Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de março de 2019

Crítica | Andar Montar Rodeio – A Virada de Amberley (Netflix, 2019): feito para a Sessão da Tarde

Nova cinebiografia da Netflix usa uma história real de superação para seguir uma fórmula convencional e melodramática.

O cinema americano está lotado de filmes de superação, feitos sob medida para a TV. Todos eles são curtos, dotados de uma trilha sonora feita especialmente para emocionar e atuações que não exigem tanto do seu elenco. Em “Andar Montar Rodeio – A Virada de Amberley“, todo este contexto ganha o agravante de ser um filme country, com uma visão particular tanto nas músicas, como na forma em que é filmado. Amberley Snyder (Spencer Locke, “Sobrenatural: A Última Chave”) tem seus sonhos interrompidos por um acidente que a deixa paraplégica, impedindo-a de seguir carreira nas competições de rodeio e de tentar uma bolsa de estudos na faculdade local.

Inspirado na história da verdadeira Amberley, a cinebiografia é cativante e não podemos reclamar da intensidade do longa de Connor Allyn (“Overexposed”). Seguindo a cartilha de filmes do canal Disney Channel, a proposta parece ser exatamente essa, trazendo uma protagonista romântica que a cada minuto olha para o horizonte com um semblante sonhador, tudo acompanhado por uma trilha sonora country pop super bem empregada. A fotografia é soberba, emulando as belas paisagens desérticas de Utah no oeste dos Estados Unidos. No entanto, algumas sequências pecam pelo exagero de dramaticidade, como na cena do acidente, que beira ao risível.

As atuações também não são nada memoráveis, forçando momentos que praticamente imploram para que a audiência chore. A cada desafio que a protagonista enfrenta em “Andar Montar Rodeio”, surge um maior ainda em seguida e sua teimosia implica numa não-evolução de personagem, o que claramente é um artifício para justificar a duração do filme. As cenas de competição (gravadas pela Amberley real) trazem certa veracidade, apesar de algumas terem saído diretamente de um videoclipe, demonstrando que obras de superação sempre vão esbarrar em todos os clichês possíveis.

O texto dos estreantes Sean Dwyer, Dan Goforth e Greg Cope White não foge do lugar-comum, sendo possível prever o que cada personagem vai falar em seguida. Apesar disso, o caráter motivacional da obra não deve ser menosprezado, já que a história de Amberley é bonita e encorajadora. A segunda chance que dá a si mesma, quando tudo vai contra suas expectativas, é o que há de mais chamativo, embora o filme aborde de maneira rasa algumas questões sobre responsabilidade e limites, tornando perceptível a linha tênue entre ser sonhador e realista.

A cereja do bolo de “Andar Montar Rodeio” é a inclusão de um interesse amoroso que surge do nada e leva a lugar algum, tornando-se algo superficial num roteiro que, até então, apostava no seguro. É irônico afirmar que o filme da Netflix acerta justamente quando Amberley faz aquilo que ama, mas vira um melodrama barato quando ela desce do cavalo.

Tiago Soares
@rapadura

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