldito”.

A adaptação do livro homônimo acompanha a família Creed, que se muda para uma nova casa nos arredores de Chicago. O local é perfeito, apesar dos inúmeros caminhões que vivem fazendo barulho na estrada e do misterioso cemitério no bosque atrás da casa. Quando o gato da família morre atropelado, eles o enterram em um cemitério indígena que tem o poder de ressuscitar o que for deixado naquele terreno, mas as consequências são inimagináveis.

As dores da perda e a dificuldade de saber lidar com a morte são os temas centrais aqui, numa mistura de drama e terror que ao mesmo tempo conduzem o filme e criam os principais conflitos da trama. Incorporando muito do texto original, Stephen King, que assina o roteiro do filme, parte sempre de um drama pessoal para a construção do medo. Isso ocorre do vizinho da família, Jud Crandall (Fred Gwynne, “Meu Primo Vinny”), do passado de Rachel Creed (Denise Crosby, “Impacto Profundo”) e, naturalmente, do protagonista Louis Creed (Dale Midkiff, “O Corvo: Salvação”) com a morte do filho.

A direção de Mary Lambert (“Cemitério Maldito II”) tem pouco destaque. A diretora não demonstra ter dificuldades com o gênero e conduz as cenas mais tensas com elegância, mesmo sem impressionar na criatividade. Montagem e trilha estão ali para cumprir uma função, que no final entregam o que propõem. As cenas noturnas no cemitério são angustiantes e o ataque final tem uma belíssima execução. Porém, nos momentos de maior drama a obra perde um pouco do brilho, tanto pela pressa quanto pela superficialidade do texto.

Olhar para “Cemitério Maldito” depois de algumas décadas ainda é relevante, em especial pela eficiência e pelo poder de seu terceiro ato, que revela pouco e cria uma angústia incômoda. As lentes parecem saber tão pouco do que está acontecendo quanto os próprios personagens. Esse sentimento potencializa o terror do que está por vir, por mais que algumas resoluções de roteiro soem forçadas – mais uma vez, a pressa da montagem prejudica o resultado aqui. Ainda é um filme com bons efeitos práticos, um texto interessante e que revela as consequências de não saber lidar com a perda. Nesse sentido, a obra se mantém interessante e, se relevado o ritmo pouco ágil de algumas sequências, segue como um ótimo exemplar do hoje nostálgico terror do final dos anos 80, assim como uma boa adaptação de um dos romances mais terríveis de Stephen King.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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