Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Escape Room (2019): tente sair e resistir ao jogo

Inspirado pelas famosas salas de fuga e combinando elementos de diversos thrillers de sucesso, "Escape Room" é um filme imperdível para o grande público jovem.

Se você nunca experimentou um “Escape Room” e é fã de enigmas, você não sabe a diversão que está perdendo. De qualquer modo, não se preocupe. O filme dirigido por Adam Robitel (“Sobrenatural: A Última Chave”) apresenta todos os principais aspectos do jogo de uma maneira muito segura para o espectador, só nem tanto para os participantes do desafio na telona. Na trama de suspense, seis pessoas recebem um misterioso convite para experimentar a mais nova e imersiva sala da Minos Escape Rooms. Mas ao aceitar, o grupo subestima perigosamente o nível de “imersão” que a empresa propõe oferecer.

Não se atrase para a sessão, porque o filme já começa em alta velocidade com um rapaz tentando sair de uma sala tão mortífera quanto uma armadilha de “Indiana Jones”. A mensagem “acta est fabula” na parede (expressão semelhante a “game over” em latim) sugere que este prólogo é na verdade parte do final. De fato, a história continua três dias antes e descobrimos mais sobre Ben (Logan Miller, “Como Sobreviver a um Ataque Zumbi”), o rapaz que tentava escapar. Parece um grande spoiler, mas nada como uma montagem má intencionada e narradores não confiáveis para subverter um pouco as expectativas do público.

No conjunto dos protagonistas, temos Zoey (Taylor Russell, da série “Perdidos no Espaço”), uma estudante excepcional, porém, fechada e insegura, já que sofre com transtornos e pesadelos de um passado traumático. Seu professor tenta motivá-la a lidar com seus medos e logo ela recebe o convite para o “jogo”. Para os cinéfilos de plantão, a semelhança com a trama de “Vidas em Jogo” não é à toa, pois o longa de David Fincher serviu de inspiração para “Escape Room”. E falando em inspiração, não faltam comparações com outras obras. Sua estrutura é construída a partir da combinação de diversos thrillers já vistos, e o fato dos roteiristas inserirem referências diretas na voz dos personagens, citando “Karate Kid”, “Rain Man” e “Psicopata Americano” por exemplo, só comprova que são muito bem alfabetizados em cinema pop e qualquer semelhança com outras histórias não é mera coincidência.

Antes do esperado desafio começar, o filme ainda investe tempo para introduzir outros três jogadores que se juntam a Zoey, Ben e Amanda, personagem que se destaca pela interpretação de Deborah Ann Woll (da série “Demolidor”). O roteiro não é digno de prêmios, pois nem o tema dos populares “escape rooms” é inédito, entretanto, pelo menos dois atributos funcionam bem. Primeiro, apesar de todos serem personagens com poucas dimensões, ou “rasos” como queiram, pequenas dicas sobre o passado deles são dadas por detalhes nas falas, reações e rápidas cenas inseridas. Eles próprios são divertidos quebra-cabeças a serem montados pelo espectador. E segundo, mesmo combinando elementos de sanguinolentas franquias como “Jogos Mortais”, “O Albergue”, “Cubo” e “Premonição”, o longa não abusa do terror e da violência gráfica, permitindo que adolescentes possam vê-lo sem se preocupar com classificação indicativa. De certa maneira, a obra até importa características de “filmes de competição” mais leves, como “Tá Todo Mundo Louco” e “Quem Quer Ser um Milionário?”.

Quanto ao grande motivo central, as criativas e emocionantes salas, elas são tão práticas como qualquer “escape room” espalhada pelo mundo… se todas tivessem um gigante orçamento cinematográfico. Por outro lado, a experiência na tela lembra demais a tensão e os desafios dos jogos reais, como resolver charadas, trabalhar em equipe, buscar pistas, usar objetos inusitados e passar por caminhos apertados para escapar. Só que sem (tanto) risco de perder a vida, é claro. A exceção foi um incêndio acidental que deixou vítimas na Polônia e que, por respeito, adiou o lançamento do filme em alguns países.

À medida que a história se aproxima do final, infelizmente, parece que ela corre para um desfecho. É compreensível quando não se tem mais bom material para trabalhar na montagem, mas ainda assim é um problema. Para ouvidos afinados, também são evidentes muitas dublagens. A técnica de inserir diálogos após o fim das gravações é bastante comum no cinema, mas deveria ser sempre imperceptível como meta. Apesar de não ser um grande thriller como muitos que ele referencia, “Escape Room” é garantia de diversão para uma audiência despretensiosa, além de ser um grande convite a testar as famosas salas que são febre no Brasil e no mundo todo.

William Sousa
@williamsousa

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