Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 31 de março de 2019

Os Defensores (Netflix): épico desperdício [SÉRIE]

A esperada reunião dos heróis da Marvel nas séries da Netflix não rendeu os frutos que poderia. Com uma trama boba e confusa e desperdícios de vilões, o supergrupo sai por baixo no que é um mar de oportunidades perdidas.

Os Defensores é a quinta série da parceria entre Marvel e Netflix (que na verdade é produzida pela ABC) e junta os protagonistas Demolidor (Charlie Cox, “A Teoria de Tudo”), Jessica Jones (Krysten Ritter, “O Herói”), Luke Cage (Mike Colter, “Superação – O Milagre da Fé”) e Punho de Ferro (Finn Jones, “Massacre no Texas”) depois de suas temporadas individuais no mesmo esquema do Universo Cinematográfico da Marvel (com os filmes solo dos heróis antecedendo “Os Vingadores”). No cinema, isso ajudou muito o longa do grupo a ter sua história própria bem desenvolvida e resultou numa obra fantástica e empolgante. Aqui… não foi bem assim.

Não que seja um lixo, mas é apenas mediana. E como é um pecado que a junção desses heróis é menos que ótima, a série sofre. Há ausência de coesão – elementos são apresentados e depois ignorados ou jogados no ventilador. Veja por exemplo como a personagem da Sigourney Weaver (“Sete Minutos Depois da Meia-Noite”) é apresentada e como seu arco termina. É um desperdício de uma antagonista interpretada por uma atriz imponente.

As cenas de luta também têm seus problemas. São sim um grande avanço depois da primeira temporada de “Punho de Ferro, que causou vergonha alheia generalizada, mas há uma falta de conexão na demonstração dos poderes que desliga o espectador da cena. Há inimigos que saem voando com socos de pessoas que nunca foram apresentadas como tendo super força e personagens com esse superpoder que parece estar constantemente ligando e desligando. Uma cena de briga numa garagem que era para ser épica fica escondida numa edição excessivamente picotada e cheia de ângulos fechados. É difícil de acompanhar e tira toda a empolgação que deveria ter tido.

Há personagens que aparecem… à toa. Não fazem absolutamente nada pela narrativa ou pelo avanço da trama. Conseguir ter uma bela barriga numa série de apenas oito episódios é um feito do qual não devem se orgulhar. O Tentáculo é o grande vilão e é onde o roteiro perde o cerne. A temporada começa dizendo que eles querem uma coisa, depois é outra, depois o objetivo é uma terceira coisa. É tudo tão confuso que é triste. Poderia ser uma grande ameaça, mas se perde na ausência de coesão e num plot twist simplório e vexaminoso. Elektra retorna e sua volta até faz sentido. Ela tem boas cenas de luta, mas a atriz Élodie Yung (“Dupla Explosiva“) não rende. A cara de ameaça dela é como olhar de peixe morto, parecendo estar com sono ou sedada. A personagem já havia sido mal desenvolvida na segunda temporada de “Demolidor, e aqui a chance de redimir os erros foi desperdiçada ao repeti-los.

Mas há coisas boas. Quando as cenas trocam entre as localidades em Nova York, as transições são feitas por imagens do metrô andando, ligando os locais, ilustrando que a cidade é um organismo só. A série trabalha com cores para os personagens, vermelho para o Demolidor, azul para a Jessica Jones, amarelo para Luke Cage e verde para Punho de Ferro, sempre com elementos na tela ou com a própria luz acompanhando as cores de quando eles estão em cena. É um elemento interessante que dá identidade visual para cada um, mesmo com a mão pesada da fotografia.

Se Colter foi um armário em sua série e Jones seguiu a baixa qualidade da sua, aqui eles estão funcionais. Não há cena que exija muito do Luke Cage emocionalmente e o Punho de Ferro está… menos irritante. Entretanto, um dos poucos acertos é a química entre os dois. Saber que os dois personagens têm história trabalhando juntos nos quadrinhos enriquece-os e chegou a levantar esperanças de que saísse um spin off, com o título “Heróis de Aluguel” como nos quadrinhos. Poderia ter funcionado bem, mas nunca saberemos.

A dinâmica entre os protagonistas tem seus momentos. O fato de cada um ver a história de talvez se juntar em um grupo de maneira diferente os torna indivíduos distintos, todos lidando com seus fantasmas. Há alguns bons diálogos, mas nada que salve a série, que é um poço de boas oportunidades desperdiçadas. É fraca, decepcionante e, depois de ter começado com o pé direito com “Demolidor e “Jessica Jones, é desmotivador ver que a qualidade das séries Marvel na Netflix ficaram tão baixas.

 

Bruno Passos
@passosnerds

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