Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Siberia (2018): nem pelos diamantes, nem pela mulher

O que era pra ser um thriller de tráfico de diamantes resulta em um romance desafeiçoado. Nem a carga do cinema de ação de Keanu Reeves define o propósito da produção.

O princípio natural de se contar uma história é saber onde se quer chegar, sendo assim, espera-se que o filme apresente a trama e desenvolva a narrativa conduzindo os personagens a um ponto. Contudo, esse não é o caso de “Siberia“. Mesmo com a presença do astro Hollywoodiano Keanu Reeves (“John Wick: Um Novo Dia Para Matar”), o longa não decide que caminho seguir, resumindo-se a planos do protagonista fazendo a tradicional expressão de si mesmo por cenários gélidos da Rússia – em mais um papel de filme estrangeiro aceito pelo cachê. O diretor Matthew Ross (de “Frank & Lola”) faz um desserviço ao cinema em não extrair nada em nenhum aspecto da produção.

Lucas Hill (Reeves) é um negociador ilegal de diamantes que parte para a Sibéria em busca de Pyotr (Boris Gulyarin), seu sócio desaparecido. Somos introduzidos em uma trama já em curso, sem qualquer explicação do que houve com o parceiro. Assim que chega, ele acaba deixando de lado os motivos que o levaram até lá e se envolve com Katya (Ana Ularu, de “Inferno”), o que acaba complicando seu envolvimento com Boris Volkov (Pasha D. Lychnikoff, de “O Amanhecer do Quarto Reich”), o chefe do tráfico que o protagonista deve os diamantes.

A primeira metade do longa gira em torno de Lucas procurando Pyotr por São Petersburgo. Existe uma insinuação de mistério por trás do desaparecimento, mas a questão não vai a lugar algum e a resolução não vem à tona, pois o tal Pyotr é deixado de lado no meio da trama. Prosseguindo, o protagonista vai a um bar e conhece Katya, a russa solteira que é protegida pelos irmãos durões. Depois de apanhar no estacionamento, Lucas é levado para passar a noite na casa de Katya. Eles começam a se envolver, o que gera ciúmes dos irmãos e vizinhos. Mais uma vez a narrativa propõe outro conflito sem resolução.

A dupla não tem química em tela, e os diálogos vazios evidenciam ainda mais a precariedade do roteiro. Não há o exercício de atuação, eles só observam as demais encenações. Em um breve momento, é revelado que Lucas é casado e sua esposa aguarda seu retorno. E tal cena parece ter sido incluída apenas para impor gravidade nas excessivas cenas de sexo com Katya. Na segunda metade o semblante dos protagonistas revela que eles não tem a menor ideia de suas motivações, ou para onde a história vai. A resolução, além de preguiçosa, extirpa toda a esperança de que o fim seja impactante ou, ao menos, contenha uma sequência de ação apreciável.

“Siberia” não entrega suspense e nem ação. É tão lamentável na carreira de Reeves que não deveria ter acontecido. O ator tem desfrutado de sua boa fase por causa do sucesso da franquia “John Wick”, que por sinal, é um personagem completamente oposto a Lucas por ter atitude e ser objetivo. Não precisavam ter ido na Rússia para gravar um filme tão inexpressivo e, assim como a busca pelos diamantes, não levar ninguém a nada. Foi um mal negócio dentro e fora das telas, a única perspectiva positiva é que tudo será congelado e esquecido.

Jefferson José
@JeffersonJose_M

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